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As reações do mercado às eleições brasileiras

Professor do IMD de Lausanne (Instituto de Management e Desenvolvimento), o brasileiro Carlos Braga explica porque ele acha que o Brasil corre o risco de virar uma “piada de humor negro” se o governo do país não adotar uma nova abordagem da economia.

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Por Por Carlos A. Primo Braga

Após as eleições presidenciais mais disputadas no Brasil desde o retorno da democracia em 1985, a presidente Dilma Rousseff foi reeleita com 51,64% dos votos. As eleições mostraram vitalidade e eficiência, enquanto as campanhas foram divergentes e repletas de acusações de corrupção, incluindo alegações de subornos relacionados com contratos lucrativos com a Petrobras, a companhia estatal de petróleo, corroendo ainda mais a confiança no governo.

Tanto a presidente quanto o oponente Aécio Neves reagiram aos resultados de forma madura, mas os mercados não receberam bem a notícia. Em 27 de outubro, o mercado acionário brasileiro (Ibovespa) caiu 2,77%, com as ações da Petrobras despencando drasticamente (menos 12,33%). O real desvalorizou 2,68% em relação ao dólar, apesar das intervenções do Banco Central.

Já vimos este “filme” antes. Em 2002, os mercados reagiram negativamente às perspectivas de uma vitória do Partido dos Trabalhadores (PT), da presidente Dilma. Tanto assim, que a administração do então presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu neutralizar os temores da vitória de Luís Inácio Lula da Silva garantindo um enorme empréstimo do FMI de cerca de 30,4 bilhões de dólares. Isso ajudou a acalmar as preocupações do mercado, e uma vez que Lula foi eleito, o “medo do desconhecido” foi rapidamente domado, já que o novo governo sinalizou a manutenção de uma abordagem macroeconômica conservadora com o anúncio de suas políticas monetárias.

Professor Carlos Braga IMD

Insanidade

O “script” de hoje é diferente, mesmo se as reações do mercado são semelhantes. O que está movimentando os mercados não é o medo do desconhecido, mas o “medo do conhecido”, como alguns analistas já observaram. Em outras palavras, as perspectivas que Dilma continue com um modelo de desenvolvimento insustentável e as políticas macroeconômicas relacionadas estão promovendo as reações negativas do mercado.

O atual modelo brasileiro, com sua tendência orientada para o mercado interno, depende do crescimento do consumo impulsionado pela redistribuição de renda e a expansão do crédito. Sob condições externas favoráveis, tal modelo pode produzir resultados (particularmente na parte da frente eleitoral) por algum tempo. Ele atingiu seus limites, no entanto, por causa de suas implicações negativas para o investimento e o crescimento da produtividade.

Hoje, não há necessidade de um apelo ao FMI. Com reservas cambiais abundantes, acumuladas através do boom das commodities dos últimos anos, o Brasil se manterá estável no futuro próximo.

Ainda assim, o sentimento do mercado pode ser bastante perturbador. Até que sinais claros de uma estratégia econômica reformulada forem dados (incluindo o anúncio de um nome credível para o cargo de Ministro da Fazenda), os mercados vão continuar a se comportar mal.

Dilma pode ser tentada a adotar uma estratégia parecida para seu segundo mandato, mas isso traz à mente a definição popular de insanidade (atribuída a Einstein) de “repetir a mesma coisa esperando obter resultados diferentes”. Em suma, o “retrato” atual pode se tornar uma piada de humor negro para a sétima maior economia do mundo, se Dilma não adotar uma nova abordagem.

Carlos A. Primo BragaLink externo é professor de Economia Política Internacional no IMD, e diretor do The Evian Group@IMDLink externo. Ele ensina no programa Orchestrating Winning PerformanceLink externo.

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