Uma fundação sem fins lucrativos sediada em Genebra vai desenvolver e gerenciar a "Libra", uma criptomoeda que pretende revolucionar o sistema de pagamentos digital.
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Quando não cobre fintech, criptomoedas, blockchain, bancos e comércio, o editor de negócios da swissinfo.ch pode ser encontrado jogando críquete em vários locais na Suíça, inclusive na região de St. Moritz.
O Facebook entrou na onda “blockchain” esta semana, e não foi só molhando o dedinho nas criptomoedas, mas mergulhando de cabeça. Seu projeto Libra tem objetivos grandiosos: promover a igualdade financeira, reduzir as taxas bancárias e até mesmo se tornar uma moeda de reserva mundial.
Muitos observadores acreditam que o sistema de pagamentos digital, que deve ser lançado no próximo ano com 2,5 bilhões de clientes potenciais do Facebook como usuários imediatos, pode desafiar bancos e empresas de cartão de crédito. Outros questionam se o gigante corporativo, atormentado por escândalos de abuso de dados, é a entidade certa para democratizar as finanças.
O token digital da Libra será gerenciado e desenvolvido pela Libra AssociationLink externo, uma fundação sem fins lucrativos sediada em Genebra. Para começar, a Libra pretende atingir “1,7 bilhão de pessoas de países em desenvolvimento, que hoje estão à margem das finanças”, disse o chefe de política e comunicação da associação, Dante Disparte, para swissinfo.ch.
O objetivo inicial é permitir que as pessoas enviem suas remessas o mais rápido possível, da mesma forma que uma mensagem digital, “a um custo bem baixo ou o mais próximo possível de zero”.
“É o fluxo de caixa mais importante do planeta, estimado em US$ 715 bilhões este ano”, disse Disparte. “Hoje há uma taxa de transação de US$ 50 bilhões no meio desse fluxo de caixa. Um projeto como este daria teoricamente esses 50 bilhões de dólares de volta para os consumidores, e é claro que os países emergentes e em desenvolvimento estão pagando a maior parte dessas taxas.”
Disparte acredita que a Libra também poderia facilitar o pagamento de um café ou o pagamento de contas nas economias desenvolvidas. “Quando você pensa em como funcionam os serviços bancários e financeiros, é a morte em picadinhos. No segundo em que você sai da sua própria rede, você começa a entrar num reino de taxas”, disse.
Regulação
E tudo isso sem cair na ira das agências reguladoras. “Você tem uma rastreabilidade muito maior para potenciais fraudes e atividades criminosas em um blockchain do que em um sistema financeiro tradicional. Isso é bom para as agências reguladoras, para o combate à lavagem de dinheiro, controles de capital e gerenciamento de risco do sistema financeiro”, diz Disparte.
“Isso não funcionaria sem uma sacrossanta segurança financeira e compromisso com a privacidade. Ninguém gostaria que suas mídias sociais e dados pessoais fossem mesclados com pagamentos financeiros”, acrescenta.
Mas nem todos estão tão convencidos de que a Libra será uma força totalmente voltada para o bem. “O Facebook tem tido enorme sucesso em ganhar dinheiro acumulando dados de pessoas e depois vendendo-os”, diz Bernard Lunn, consultor de finanças digitais com sede na Suíça e fundador da plataforma online Daily FintechLink externo. “É difícil vê-los mudando completamente de atitude.”
A Libra Association se uniu a 28 “membros fundadores”, incluindo Visa, Uber e ONGs, que desempenharão um papel de governança na criptomoeda e em transações coletivas. A Libra quer que esse número suba para 100 quando o token for lançado no próximo ano e, em seguida, planeja descentralizar o sistema ainda mais, permitindo que mais pessoas influenciem no processamento de pagamentos.
A descentralização é um ponto crucial para aqueles que desejam democratizar as finanças. Quanto menor o grupo de pessoas que controla o sistema, maior o risco de bloquearem transações injustamente, excluindo ou expulsando pessoas ou acrescentando taxas. Observadores, como Lunn, se perguntam até que ponto o Facebook e seus parceiros corporativos permitirão o progresso da descentralização.
Adaptação: Fernando Hirschy
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