Indústria suíça teme consequências da proibição de viagens aos EUA
A proibição dos Estados Unidos de viajar da Europa foi condenada como "incompreensível" pela principal associação de fabricantes suíços, Swissmem. A Câmara de Comércio Suíço-Americana considera que as empresas serão seriamente afetadas se as fronteiras permanecerem fechadas por mais de um mês.
Os EUA são o segundo maior parceiro comercial da Suíça, atrás da União Europeia. No ano passado, cerca de CHF41.4 bilhões (US$ 44.2 bilhões) em mercadorias suíças foram exportadas através do Atlântico.
“A proibição de entrada é um sinal incompreensível e negativo, que sobrecarrega ainda mais o clima de negócios já tenso e aumenta maciçamente a incerteza”, disse a SwissmemLink externo, a federação das indústrias mecânica, elétrica e metalúrgica da Suíça, em comunicado enviado por e-mail à swissinfo.ch.
As empresas transportam muitas peças de máquinas por via aérea, além de mandar seus técnicos e engenheiros especializados que são necessários para montá-las, acrescentou a federação. “Quanto maior e mais longa for a interrupção das capacidades de transporte aéreo, mais graves serão as consequências para as empresas industriais suíças”.
A Swiss International Air LinesLink externo foi obrigada a limitar os voos dos EUA a apenas dois destinos – Chicago e Newark. A companhia aérea já suspendeu todos os voos para a Itália, além das cidades de Stuttgart, Nuremberg, Bordeaux, Pequim, Xangai e Tel Aviv.
Uma redução nos serviços aéreos pode ser desastrosa para o sistema mundial de logística de frete, advertiu a Swissmem. Muitas mercadorias industriais são transportadas em voos de passageiros. Além disso, a movimentação de mercadorias em todo o mundo depende de uma cadeia logística de países interligados. Tirar um elo dessa cadeia poderia fazer cair linhas de abastecimento regionais inteiras.
Topada
A Câmara de Comércio Suíço-Americana (AmCham) acredita que as empresas suíças podem absorver a proibição de viajar para os EUA por 30 dias. O CEO Martin Naville aponta que as fábricas e outras instalações operadas pela Suíça nos EUA ainda podem continuar produzindo. Até o final de 2018, as empresas suíças haviam investido 286 bilhões de francos nos EUA – de longe o maior mercado para investimentos diretos.
Mas ele concorda com a opinião da Swissmem de que um congelamento mais prolongado das viagens prejudicaria seriamente as cadeias logísticas e impediria os engenheiros essenciais de instalar e manter as máquinas.
“Se a proibição de viagens durar um mês, será como dar uma topada para as empresas suíças. Iria doer, mas não deixaria danos duradouros”. Uma proibição de vários meses seria um golpe no corpo. Mas é muito cedo para estimar os danos potenciais com algum grau de precisão”, disse Naville à swissinfo.ch.
“Muitas empresas já impuseram proibições de viagem por algumas semanas. Elas podem ser criativas na busca de soluções a curto prazo”, acrescentou.
Mas tanto a AmCham quanto a Swissmem estão nervosos com a possibilidade de outros países imporem proibições semelhantes, especialmente a China. A Arábia Saudita seguiu o exemplo da proibição de viagens dos EUA, tendo Israel e a Sérvia já fechado as suas fronteiras a viajantes suíços.
Turismo em pânico
A indústria turística suíça talvez tenha mais a perder com a proibição de viagens aos EUA. Operadores turísticos, como o Hotelplan e DER Touristik (que inclui Kuoni) já estão somando o número de reservas canceladas. Um porta-voz da DER Touristik estima que milhares de turistas serão afetados.
Naville acredita que a proibição de viagens aos EUA também envia um sinal negativo aos turistas americanos. “Os americanos não vão querer vir para o contagioso espaço Schengen”, disse. “Isso não vai durar apenas um mês. Os americanos não vão voar para a Europa para as suas férias de verão”. Isso terá um impacto negativo nas companhias aéreas, hotéis, restaurantes e agências de viagens”.
Impacto nas companhias aéreas
A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) alertou para as consequências econômicas para o setor aéreo das proibições de viagens impostas pelos EUA e outros países.
Embora reconhecendo a importância da saúde pública, a IATA alertou os governos para se prepararem para as consequências econômicas de tais medidas.
No início deste mês, a IATA estimou que a crise poderia acabar com cerca de 113 bilhões de dólares de receitas para o setor. O mercado Schengen-EUA valeu 20.6 bilhões de dólares no ano passado, o que agora deve ser levado em consideração ao somar as perdas potenciais.
Em 2019, houve um total de cerca de 200 mil voos programados entre os Estados Unidos e o Espaço Schengen, transportando cerca de 46 milhões de passageiros.
Adaptação: Fernando Hirschy
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