“A presença da Nestlé será cada vez mais forte”
Momentos antes da inauguração da 31ª fábrica da Nestlé no Brasil, no dia 18 de novembro, o presidente da empresa, Ivan Zurita, conversou com a reportagem da swissinfo.ch e com um grupo de jornalistas.
Leia abaixo trechos da conversa na qual Zurita aborda temas como a longa história da Nestlé no país, os planos de expansão da empresa e a expectativa de crescimento do mercado nacional, o fortalecimento da cadeia produtiva e a relação com a matriz na Suíça:
swissinfo.ch – O que representa para a Nestlé a inauguração de uma nova fábrica no Brasil e, em particular, no Rio de Janeiro?
Ivan Zurita – O Brasil hoje é o segundo mercado da Nestlé no mundo, em volume e em faturamento, atrás apenas dos Estados Unidos. A filial brasileira mais importante, por sua vez, é a do Rio de Janeiro, seguida por São Paulo.
O carioca consome um volume muito importante dos produtos Nestlé, e a nossa presença no Rio será cada vez mais forte, considerando o potencial de desenvolvimento do estado. Em termos de comercialização, o Rio é muito importante para os nossos negócios, nós geramos um grande volume de impostos para o estado.
O Brasil tem também um tremendo potencial no setor que nós chamamos de base da pirâmide. São as classes sociais menos favorecidas que, felizmente, começam a participar do mercado de consumo. Isso tem gerado um crescimento brutal [no mercado brasileiro], e o Rio de Janeiro aponta para um crescimento muito importante. Isso justifica a nossa presença cada vez maior aqui.
swissinfo.ch: Por quê a escolha da cidade de Três Rios para a instalação da nova fábrica?
Temos todos os estados brasileiros muito bem mapeados, levando em consideração potencial econômico, formação da população e, logicamente, a cadeia de distribuição.
O Rio de Janeiro é o mercado com o maior potencial para bebidas líquidas do Brasil. Em segundo lugar, tivemos todo o apoio do Governo do Estado desde o início.
A escolha por Três Rios se deu porque o prefeito foi o mais agressivo, no bom sentido, e nos mostrou o potencial da região leiteira, que já foi muito mais importante do que é hoje, mas que não deixou de ter capacidade de superação e de recuperação. A Nestlé, com seus programas de fomento, vai ajudar nesse desenvolvimento.
swissinfo.ch: Qual o desenvolvimento esperado para a cadeia produtiva da região?
Essa fábrica considera uma captação de um milhão de litros de leite por dia. Estamos hoje ao redor de 200 mil litros de recepção e produção, mas ela está prevista para um milhão de litros. Isto significa que nós vislumbramos um crescimento importante da produção leiteira na região para atingirmos essa meta. Além disso, vamos gerar mil empregos adicionais diretos e indiretos.
A expectativa é que cada emprego direto da nossa cadeia produtiva gere em média, no mínimo, dez indiretos. Então, vamos arrancar com mil pessoas, mas, partindo de 200 mil litros para um milhão diários, nós vamos quintuplicar essa necessidade de colaboradores que se incorporarão à nossa cadeia produtiva.
swissinfo.ch: E os produtores locais estão preparados para atender à demanda da Nestlé?
Logicamente que você não vai processar um milhão de litros de um dia para o outro. É preciso um pequeno trabalho de mapeamento. Quando nós aprovamos o projeto, em paralelo à construção da fábrica já começamos a adquirir leite na região e transferir para nossa fábrica de Araraquara (SP) a fim de alinhar sua qualidade para que no momento do arranque da nova fábrica ele já estivesse nos padrões estabelecidos pela Nestlé para seus fornecedores.
Nós levamos suporte técnico e mão-de-obra especializada para a formação de pessoal e dos produtores. A Nestlé tem uma equipe que atende e orienta os produtores, buscando uma maior produtividade, pasto e temperatura adequados, todo o manejo do gado, resfriamento do leite, etc. Enfim, são técnicas que nós adotamos no Brasil inteiro e são premissas básicas de qualidade para produzir em qualquer parte do território nacional.
swissinfo.ch: A Nestlé pretende ampliar ainda mais sua produção de leite no Brasil? Alguma nova fábrica já está planejada?
Nós temos interesse no Brasil todo. O epicentro da produção de leite mudou. Hoje, nós estamos captando leite até no Nordeste, que antigamente não se imaginava que pudesse ser produtor de leite. Felizmente, hoje é assim.
O Brasil mudou e, felizmente, mudou para melhor. Essa é a 31ª fábrica, e nós temos um plano de investimentos de R$ 500 milhões só para novos projetos e expansão de capacidade, sem considerar a construção de novas unidades ou possíveis aquisições que venham a ocorrer. A Nestlé está olhando com lupa as oportunidades no Brasil inteiro. Em 2001, a Nestlé Brasil teve um faturamento de R$ 4,6 bilhões. Este ano, nós pretendemos chegar a R$ 20,5 bilhões. Isso mostra a crença do grupo no Brasil e o potencial brasileiro de resposta.
No Brasil, a Nestlé vem apresentando crescimento a passos largos. O limite dos investimentos será dado pelo potencial de cada mercado. Nós visitamos hoje no Brasil 307 mil pontos de venda e estamos em 98% dos municípios brasileiros. A Nestlé é uma multinacional de sabor local.
Como brasileiro e presidente do grupo no Brasil, isso me dá uma satisfação muito grande porque é uma companhia totalmente identificada com o mercado brasileiro. Isso foi construído ao longo de 90 anos, sempre com muita transparência e participando e colaborando com os projetos sociais do país, às vezes mais do que as próprias empresas nacionais. Um exemplo disso é que a Nestlé foi a primeira empresa a apresentar um projeto para o Programa Fome Zero.
Indagado se as operações da Nestlé no Brasil sofrem alguma conseqüência com a crise econômica européia e se a relação cambial entre real e franco suíço interfere na relação com a matriz na Suíça, Ivan Zurita respondeu:
“A Nestlé continua sendo líder absoluta no Brasil e no mundo, é uma empresa muito sólida. A cotação das nossas ações no mercado é um termômetro que nos indica para onde vamos. Estamos presentes no mundo todo, e eu diria que as perspectivas para a Nestlé são excelentes em termos de investimento e de continuidade. Os últimos resultados que a Nestlé apresentou _ relativos ao período de janeiro a setembro _ são excelentes. Então, nós aqui no Brasil estamos convencidos de que estamos no caminho correto, adotando as diretrizes que são definidas pelo Grupo Nestlé”.
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