Nestlé reforça setor de nutrição e saúde
A multinacional suíça anunciou segunda-feira (27) a criação do Instituto Nestlé de Ciências da Saúde, que será construído no campus da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), conhecida, entre outras áreas, pelas Ciências da Vida.
Ao mesmo tempo, a Nestlé anuncia a criação de uma filial – Nestlé Ciência Saúde S.A – que vai atuar na fronteira entre a nutrição e a indústria farmacêutica.
A multinacional suíça, líder mundial da alimentação, pensa no futuro e em um novo ramo de negócios. A direção do grupo Nestlé tem certeza que a nutrição será personalizada e servirá para prevenir a obesidade e doenças crônicas como o diabetes, cardiovasculares e o mal de Alzheimer.
Para isso a nutrição terá de ser cada vez mais ligada à ciência, especialmente às chamadas ciências da vida, uma das especialidades da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EFPL).
“Os custos da saúde combinados com as mudanças demográficas e os progressos da ciência demonstram que nossos sistemas de saúde atuais, direcionados para tratar doentes, não são sustentáveis e devem ser repensados”, disse o presidente do conselho de administração Peter Brabeck-Lemarthe. “Nestlé tem conhecimentos científicos, recursos e organização necessárias para ter um papel preponderante na busca de soluções alternativas. Trata-se de encontrar graças à nutrição personalizada ,fundada em ciências de saúde, meios eficazes e rentáveis de prevenir e de tratar doenças severas e crônicas do século 21”, acrescentou Brabeck.
Nova filial
As declarações do presidente do conselho de administração da Nestlé justificam as duas novas estruturas anunciadas em coletiva à imprensa na EFFL, segunda-feira (27).
Com o conhecimento e a estrutura que já tem, o grupo cria a filial Nestlé Ciência Saúde S.A, operacional a partir de 1° de janeiro de 2011. Essa filial vai englobar as atividades de Nestlé Saúde Nutrição, que teve um faturamento de 1,6 bilhões de francos suíços em 2009. Ela será separada das atividades principais de alimentação, bebidas e nutrição da Nestlé.
A filial será financiada por fundos de capital de risco nos quais a Nestlé detém interesses e será dirigida por Luis Cantarell, que dirige atualmente o setor Américas. Ele prestará contas ao diretor-geral Paul Bulcke. O presidente da filial será o próprio Peter Brabeck-Lemarthe. A Nestlé pretende comprar empresas com conhecimento avançado que correspondam à sua estratégia voltada para o futuro.
A Nestlé já tem centros de pesquisa na Suíça, no Japão e na China, mas para apoiar a nova filial o grupo anunciou a criação de um novo centro de pesquisa, a ser construído no campus da EFFL, em Lausanne (oeste). A Nestlé já financia duas cadeiras de pesquisa na EFFL, mas o Instituto Nestlé de Ciências da Saúde vai mais longe.
Referência mundial
Inicialmente, a Nestlé vai investir 500 milhões de francos em cinco anos, considerado modesto por Peter Brabeck. Terá inicialmente de 50 a 100 pesquisadores , dirigidos pelo norte-americano Emmanuel E. Baetge, conhecido por suas pesquisas com células tronco para tratar o diabetes tipo 1. Ele também trabalha em neurociência, terapia genética e problemas do metabolismo.
“O instituto terá um nível de excelência mundial na pesquisa biomédica para compreender melhor as doenças do envelhecimento humano influenciadas pela genética, pelo metabolismo e pelo meio ambiente. Isso nos possibilitará avançar no conceito de nutrição personalizada fundada nas ciências da saúde como primeira etapa na prevenção e tratamento de doenças”, declarou Baetge.
Philippe Gillet, vice-presidente da EPFL, disse à swissinfo.ch que não haverá pressões por resultados “porque nosso trabalho é pesquisar, mas que é tão interessante que certamente haverá resultados em dez anos.”
Em conversa com jornalistas depois da coletiva, Peter Brabeck-Lemarthe retomou aos sistemas de saúde atuais “que não cuidam da saúde, mas da doença”. Ele citou o exemplo da China antiga onde, nos vilarejos, as pessoas pagavam o médico quando estavam sadias e deixavam de pagar quando adoeciam.
Grande negócio
Mas é evidente que a Nestlé não perde de vista seus negócios. “A nova organização nos um papel de pioneiros e lideres dessa indústria inteiramente nova”, disse o diretor geral Paul Bulckle. “O potencial é enorme, mais de 100 bilhões hoje”, repetiu durante a coletiva à imprensa.
Em breve entrevista à swissinfo.ch (Ouça áudio na coluna da direita), Paul Bulckle confirmou que esse é um grande negócio para a Nestlé, “por isso estamos investindo. Estou muito otimista”.
O novo Instituto Nestlé de Ciências da Saúde vai trabalhar em quatro áreas:
– Obesidade (1 bilhão de pessoas atualmente)
– Diabetes (246 milhões de pessoas atualmente)
– Distúrbios neurológicos
– Envelhecimento
Objetivos:
– Criar plataformas regenerativas, de genoma e metabólicas para estudar modelos celulares na saúde e na doença.
– Desenvolver modelos celulares de simulação genética, metabólica e fisiológica características comuns das doenças crônicas.
– Identificar e descobrir formas de intervenção nutricional que modifiquem moléculas, células e distúrbios fisiológicos.
Fonte: Explanação de Emmanuel E.Baetge
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