PF suspeita que Bolsonaro desviou presentes recebidos de países estrangeiros
A Polícia Federal suspeita que colaboradores de Jair Bolsonaro revenderam presentes recebidos de países estrangeiros, em particular joias, para o “enriquecimento ilícito” do ex-presidente, cuja defesa negou qualquer desvio, nesta sexta-feira (11).
Em nota, Os advogados do ex-presidente indicaram que ele “jamais se apropriou ou desviou quaisquer bens públicos”, segundo informação publicada pelo portal G1.
Os elementos da investigação policial foram publicados na sentença do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para justificar as ordens de busca e apreensão, realizadas nesta sexta nas casas de ex-auxiliares de Bolsonaro.
“Os elementos de prova colhidos demonstraram que na gestão do ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro, foi criada uma estrutura para desviar os bens de alto valor presenteados por autoridades estrangeiras (…) com o fim de enriquecimento ilícito”, aponta Moraes em sua sentença.
“Além de ilícitos criminais, demonstram total desprezo pelo patrimônio histórico brasileiro e desrespeito” aos Estados estrangeiros, acrescenta o texto.
A PF informou sobre artigos colocados em “uma mala transportada no avião presidencial em 30 de dezembro”, quando Bolsonaro deixou o Brasil rumo aos Estados Unidos, dois dias antes da posse do sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre estes presentes de Estado estão duas esculturas, uma em forma de barco e outra de uma palmeira, ofertados pelo governo do Bahrein durante uma visita de Estado, em 2021.
Também há joias masculinas presenteadas pela Arábia Saudita, como um relógio e uma caneta da luxuosa marca suíça Chopard.
Um dos suspeitos de revender os presentes é Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e considerado seu braço direito durante seu governo. Cid está na prisão desde maio, após ter sido detido por suposta falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19.
Segundo os investigadores, o ex-ajudante de ordens mencionou em uma mensagem de áudio “25.000 dólares em cash” (em dinheiro vivo), que seriam destinados ao ex-presidente após a venda de certos bens.
O escândalo sobre os presentes dados por autoridades de países estrangeiros a Jair Bolsonaro veio à tona em março, quando o jornal Estado de S. Paulo revelou que funcionários do alto escalão do governo tentaram entrar ilegalmente no país com joias doadas pela Arábia Saudita, sem declaração prévia.
As joias em questão, inclusive um conjunto de diamantes que se acredita que fossem destinadas à ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foram apreendidas pela Alfândega em outubro de 2021.
Mas os investigadores encontraram evidências de desvio de muitos outros presentes de Estado.
Segundo o Tribunal de Contas da União, só os presentes de caráter personalíssimo ou de valor monetário mínimo podem ser mantidos pelo chefe de Estado ao fim de seu mandato.
Em abril, Bolsonaro depôs na Polícia Federal no âmbito do caso das joias sauditas e negou ter cometido qualquer crime.