Reconstrução da Ucrânia deve ser precedida pelo combate à corrupção
A Conferência sobre a Recuperação da Ucrânia, iniciada na segunda-feira (04.07) em Lugano, no sul da Suíça, tem como objetivo preparar o caminho para a reconstrução do país severamente danificado pela guerra. Para conseguir isso, um problema já perene deve ser enfrentado: a corrupção.
Quando a Rússia entrou no país com suas tropas, muitos esperavam um rápido colapso da Ucrânia. O que levou especialistas a este julgamento?
A Ucrânia não é um estado fracassado, corroído pela corrupção como a propaganda russa dissemina em todos os canais. A resistência dos ucranianos à supremacia russa tornou-se “a melhor prova do contrário”, afirmou Katarina Mathernova, responsável do Programa Anti-Corrupção da União Européia na Ucrânia (EUACI) durante um evento em 29 de junho.
O encontro teve como objetivo definir os pontos mais importantes para o combate à corrupção no âmbito da reconstrução do país, em antecipação à Conferência de Lugano que se realiza de 4 a 5 de julho nessa cidade às margens do lago com o mesmo nome.
A corrupção na Ucrânia é, sem dúvida, um problema concreto. De acordo com o índice da Transparência Internacional sobre a percepção da corrupção no mundo, o país europeu ficou na 122. posição entre 180 em 2021. É um resultado preocupante, pois o apoio financeiro para o país é considerado grande importância para o Ocidente.
Não repetir os erros dos Balcãs
Como reconstruir a Ucrânia nesse complicado contexto? A guerra ainda perdura, mas experiências de outros conflitos mostram que a disponibilização de meios financeiros sem uma visão política clara pode levar um país à chamada “armadilha” da corrupção. Philippe Le Billion, professor de geografia da Universidade British Columbia, levanta o risco de um “círculo vicioso” se os doadores não levarem em questão os problemas sistemáticos da Ucrânia. Os participantes do programa EUACI concordaram: erros foram cometido nos Balcãs após a guerra da Iugoslávia, que deveriam ser evitados agora. Dessa forma, ressaltaram a importância de lançar o mais rápido possível um debate sobre a organização da reconstrução e os riscos.
Neste contexto, o recente status de candidato da Ucrânia à União Europeia (UE) pode ser visto como uma decisão política. Mas será o suficiente? Além disso muitos lembram que vários países dos Balcãs estão na “sala de espera” da adesão à UE. Este atraso é, sem dúvida, não apenas devido à complexidade dessa integração, mas também à corrupção desenfreada enfrentada por alguns desses países.
Acelerando reformas
“Construir melhor” é um dos slogans da conferência de Lugano. A necessidade é óbvia, pois a destruição causada pelos soldados russos é imensa. Segundo Ivan Lukeria, vice-ministro de Municípios e Desenvolvimento Territorial, os danos à infra-estrutura totalizam 45 bilhões de dólares.
Katarina Mathernova considera que a reconstrução deve começar agora para que a Ucrânia possa funcionar como um estado: construir casas para refugiados, consertar estradas e ferrovias e melhorar a infra-estrutura do país.
Mas Lugano não é uma conferência de doadores. O presidente da Confederação Suíça e ministro das Relações Exteriores, Ignazio Cassis, alerta contra grandes expectativas. No entanto, os participantes da conferência preliminar concordaram que a guerra está acelerando as reformas já em andamento.
A Ucrânia está há muito tempo engajada em reformas. Neste sentido, Lugano é o lugar ideal para estas discussões. A conferência de reconstrução foi originalmente planejada como um debate sobre as reformas na Ucrânia.
Adaptação: Alexander Thoele
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