Bolsonaro multiplica declarações polêmicas sobre a ditadura

Sem nunca esconder sua admiração pela ditadura militar (1964-1985), o presidente Jair Bolsonaro multiplicou, nos últimos dias, suas declarações bombásticas, por meio das quais colocou em xeque documentos oficiais que evocam o desaparecimento de opositores ao regime.
“Nós queremos desvendar crimes. A questão de 64… Existem documentos de ‘matou, não matou’. Isso aí é balela”, declarou Bolsonaro à imprensa em Brasília, nesta terça-feira.
O presidente se referia à Comissão da Verdade, cujo relatório divulgado em 2014 contabiliza 434 assassinatos cometidos durante o regime militar, sem contar as centenas de detenções arbitrárias e os casos de tortura de dissidentes políticos.
“E você acredita em Comissão da Verdade? Qual foi a composição da comissão da verdade? Foram sete pessoas indicadas por quem? Pela Dilma?”, questionou, referindo-se a então presidente Dilma Rousseff, que sofreu um processo de impeachment acusada de praticar as chamadas “pedaladas fiscais”.
Na sessão do Congresso que deu início ao processo de destituição, em 2016, o ainda deputado Bolsonaro dedicou seu voto a Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI na ditadura militar e acusado de comandar torturas e pelo menos seis assassinatos.
Na segunda-feira, o presidente de extrema direita deflagrou forte polêmica ao questionar a versão oficial do desaparecimento, durante a ditadura, do pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
“Se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar, eu conto para ele. Ele não vai querer saber a verdade. Conto pra ele”, afirmou Bolsonaro.
De acordo com os documentos da Comissão da Verdade, Fernando Santa Cruz, estudante e militante de esquerda, desapareceu aos 26 anos, em 1974, após ser detido por agentes do DOI-CODI-RJ.
Bolsonaro insinuou que o pai do presidente da OAB foi morto por um grupo armado de esquerda.
“Não foram militares que mataram ele, não. É muito fácil culpar os militares por tudo que acontece”, declarou.
Nesta terça, em entrevista ao UOL, o juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello sugeriu que “apenas criando um aparelho de mordaça” talvez seja possível conter as declarações do presidente.
O governador de São Paulo, o tucano João Doria, considerou “inaceitável” a fala de Bolsonaro.
“Eu sou filho de um deputado cassado pelo golpe de 64 e eu vivi o exílio com o meu pai que perdeu quase tudo na vida em dez anos de exílio pela ditadura militar. Inaceitável que o presidente da república se manifeste da forma como se manifestou em relação ao pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. Foi uma declaração infeliz do presidente Jair Bolsonaro”, afirmou.