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Imprensa suíça exige a demissão de Blatter

Segundo a FIFA, o poderoso chefão do futebol estaria "sereno". Keystone

Sepp Blatter está "sereno", segundo o porta-voz da FIFA. Relativamente intocado pelas autoridades suíças e americanas no tsunami da quarta-feira, o poderoso chefão, há 40 anos na Federação, continua sendo candidato à sua sucessão.

O suíço chegou mesmo a denunciar na quarta-feira o comportamento dos membros da Federação processados pela justiça americana, se dando ao luxo de dizer que “esse tipo de comportamento não têm lugar no futebol”. Será que ele também realmente ignorava tudo? A mídia suíça não é boba e não poupa o cartola nesta quinta-feira 28 de maio, um dia antes de uma eleição totalmente descreditada.

Os jornais suíços são unânimes em exigir sua demissão.

Fora Blatter

O jornal “Le Matin”, da Suíça francesa, é claro e direto: “Blatter não é mais credível” e “ele tem que sair”, proclama. Para o editorialista do jornal, “é demais, não tem mais como defender a instituição que gere o futebol mundial. Sua governança está podre”, diz. “Ao renunciar ou desistindo de se apresentar na sexta-feira, o presidente da Fifa teria uma última chance de provar que ele trabalha mesmo para o bem do esporte mais popular do mundo.”

Mesmo discurso no “Tribune de Genève”: “Sr. Blatter, ‘vaza’!” exige o editor Pierre Ruetschi. “Você não tem nada a ver com a FIFA. Contente-se em responder aos seus erros e assumir a responsabilidade após 17 anos de um reinado indigno. A reprovação de sua atitude reflete sobre a Suíça, cuja reputação internacional precisa justamente ser refeita.”

Já o “24 Heures”, de Lausanne, onde fica a sede do Comitê Olímpico Internacional, estima que a justiça suíça serviu de braço armado da justiça americana para aproveitar e fazer uma perquisição na sede da FIFA. Apesar de negar ser capacho da justiça americana, o Ministério Público suíço reconhece ter aproveitado da ocasião, em coordenação com os americanos.

Pecados capitais

No semanário de língua francesa “Hebdo”, o deputado federal suíço Laurent Favre pinta um retrato mordaz de Sepp Blatter, decifrando um por um os seus “sete pecados capitais”.

Da soberba (“De uma forma ou de outra, Sepp Blatter precisa sempre se dar uma importância que ele não tem”) à luxúria (“Ele gosta do dinheiro para si próprio, das mulheres, como qualquer grande sedutor, e do luxo, porque isso acaba sendo bem agradável”), passando pela preguiça (“Sepp Blatter teve até preguiça de fazer campanha, dizendo na ocasião ‘Meu programa são os meus 40 anos de FIFA’”) e a inveja (“a necessidade dele de existir é imensa, sua sede de gratidão nunca é saciada e as críticas que recebe o tocam mais do que ele deixa transparecer”).

O autor protesta dizendo que “Sepp Blatter não tem levado a sério as críticas, tanto por astúcia política, quanto por preguiça intelectual.”

Especulação e corrupção

Embora o tribunal dos EUA tenha evitado questões sobre Blatter durante sua conferência de imprensa na quarta-feira, não o colocando, assim, diretamente em causa, o jornal “Le Temps” observa, por sua vez, que “o presidente da Fifa pode dizer o que quiser, este escândalo planetário mancha definitivamente seu reinado. Mesmo se ele for reeleito na sexta-feira, o suíço permanecerá associado à especulação e à corrupção, dois seios que alimentaram durante quarenta anos sua sede de poder”.

“Talvez ele se arrependa agora de não ter se retirado a tempo, agora chegou a hora do esporte ético e Joseph Blatter acaba de ouvir apitar o fim da impunidade”, diz o jornal da região de língua francesa.

Já para o editor de esportes do “Tagesanzeiger”, de Zurique, a prisão de vários dirigentes da FIFA foi um acontecimento único na história do esporte internacional, mas explicada pelo histórico de escândalos da entidade. “A FIFA tem uma fama – causada por ela mesma – de um Estado pária. Os processos de decisão são obscuros e a rede de funcionários se tornou impenetrável. Grupos de poucas pessoas determinam campeonatos mundiais e contratos de bilhões de dólares de uma forma bastante peculiar”, escreve Ueli Kägi.

Escorregadiço como peixe

Mas é provável que a figura máxima do espetáculo, Joseph Blatter, que busca aos 79 anos um quinto mandato à frente da FIFA, consiga mais uma vez se salvar. O suíço é um “mestre” da sobrevivência. “Muitos dos seus antigos companheiros foram descobertos após cometerem graves crimes. Blatter deixou cair muitos dos antigos amigos quando sentiu que a corda estava apertando no seu pescoço. Porém ele sempre conseguiu se manter no topo”. Mas como? O jornal de Zurique dá a resposta: “Em primeiro lugar, Blatter é extremamente inteligente. Além disso, talvez seja até possível que, ao contrário da opinião generalizada no mundo, que ele esteja envolvido nas negociatas, apesar de ser muito pouco provável que ele não saiba nada das muitas atividades ilegais que ocorrem ao seu lado.”

Já o “NZZ”, o jornal de maior renome da Suíça, considera que a FIFA precisa “limpar o estábulo”, mas que uma análise objetiva os fatos se faz necessária, especialmente se de uma só tacada são presos dirigentes importantes da FIFA e, ao mesmo tempo, anunciam-se investigações devido às “suspeitas” na escolha de sedes das Copas de 2018 e 2022. “É preciso ser cético quando no espaço de poucas horas dois foguetes são lançados. Trata-se aqui de uma encenação, pois afinal até mesmo as instituições oficiais gostam de atender a opinião pública, especialmente as americanas. Não é uma coincidência que as duas ações tenham ocorrido pouco antes do congresso da FIFA em Zurique exatamente no momento em que legiões de jornalistas de todas as partes do mundo estão presentes. O eco assim é particularmente considerável”, escreve o comentarista Elmar Wagner.

Para o NZZ, mesmo após representantes da FIFA terem considerado os últimos acontecimentos como “positivos”, já que provam os esforços da instituição de reforçar sua credibilidade, “não importa a decisão a ser tomada no congresso de quinta a sexta: tudo será visto sob a perspectiva das prisões e investigações e a fama de corrupta estará ainda maior. A reeleição prevista de Blatter terá uma mancha. Mas ele terá de viver com esses danos colaterais, pois carrega com si a responsabilidade de uma cultura interna que sempre foi tolerada durante todos os anos de mandato.”

Novo presidente

Para o jornal econômico de língua alemã “Handelszeitung”, a única solução é um novo presidente para a Fifa. “Ela merece elogios pelas melhoras realizadas e mais transparência, mas a imagem e a reputação pioraram ainda mais. Fracassos dos últimos anos pensam bastante. Esses erros e também certo ‘laissez-faire’ tem um rosto: o do suíço de 79 anos, Joseph Blatter, eleito pela primeira vez presidente da FIFA em 1998 e que agora tenta um quinto mandato. “

Mais do que um novo chefe, a FIFA precisa de mudanças concretas. “Mesmo se ainda não houver provas concretas da culpa de Blatter e também o fato da entidade ter formalizado uma queixa legal na Procuradoria, ela necessita de um novo começo com uma estratégia de tolerância zero”, que pode ser questionada se o presidente continuar simbolizado um período de práticas escusas.

O jornal gratuito “20 Minuten” já é mais pessimista. A publicação de maior tiragem do país considera que o problema não está apenas na figura do atual presidente da FIFA, mas na própria estrutura da entidade. “Nada indica que o príncipe jordaniano Ali bin al-Hussein quer acabar com o sistema de subsídios da Fifa. Pelo contrário, ele quer distribuir ainda mais dinheiro. Estas federações minúsculas não têm nada a ver com o desenvolvimento do futebol, mas sim com a preservação dessas estruturas. A democracia na sua forma mais pura como uma forma de perversão do sistema.”

Destino cruel

A política teria um papel importante no destino da entidade. “Não importa quem vai estar no topo do mundo na Federação Internacional de Futebol: ela continuará a desempenhar com as associações de países como a da Coréia do Norte, Arábia Saudita ou Zimbabwe a sua própria forma democracia. Nem o príncipe jordaniano ou o rei do Valais (n.r.: Blatter é originário do cantão suíço do Valais) vai mudar isso.”

O comentarista do tabloide “Blick”, acha difícil responder a pergunta: seriam os fatos da quarta-feira uma prova do alto grau de corrupção na FIFA ou um bom dia para o futebol, pois os esforços de mudança promovidos por Blatter finalmente teriam sido coroados. “Blatter não criou o sistema FIFA. Ele é uma criança desse sistema. Uma federação em que os representantes das Ilhas Cayman tem os mesmos direitos de voto que o chefe da Federação Alemã de Futebol. O fato é que: figuras bizarras e funcionários corruptos vêm à Zurique, todas as pessoas que não foram escolhidas por Blatter”, escreve o comentarista Felix Bingesser.

Mas a culpa do dirigente suíço não pode ser espalhada ao vento. “Sob sua liderança esse sistema feudal de terríveis excessos. Foi só depois de 2010, com a concessão de piada da Copa do Mundo para o Catar, é que Blatter acordou e, finalmente, iniciou reformas”, diz o Blick, para quem estas vieram com muito atraso. “O FBI já está investigando. As autoridades judiciais americanas tomaram as rédeas da investigação e não conhecem meias verdades. Eles já o demonstraram com os bancos suíços no passado recente.”

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