Suíça pretende frear revolução robótica
A reação contra o impacto da globalização, inteligência artificial e automação de serviços e comunidades provavelmente aumentará à medida que as tecnologias se tornam mais disruptivas. A Suíça, uma sociedade bem estabelecida e estruturada, vai “frear bruscamente”.
Esta é a previsão feita por Richard BaldwinLink externo, professor de Economia Internacional do Instituto de Graduação de Genebra, na conferência “O Futuro do Trabalho” coorganizada entre o instituto e a revista The Economist nesta última quinta-feira (02), em Genebra.
“Estou um pouco preocupado com uma reviravolta populista nos próximos anos”, disse Baldwin ao público.
As máquinas estão aprendendo a realizar funções cada vez mais complexas, como a tradução de textos ou o diagnóstico de doenças. Alguns robôs estão se tornando capazes de executar tarefas manuais previamente desempenhadas por humanos.
Baldwin comentou que o ritmo de automação tem sido “incrível”, porém a maioria das pessoas estão “negando ou ignorando o seu impacto”.
“Em três e cinco anos, veremos que pelo menos 10% das ocupações atuais serão eliminadas sem reposição, devido à inovação disruptiva. Provavelmente teremos algo semelhante a um furacão político”, declarou.
Futuro Incerto
Baldwin espera por reações no mínimo tão fortes quanto àquelas contrárias ao Uber e ao Airbnb, com certos grupos tentando banir as novas tecnologias.
“Quando as pessoas perceberem que os seus empregos estão sendo assumidos por máquinas e não por estrangeiros, veremos uma contrarreação ainda mais sistêmica”, avalia.
Estudos recentes apontam com apreensão a chamada ascensão das máquinas. Carl Frey e Michael Osborne, economistas da Universidade de Oxford, estimaram em artigo amplamente citado e publicado em 2013 que 47% dos empregos nos Estados Unidos correm o risco de serem perdidos para os computadores.
Em contrapartida, um relatório publicado em 2016 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) identificou que em média 9% das ocupações poderiam ser automatizadas em 21 dos seus países membros, excluindo a Suíça.
Outros economistas argumentam que este impacto será bem menos drástico. Alguns dizem que a propagação da automação deverá gerar novos empregos, compensando aqueles que virão a ser eliminados.
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Robôs devem pagar pela perda de empregos?
O McKinsey Global Institute Link externo prevê que apenas 5% das ocupações podem ser totalmente automatizadas utilizando a tecnologia existente. Ao invés de suprimir empregos para criar funções inteiramente novas, o instituto acredita que a inteligência artificial e a automação simplesmente redirecionarão o foco das atividades no trabalho.
Impacto no modelo suíço
Baldwin antevê uma turbulência significativa no mercado de trabalho por conta da automação. Ele afirma que as estimativas atuais sobre o impacto nos empregos variam de “muito grandes a absolutamente assustadoras”.
Ele presume que metade das tarefas atualmente realizadas pelo homem serão feitas por algoritmos matemáticos no futuro, o que “não levaria a um corte de 50% do pessoal, mas que seria crítico”.
Então, como a Suíça pode ser afetada pelas transformações tecnológicas e reações contrárias?
Com a sua composição única de um número pequeno de empresas competitivas internacionalmente e um grande número de setores protegidos, a Suíça está “muito resolvida e estruturada”, afirma Baldwin.
“À medida que esses empregos protegidos começarem a ser perturbados pela entrada de trabalhadores remotos ou pela utilização de inteligência artificial, [os suíços] ficarão chateados com isso”, prevê. “Eu suspeito que alguns cantões e cidades tentarão coibir essas iniciativas. Em alguns casos, terão sucesso; em outros, não”.
Em última análise, ele acredita que o país “freará bruscamente” essas mudanças tecnológicas.
O setor bancário suíço poderia permanecer protegido dessa tempestade tecnológica. Uma vez que, como Baldwin ressalta, os requisitos para manipulação dos dados são tão estritos, seria muito complicado terceirizar ou automatizar empregos neste setor, pois os bancos suíços lidam com dados confidenciais além de suas fronteiras.
Como se adaptar?
Em meio à disrupção tecnológica, as pessoas devem considerar seu aprimoramento frente aos desafios colocados pela tecnologia e automação no local de trabalho, considerando funções que os computadores não estão capacitados a realizar.
“O que os robôs ou os trabalhadores virtuais não podem fazer?” Baldwin perguntou ao público.
As pessoas precisam considerar o desenvolvimento de habilidades tais como “lidar com o desconhecido, a empatia e a conexão pessoal”. Para evitar a concorrência com os trabalhadores virtuais, é importante reforçar o valor dos contatos diretos, da comunicação não verbal, do treinamento e da confiança, acrescentou.
“No futuro, teremos combinações de trabalhadores remotos, inteligência artificial e pessoas no lugar que gerenciam e movem rapidamente suas equipes. Será incrivelmente importante que essas pessoas realmente estejam presentes no local de trabalho”, declarou Baldwin.
Adaptação: Renata Bitar
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