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Christa Elmer: música é a sua vida

Christa Elmer tem quatro grupos de música, e tantas sensibilidades musicais: jazz, rock, swing, soul, R&B... swissinfo.ch

Ela canta, toca gaita e pinta. Ao fundo, as grandes vozes da canção negra americana e o azul suave do mar. Radicada em Maiorca, a artista suíça de múltiplos talentos Christa ElmerLink externo está em turnê pela ilha neste verão. Um encontro.

A música, ela gravou em sua pele. Em seu braço direito, uma tatuagem representa uma clave de sol. O mesmo motivo, ela o usa em pingentes, pequenas joias de prata que adornam suas orelhas. A artista suíça de 51 anos, que vive em Maiorca há cerca de 25 anos, concedeu-nos uma entrevista neste mês de julho bem quente, a dois passos do mar, onde irá mergulhar após o nosso encontro. Uma maneira de se refrescar e relaxar antes do concerto que dará à noite ao ar livre, em Palma, acompanhada por um quinteto. Ela interpretará clássicos do jazz. Em sua voz grave de contralto, ressoarão canções de Tina Turner, entre outras, que ela adora. Assim como ama Aretha Franklin, Amy Winehouse, Cole Porter…

“É preciso saber ser comercial em Maiorca e cantar músicas conhecidas, senão ninguém vem te ouvir”, admite Christa Elmer. Um dia, um jornalista alemão lhe disse que ela tinha “uma voz negra em uma pele branca”. Ela gostou da formulação. “Usei isso como argumento de marketing para os meus concertos”, confidencia a cantora, que diz não gostar de “vozes finas”. “A música de variedades não faz o meu gênero, mas… aprecio a voz quente de Patrícia Kaas, que às vezes ouço enquanto pinto”.

Paixão que remonta à infância

Porque Christa Elmer também pinta. Fomos ver seus quadros expostos até setembro, também em Maiorca, em um lugar chamado Son Bauló, no centro da ilha. Esta artista multidisciplinar, que aprendeu a pintar por contra própria, “por amor à natureza”, na qual se inspira, recebeu, por outro lado, uma formação musical.

Aos 16 anos, ela deixou seu vilarejo natal, Feldbach, às margens do Lago de Zurique. Dirigiu-se para a parte francófona da Suíça, onde fez alguns bicos antes de se inscrever na Escola de Jazz e Música Atual (EJMA) em Lausanne. Uma paixão pela música que remonta à infância! 

Christa Elmer cresceu no interior, mas a Suíça não basta para ela. swissinfo.ch

“Cresci em uma fazenda”, ela conta. “Meu pai, trabalhador rural, e minha mãe, dona de casa, queriam a todo custo que eu fosse para a universidade. Eu só pensava em música. Primeiro fiz parte de um coral infantil, depois toquei em musicais”. Muito mais tarde, depois de concluir a Escola de Jazz, cantou em bandas de rock em Lausanne, antes de formar as suas próprias em Maiorca. Quatro bandas, cada uma com sua sensibilidade musical: jazz, rock, swing, soul, R&B…

Variar para não se entediar

“Você entende, eu preciso variar. Cantar sempre a mesma coisa é terrivelmente entediante”, confessa a musicista, que também toca harmônica e se diverte dando nomes de animais às suas bandas: Happy Cats, The Monkey Swingers, Chicken Sisters… Todas essas formações se apresentam nas Ilhas Baleares, programadas em locais diferentes para diferentes estilos musicais. “Muitas vezes nos apresentamos em hotéis, em festas de fim de ano, aniversários e bailes dançantes, sem falar nos concertos de rua organizados por escolas e outras instituições. Gosto muito da rua porque produz uma energia muito espontânea”.

Os alemães da ilha a convidam para ir à Alemanha. Ela vai com toda boa vontade, “a música é um dom que faz bem para todos”, diz. E a Suíça, regressa lá de vez em quando? “Sim, às vezes no Natal, o que me permite ver a família. Pero Suiza no me encaje”, diz ela em espanhol. “Em outras palavras, a Suíça não combina comigo”. Ah, é mesmo? Por quê? “É muito calma para mim, sou uma pessoa frenética, impulsiva”. No entanto, ela trabalhou na Suíça em 2020, no auge da crise da Covid-19.

Seriedade suíça, leveza espanhola

“Tudo parou naquela época, e eu não tinha mais propostas na Espanha. Aceitei então um emprego para o Greenpeace na minha região de língua alemã. Não gostei nem um pouco! Aguentei três meses. Assim que cheguei, antes mesmo de receber o primeiro salário, as autoridades públicas me enviaram uma carta com o pedido para declaração de meu imposto de renda. Disse a mim mesma: ‘Meu bom Deus, nada mudou aqui’, e voltei rapidamente para a Espanha, ‘para esse país onde você pode fazer o que quiser’”.

Da sua adolescência suíça, ela guarda as lembranças dos inebriantes festivais de jazz, como os de Montreux e de Cully, e o concerto de Nina Simone no Victoria-Hall, em Genebra. Isso foi há cerca de 30 anos. “Fiquei em êxtase, mas decepcionada com um público travado, que tinha dificuldade em se soltar diante dessa grande dama da música americana.

Christa Elmer pinta rostos de pessoas que ela conheceu, mas que desapareceram de sua vida. Christa Elmer

Magia versus dor

Ela conta tudo isso rindo e um puxando seu vestido branco, que tem motivos pretos que lembram uma mandala indiana. Como artista plástica, não é insensível à magia asiática. De fato, suas pinturas de flores são apresentadas na exposição sob o título “Flores Mágicas”. O azul predomina, com um brilho mediterrâneo. Mas não é isso que apreciamos mais em seus quadros. Não muito longe das flores, pendem retratos de mulheres, ou melhor, rostos marcados por uma dor íntima que Christa Elmer define com uma palavra: “Ausencia” (Falta).

“Esses rostos são os de pessoas que conheci, mas que desapareceram da minha vida. A ausência dói, não é verdade?” E acrescenta: “Pintar também permite escapar dos psicoterapeutas”.

Adaptação: Karleno Bocarro

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