Bolívia promulga lei que estabelece prazo para eleições mas bloqueios de estradas continuam
A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, promulgou hoje uma lei que estabelece a data de 18 de outubro como prazo final para a realização das eleições, mas os bloqueios de estradas por grupos ligados ao ex-presidente Evo Morales continuam.
“Estamos aqui para a pacificação do país”, disse a presidente direitista ao promulgar a lei, aprovada de forma acelerada por ambas as câmaras do Congresso, dominadas pelo partido de Morales (2006-2019). Cabe agora ao Supremo Tribunal Eleitoral (TSE) determinar a data da votação.
A lei foi aprovada no Congresso por pressão de movimentos sociais ligados a Morales, que exigiam que não houvesse novos adiamentos das eleições, marcadas inicialmente para 3 de maio e adiadas por três vezes durante a pandemia. Estes grupos consideram que os adiamentos prejudicam o candidato presidencial de esquerda, Luis Arce, apoiado por Morales, que lidera as pesquisas eleitorais em relação ao ex-presidente de centro Carlos Mesa e a Jeanine Áñez.
Para defenderem sua causa, vizinhos, camponeses e indígenas apoiadores de Morales iniciaram bloqueios de estradas em todo o país, que afetam o transporte de insumos médicos em meio à pandemia. O vice-ministro de Regime Interior, Javier Issa, afirmou na manhã de hoje que “os bloqueios diminuíram desde a aprovação da lei no Congresso”.
O Senado aprovou a lei na noite de ontem, e a mesma foi ratificada hoje pela Câmara dos Deputados. Após a promulgação do texto pela presidente, os mesmos movimentos que exigiam a lei se declararam insatisfeitos. “Sofremos hoje uma traição, essa lei nunca foi acordada com o povo boliviano, nunca fomos levados em conta”, criticou o líder da Central Operária Boliviana (COB), Carlos Huarachi.
O sindicalista afirmou que o governo e o parlamento se concentraram apenas em resolver o tema eleitoral, e não atenderam outras reivindicações, como a reativação econômica, educação e medidas contra a pandemia.
Huarachi não comentou na entrevista os bloqueios das estradas, que se mantêm em vários departamentos do país, como La Paz, Oruro (oeste), Cochabamba (centro) e Santa Cruz (leste).
Em meio aos conflitos, o líder aimará radical Felipe Quispe Huanca afirmou que os indígenas dos Andes não irão suspender seus protestos, e exigiu a renúncia da presidente. No começo da década de 1990, Quispe integrou uma guerrilha juntamente com Álvaro García Linera, que foi vice-presidente de Morales.
Os bloqueios afetam o transporte de oxigênio para os hospitais em plena pandemia, enquanto, em La Paz, os preços dos alimentos começam a sofrer especulações. O ministro da Presidência, Yerko Núñez, afirmou hoje que 40 pessoas já morreram por falta de insumos médicos desde o início dos protestos.
O novo coronavírus já infectou mais de 95 mil pessoas e deixou 3.827 mortos na Bolívia, país de 11 milhões de habitantes. As eleições gerais deste ano substituem a votação contestada de outubro de 2019, que resultou em protestos que levaram à renúncia de Morales após quase 14 anos no poder.