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A Suíça e o colonialismo

A Suíça não possuía colônias, e ainda assim suíços cooperaram com as potências coloniais se beneficiando economicamente da apropriação militar de terras e recursos.

Por volta de 1800, naturalistas europeus descreviam os suíços como “semi-selvagens” que faziam lembrar visitas “a povos sem instrução em costas pacíficas”. A intelectualidade europeia via na Suíça pessoas que ainda viviam em seu estado natural; uma imagem distorcida da qual os próprios suíços se apropriaram. Mesmo hoje, propagandas de iogurte e propostas turísticas apresentam quase sem exceção imagens exóticas do povo suíço como “nobres selvagens”. Ademais, esta autoimagem ressurge periodicamente na retórica política quando se afirma que a Suíça correria o risco de se tornar uma colônia da União Europeia.

Mas em sua história moderna, os suíços raramente estiveram do lado dos colonizados, e mais frequentemente do lado dos colonizadores. É verdade que a Suíça como estado-nação não seguiu o caminho do imperialismo, não subjugou nenhuma colônia e até mesmo as tentativas de criar organizações econômicas maiores, como a East India Company, fracassaram.

Mas o colonialismo também inclui a convicção de que as pessoas nas áreas colonizadas eram inferiores aos europeus brancos. Esta ideia também fazia parte da visão de mundo geralmente aceita na Suíça do século XIX.

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Gardi e sua equipe durante filmagem do documentário Mandara

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René Gardi, o fotógrafo que moldou a visão dos suíços sobre a África

Este conteúdo foi publicado em “Sempre evitei apresentar uma visão tendenciosa da realidade através das minhas imagens.” René Gardi nunca duvidou da dimensão documental da sua obra, como explicou em 1985 numa carta enviada a um centro de estudos africanos da Califórnia já no fim de sua vida. Uma profissão de fé que o jovem diretor Mischa Hedinger, também de Berna,…

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Gerações de suíços cresceram com histórias infantis sobre “negrinhos estúpidos”, relatos sobre selvagens ingênuos e infantis, e imagens publicitárias nas quais o povo colonizado aparecia, na melhor das hipóteses, como extras decorativos para produtos coloniais. Este legado continua a existir no país até os dias de hoje.

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Mascarado tocando tuba

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A nostalgia da Suíça branca

Este conteúdo foi publicado em Nomes de bandas carnavalescas e dum quitute tradicional provocam o debate sobre o uso de termos considerados racistas.

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Soldados suíços nas colônias

Mas o problema do envolvimento histórico da Suíça com o colonialismo vai além de polêmicas sobre rótulos históricos e iconoclasmo, e isto fica mais óbvio nos casos onde suíços lutaram como soldados nas colônias.

Por volta de 1800, quando escravos negros na ilha de Saint Domingue, hoje Haiti, se rebelaram contra subjugação colonial francesa, Napoleão contratou 600 mercenários colocados à disposição da França pelo governo suíço para lutar contra os rebeldes. Este não foi um incidente isolado. Mesmo após a fundação do estado federal suíço em 1848, os suíços continuaram a lutar pelo poder colonial, embora ilegalmente. Uma motivação era o soldo mercenário. Se eles não morressem de doenças tropicais nos primeiros meses ou interrompessem seu período de serviço, os mercenários também contavam com uma considerável aposentadoria.

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Suíços e o comércio de escravos

O grosso do dinheiro originário das colônias não ia, contudo, para o pagamento de mercenários, que muitas vezes vinham de famílias carentes e procuravam aventuras a serviço da Holanda ou da França. Era no comércio de bens coloniais e no comércio de seres humanos das colônias que se encontravam as vultosas somas de dinheiro.

Um dos mais sombrios aspectos do envolvimento suíço com o colonialismo global é o comércio de escravos. Suíços e empresas suíças lucraram com a escravidão enquanto investidores e comerciantes que organizavam expedições negreiras onde pessoas eram compradas e vendidas, e como proprietários de escravos que trabalhavam em latifúndios em coloniais, aos quais os suíços muitas vezes chamavam com orgulho de “colônias”.

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Como a Suíça lucrou através do tráfico negreiro

Este conteúdo foi publicado em A obra revela a participação do país no complexo sistema econômico que terminou trazendo riquezas para a Europa e uma triste herança ao continente africano. Em 2001 em Durban, a escravidão foi reconhecida como um crime contra a humanidade. Dentre os 163 signatários figurava a Suíça, uma país que nunca foi uma potência colonial, mas…

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A Lista de Escravatura

A organização CooperaxionLink externo estabeleceu como sua tarefa listar comerciantes e proprietários de escravos suíços, mas também aqueles que eram ativos na luta contra a escravidão.

Até o século XIX, o sistema escravagista funcionava no Atlântico como um comércio triangular. Navios carregados com mercadorias de escambo navegavam para as costas da África, onde trocavam sua carga por escravos. Essas pessoas foram então transportadas até as Américas. De lá, eles viajavam de volta para a Europa, carregados com produtos produzidos por escravos como açúcar, café e especialmente o algodão.

De acordo com Hans Fässlers, que vem pesquisando a história das relações da Suíça com a escravidão há décadas, a Suíça importou mais algodão do que a Inglaterra no século XVIII. Ele também salienta que o comércio de escravos foi uma indústria chave que tornou possível a produção de muitas mercadorias. Em última análise, sem o algodão colhido pelos escravos, a industrialização da produção têxtil suíça teria sido impossível.

Um ramo desta indústria que comprovadamente beneficiou-se diretamente do comércio de escravos foi o da produção dos tecidos chamados “indienne”. Estes foram produzidos para o mercado europeu, mas também especificamente como um meio de troca para o comércio triangular. Muitas vezes até mesmo os padrões dos tecidos eram desenhados tendo em vista as preferências dos traficantes negreiros que trocavam pessoas por mercadorias de luxo nas costas africanas.

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casa colonial

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O passado embaraçoso da indústria têxtil suíça

Este conteúdo foi publicado em No século XVII, “os indianos eram os únicos que sabiam fazer tecidos de algodão estampados”, diz Pascal Meyer, curador de uma exposição sobre têxteis chamada “Indiennes”Link externo no Museu Nacional Suíço (Landesmuseum), em cartaz até 19 de janeiro. “Não havia algodão nem cor na Europa.”   Como explica a exposição de Zurique, a técnica de fabrico…

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Uma família suíça que produza tais têxteis, publicou um anúncio em 1815 onde se lia: “A empresa Favre, Petitpierre & Cie chama a atenção dos armadores de navios negreiros e coloniais para o fato de que nossas instalações trabalham a toda velocidade para fabricar e fornecer todas as mercadorias necessárias para a troca de negros, tais como tecidos ‘indienne’ e lenços de bolso”.

Transição para o colonialismo sem escravidão

Após a proibição do comércio de escravos nos EUA, a indústria têxtil mundial sofreu uma crise de matérias-primas e os mercados de algodão na Índia se tornaram novamente mais atraentes. A empresa suíça Volkart, que operava a partir da Índia desde 1851, aproveitou esta lacuna e especializou-se no comércio de algodão cru indiano. Aqui os britânicos controlavam a produção e os agricultores indianos eram forçados a produzir algodão em vez de alimentos. Através de estreita colaboração com os britânicos, a Volkart logo foi capaz de assumir um décimo de todas as exportações de algodão indiano para fábricas têxteis de toda a Europa.

Outra empresa que sobreviveu à crise causada pelo fim da escravidão foi a Missão da Basileia, a comunidade missionária protestante local. Apoiada pelas mesmas famílias da Basileia que haviam investido anteriormente no comércio de escravos, a missão abriu um novo modelo de negócios: ela converteu “pagãos” ao cristianismo na Índia. Como resultado, os conversos eram abandonados por suas comunidades, e a Missão da Basileia os empregava para trabalhar em suas fábricas de tecelagem. Um missionário elogiou o modelo desta forma por volta de 1860:

“Se as pessoas do mundo pagão querem se converter ao Cristianismo (…) nós as ajudamos a encontrar abrigo ao redor das fazendas missionárias e a encontrar emprego para ganhar a vida, seja na agricultura ou em qualquer outro comércio. Isto é o que se chama de colonização”.

O colonialismo também inclui a exploração de relações de poder assimétricas para o benefício econômico dos colonos. Entretanto, o Estado suíço deixou a busca do lucro nas colônias inteiramente para a iniciativa privada. As iniciativas parlamentares pedindo maior apoio à “emigração e ao colonialismo” por parte do estado federal foram rejeitadas. O Conselho Federal disse: primeiro, um país sem acesso ao mar não poderia colonizar e, segundo, a Confederação estaria assumindo uma responsabilidade à qual não estaria à altura.

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Estátua caída com cabeça enterrada no chão

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A Suíça se esconde de sua própria história

Este conteúdo foi publicado em Faça um teste rápido e pergunte a um suíço ou suíça se ele ou ela conhece ou já ouviu falar de Tilo Frey. Provavelmente a resposta será negativa. Tilo Frey (1923-2008), filha de um suíço e uma mãe pertencente à nação Fula, foi a primeira mulher negra a se tornar membro do parlamento nacional suíço…

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Curiosamente, estes avanços vieram nos anos 1860 dos Democratas Radicais que defendiam reformas sociais e lutavam por maior influência democrática direta contra a classe média estabelecida. Os defensores democráticos radicais do colonialismo se viam como representantes daqueles que fugiram da pobreza e da fome na Suíça.

Para a Suíça, a política de emigração mudou no século XIX. Se no início do século as colônias ainda eram vistas como lugares que absorviam pessoas que não podiam mais ser providas satisfatoriamente no país, essas pessoas se tornaram cada vez mais a base de redes globais, já que as colônias ofereciam um campo de testes para muitos jovens comerciantes.

Eles gozavam dos mesmos privilégios que os membros dos regimes coloniais europeus, ou seja, eles eram colonos sem uma pátria imperialista.

Em 1861, o economista alemão Arwed Emminghaus admirou esta estratégia dos “extensos laços comerciais” da Suíça e a via como uma variação da política expansionista imperialista das potências coloniais.

“Não há aqui a necessidade de frotas dispendiosas, de administrações custosas, de guerra ou opressão; as conquistas são feitas da maneira mais pacífica e fácil do mundo”.

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Landsgemeinde des Kantons Appenzell Ausserrhoden

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A Suíça e o “ano africano”

Este conteúdo foi publicado em Em 1960, exatamente 60 anos atrás, a evolução política na África se acelerou. Já em janeiro, os círculos diplomáticos internacionais começaram a falar do “Ano Africano” ou “Ano da África”, tendo em vista as aspirações de independência das colônias. Em dezembro de 1960, nada menos que 17 paísesLink externo, a maioria deles ex-colônias francesas na…

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  • Andreas Zangger: Koloniale Schweiz. Ein Stück Globalgeschichte zwischen Europa und Südostasien (1860-1930). Berlin 2011.
  • Lea Haller: Transithandel: Geld- und Warenströme im globalen Kapitalismus. Frankfurt am Main 2019.
  • Patricia Purtschert, Barbara Lüthi, Francesca (Hg.): Postkoloniale Schweiz: Formen und Folgen eines Kolonialismus ohne Kolonien
  • Thomas David, Bouda Etemad, Janick Marina Schaufelbuehl: Schwarze Geschäfte. Die Beteiligung von Schweizern an Sklaverei und Sklavenhandel im 18. und 19. Jahrhundert. Zürich 2005.
  • Hans Fässler: Reise in schwarz-weiss: Schweizer Ortstermine in Sachen Sklaverei. Zürich 2005.

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