O lugar onde nasceram letras e fontes tipográficas mundialmente famosas
A fábrica altamente especializada de Roman Scherer em Kriens fabricava tipos de madeira (peças usadas para imprimir letras) para todo o mundo. De lá, saíram até as fontes usadas para imprimir o Pravda, jornal oficial do Partido Comunista da Rússia em Moscou.
Kriens é uma cidade industrial perto de Lucerna. Situada entre Sonnenberg e o Monte Pilatus, é cortada pelo rio Krienbach, que desde cedo favoreceu o comércio e a indústria da cidade. Roman Scherer mudou-se para lá por volta de 1890 em busca de mais espaço para seus negócios. O bairro de Kupferhammer surgiu como o local ideal porque era um bairro habituado ao som de martelos e serras, além de ter ligações ferroviárias diretas.
Roman Scherer era filho de um fazendeiro de Meggen, no cantão de Lucerna. Ele nasceu em 1848 e frequentou a escola cantonal. Mas não foi talhado para estudos acadêmicos. Depois de deixar a escola, Scherer completou um aprendizado comercial na siderúrgica Stahlwerk von Moos em Emmenbrücke. Então, foi trabalhar em bancos no Ticino e na França.
Ao retornar a Lucerna, ainda jovem, Scherer assumiu a gestão da fábrica Pays’schen Fabrik que produzia móveis de madeira e coronhas de rifle em Lucerna. Em 1877, o jovem de 29 anos abriu o seu próprio negócio, adquirindo as máquinas e equipamentos de uma empresa falida no Valais. Scherer fabricava letras para impressão tipográfica usando madeira de árvores frutíferas locais, abundantes na região de Lucerna. As suas peças começaram a ser utilizadas na impressão de cartazes, manchetes e títulos.
Os negócios de Roman Scherer estavam florescendo, principalmente porque o jovem empresário começou a contar rapidamente com uma clientela internacional. Foi com isso em mente que ele se mudou para Kriens por volta de 1890 para montar uma fábrica em grande escala, empregando quase cem pessoas.
Naquela época, a fabricação dessas letras de madeira para gráficas era uma atividade de nicho: nunca teria sido lucrativo produzir apenas para a região, ou mesmo apenas para a Suíça. Roman Scherer, portanto, optou pela expansão e encontrou clientes não apenas em toda a Suíça, mas também na França, Espanha, Itália, Bálcãs, Rússia, Japão e China. Em 1900, a fábrica de Kriens já estava produzindo 50.000 letras por ano.
Para conquistar o mercado russo, Scherer produziu fontes cirílicas que obtiveram grande sucesso. Por exemplo, a tipografia do jornal russo Pravda, o órgão central do PCUS, foi baseada em uma fonte de madeira de Roman Scherer. Sua série de fontes Series 5015, chamada Reform, serviu de base para a inscrição Правда (Pravda) que aparece no cabeçalho do jornal.
Portanto, de certa forma, a fábrica da Kriens contribuiu para o rearmamento comunista da Rússia. Ou, mais precisamente, para a disseminação da “verdade comunista”, sendo que a palavra “Pravda” significa simplesmente “verdade”. Deve-se ressaltar, entretanto, que Scherer desenvolveu esse tipo de letra já em 1905, enquanto o Pravda só começou a mencionar o comunismo em 1912, embora fosse um dos jornais de maior circulação no mundo.
A carreira desse verdadeiro mestre da tipografia atingiu seu apogeu na Exposição Universal [SB1] da indústria gráfica e de livros, realizada em Leipzig em 1914, onde o trabalho do suíço lhe rendeu o primeiro prêmio. A fábrica de Scherer expandiu sua linha de produtos para incluir pôsteres de alumínio fundido. Ele faleceu aos 74 anos de idade, oito anos depois de ganhar o prêmio, e sua empresa sobreviveu até 1966.
A empresa sediada em Kriens demonstrou grande precisão e criatividade sem limites: os livros com as fontes tipográficas de Roman Scherer são, portanto, altamente valorizados no setor de artes gráficas. O historiador Philipp Messner, da Basileia, que realizou uma extensa pesquisa sobre o trabalho de Scherer, descobriu esses livros no Museu PapiermühleLink externo, na Basileia, e na Biblioteca Central e Universitária de Lucerna.
As fontes de Scherer também entraram na famosa coleção tipográfica de Luc Devroye na Universidade McGill, em Montreal. Em 1972, uma reimpressão dos tipos Art Nouveau e Art Deco de Scherer foi publicada nos Estados Unidos. O trabalho desse pioneiro da tipografia também está documentado no museu Letterform Archive, em São Francisco. Como resultado, as letras de Kriens adquiriram uma reputação que se estende muito além da cidade onde foram criadas.
(Adaptação: Clarissa Levy)
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