42,5 milhões de brasileiros expostos ao risco de inundações
Líder mundial do setor de resseguros, a empresa suíça Swiss Re realizou um estudo que aponta a probabilidade de a população de brasileiros expostos ao risco de inundações aumentar em quase dez milhões de pessoas até 2030, passando dos atuais 33,3 milhões para 42,5 milhões de indivíduos.
As perdas materiais decorrentes das eventuais inundações, segundo o estudo, poderão triplicar no mesmo período, saltando de US$ 1,4 bilhão para US$ 4 bilhões.
A análise da Swiss Re afirma que “na abordagem ao risco de inundações no Brasil, o socorro de emergência tem precedência sobre as medidas de prevenção”. Afirma também que a baixa capilaridade do mercado de seguros brasileiro faz com que “a maior parte dos prejuízos seja bancada pelos orçamentos públicos e privados”. A empresa, no entanto, faz a ressalva de que a adoção de medidas adequadas de proteção e adaptação poderia reduzir em um terço as perdas projetadas para o país.
Diretor da Swiss Re para o Brasil e o Cone Sul, Rolf Steiner afirma que o estudo é uma das ações realizadas pela empresa para estimular a cultura da prevenção no país: “Falamos nos eventos para os quais somos convidados e utilizamos canais de comunicação como jornais e revistas para aumentar a consciência do público brasileiro sobre a existência desse tipo de risco catastrófico em um país que historicamente não tem exposição a grandes catástrofes. Assumir esse tipo de risco é uma coisa relativamente nova para o Brasil, e o público precisa ser informado para saber o que está se passando nas regiões do país”, diz.
Outra forma de ação da Swiss Re para aumentar a cultura da prevenção a catástrofes naturais no Brasil, segundo Steiner, é lutar para melhorar o código de construção da infraestrutura hoje existente no país: “Quando, por exemplo, for inevitável a construção de infraestrutura em zonas expostas a risco de inundação, que ao menos se faça uma construção que possa absorver os efeitos dessa inundação”, diz o executivo suíço, acrescentando que o trabalho de conscientização quanto à necessidade de prevenção deve ser realizado junto ao mercado e também ao governo.
O estudo compreende o período entre os anos 2000 e 2010. Ao longo da década analisada pela Swiss Re, o transbordamento dos rios, as inundações repentinas e os deslizamentos de terra no Brasil foram responsáveis, em média, pela morte anual de 120 pessoas e por perdas de US$ 250 milhões por ano.
A partir de 2008, segundo a análise, as perdas humanas e materiais ficaram acima da média, com o registro, em 2010, de 450 mortes e prejuízos de US$ 950 milhões. A explicação dada para esse aumento é o rápido, contínuo e descontrolado crescimento da população urbana no Brasil, que se soma aos efeitos climáticos provocados pela poluição e pelo aquecimento global nas maiores metrópoles do país: “As regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo são particularmente vulneráveis”, diz o documento.
Metrópoles vulneráveis
De acordo com as estimativas da Swiss Re, apenas na cidade de São Paulo, a maior do Brasil, existem 1,5 milhão de pessoas expostas ao risco de transbordamento de rios e um milhão de pessoas expostas ao risco de inundações repentinas. Na cidade do Rio de Janeiro, 900 mil pessoas vivem em áreas com alto risco de deslizamentos de terras ou inundações repentinas. A Região Sudeste como um todo, segundo a Swiss Re, concentrará mais da metade das perdas decorrentes das eventuais inundações até 2030, seguida pelas regiões Sul (15%) e Nordeste (13%): “As inundações podem interferir nos ambiciosos planos de desenvolvimento em vigor”, alerta o estudo.
A Swiss Re alerta ainda que as principais rodovias e ferrovias brasileiras atravessam áreas de risco, e que o mesmo problema deverá acontecer com importantes projetos de transporte em andamento no país. É o caso, por exemplo, do trem-bala que ligará as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo e, segundo o estudo, “poderá estar exposto a riscos de inundação ao cortar o vale do rio Paraíba do Sul”.
A infraestrutura energética do Brasil, segundo o estudo elaborado pela resseguradora suíça, também é vulnerável em diversos pontos do país: “Como parte das principais linhas de transmissão e gasodutos atravessam zonas de risco, existe a possibilidade que o fornecimento de energia elétrica e gás para as principais regiões urbanas e refinarias venha a ser interrompido”.
Gasto desnecessário
Entre 2004 e 2010, segundo a Swiss Re, as despesas de emergência com todas as catástrofes naturais ou causadas pelo homem no Brasil foram de US$ 2,6 bilhões, montante cerca de nove vezes maior que o investido em medidas preventivas ou de adaptação. Entre as medidas necessárias, a Swiss Re cita como mais importantes o planejamento urbano, a adoção de códigos de construção, a drenagem dos fluxos de água e a estabilização de encostas.
A análise feita pela Swiss Re dá outros exemplos: “Estima-se que, se os códigos de edificações exigissem a impermeabilidade de aberturas no piso térreo, seriam evitadas perdas de até US$ 772 milhões em 2030. Projetos de drenagem poderiam reduzir os danos em quase US$ 587 milhões e a estabilização de encostas em mais de R$ 94 milhões”.
A baixa penetração dos seguros contra catástrofes naturais no Brasil também é criticada pela Swiss Re: “Um mercado segurador funcional, dentro de uma estrutura regulamentar que permita a diversificação de produtos e o acesso ao mercado internacional de resseguros, poderia absorver com mais eficiência os riscos de inundações enfrentados por empresas e proprietários de imóveis”, diz o documento.
O período analisado pelo estudo realizado pela Swiss Re (2000-2010) não inclui a tragédia de janeiro de 2011 com suas enchentes e deslizamentos de terra que causaram a morte de mais de 900 pessoas na Região Serrana do Rio de Janeiro, além de um prejuízo econômico até agora não totalmente mensurado nos municípios afetados.
Segundo Rolf Steiner, diretor da empresa suíça no Brasil, a tragédia fez o item “catástrofes naturais” entrar de vez na pauta do mercado de seguros brasileiro: “O que aconteceu na Região Serrana do Rio faz a sociedade querer gerar mais conhecimento sobre como se prevenir frente a eventos desse tipo. É a confirmação de uma tendência geral que o estudo está explicando. Estima-se que, com os efeitos das mudanças climáticas, aumentem as ocorrências de eventos desse tipo”, diz.
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