Macron é presidente da renovação?
Entre esperanças e dúvidas, os editorialistas da imprensa suíça se questionam hoje se o novo presidente Emmanuel Macron vai realmente poder mudar o jogo político francês. Em contrapartida, eles são unânimes em saudar a derrota de Marine Le Pen, candidata de uma extrema-direita que não ousa mais pronunciar seu nome.
“Emmanuel Macron, presidente nem de esquerda nem de direita, anulou as referências tradicionais do combate político na França”, escreve o ‘Tribune de Genève’. O combate eleitoral “deixou para trás essa espécie de nomenclatura que há décadas detinha o poder, mais preocupada com seus próprios interesses do que os da maioria dos franceses”, acrescenta o jornal.
Constatação similar no Berner Zeitung, da capital suíça, afirmando que esse presidente de 39 anos é um fenômeno “totalmente inédito em um país que foi dirigido por reis e imperadores, generais e chefes de Estado experientes como Chirac e Mitterrand”.
Também para o ‘24 Heures’, de Lausanne, esse jovem presidente que conseguiu em alguns meses o que outros levavam praticamente uma vida para chegar, encarna “uma nova geração em um país onde a paisagem política parecia paralisada”. E ele traz em sua bagagem pistas “mais ou menos radicais” de mudança.
Um banqueiro, sim e daí?
Então a França elegeu um banqueiro presidente. Um financeiro “social-liberal” Para o jornal econômico Agefi “é uma excelente notícia Emmanuel Macron conhece o mundo real. Ao contrário da classe política francesa que tenta destruí-lo há 18 meses. Ele conhece as empresas, sejam francesas, europeias ou suíças”.
Para o diário de economia, portanto, “Macron é o homem que a França precisa. Nem de direita, nem de esquerda, apenas liberal. Porque os empresários não precisam de eleitos de direita. A direita estatizante e nacionalista, por exemplo, é um obstáculo para um empresário”.
Menos entusiasta, o Basler Zeitung, de Basileia, se questiona como descrever o novo ocupante do cargo. “Estudante modelo, pequeno gênio, OVNI político? Ou, de maneira menos reverenciosa bebê de Hollande?” Para o diário conservador, não há dúvida que o novo eleito “seria mais comparável aos modelos Kennedy ou Obama”. Resta que “seus compatriotas não têm todos a mesma imagem dele” e que, no estrangeiro, ele ainda passa amplamente como “uma página branca”.
Presidente menos pior
Resta que essa eleição teve a maior taxa de abstenção e de votos e brancos e nulos da história da Quinta República. O que, segundo a fórmula do La Liberté de Friburgo, faz de Emmanuel Mcron um “presidente menos pior” e que deve seu sucesso ao “impedimento sucessivo de todos os seus rivais potenciais, à direita como à esquerda”..
Também há dúvidas no ‘Corriere del Ticino’, que vê Emmanuel Macron confrontado “ao risco que ameaça a todos os que se apresentam com a novidade do momento: o da concretização. O risco de ver as mudanças anunciadas se tornarem vagas promessas, os problemas de numerosos franceses continuarem, que as esperanças cedam lugar às desilusões e o país reste paralisado nas velhas dinâmicas internas, muito pouco produtivas”.
Para o ‘Neue Zürcher Zeitung’, de Zurique, mesmo se “a razão triunfou no país de Descartes”, o novo eleito será “um presidente fraco por razões pessoais e institucionais”.
Legislativas – ganhar ainda o terceiro turno
De fato, explica o ‘Le Temps’, a Quinta República deixa pouca chance a um chefe de Estado sem maioria na Assembleia Nacional”. O jornal questiona “qual dinâmica Emmanuel Macron vai aplicar em um país em estado de urgência para ganhar cadeiras nas legislativas? Suas primeiras decisões nos próximos dias serão decisivas, especialmente a nomeação de seu primeiro ministro”.
Por isso, será preciso ganhar as legislativas de junho, verdadeiro terceiro turno da eleição. Para o ‘24 Heures’, a coerência seria dar a esse partido um parlamento que lhe permita realmente de ser ‘En Marche!’ sobre as duas pernas. Senão, a experiência Macron, como foi o caso de Obama, só poderá causar novas frustações”.
“O pior foi evitado”
A vitória de Emmanuel Macron, é também a derrota de Marine Le Pen. Quinze anos depois de seu pai, a candidata da Frente Nacional conseguiu dobrar o eleitorado de seu partido, mas “o terceiro golpe de Estado populista, depois do Brexit e da eleição de Donald Trump, não aconteceu, destaca o ‘Berner Zeitung’. E felizmente, porque para o diário de Berna é simplesmente “inimaginável pensar o que ocorreria se Marine Le Pen fosse eleita, em Paris mas também em Bruxelas, na restaria em pé”.
Para o 24 Heures, a FN “mais uma vez provou que não tinha nem candidato presidenciável nem programa credível. Ele inclusive provocou medo a uma parte da direita conservadora. A má campanha entre os dois turnos de Marine Le Pen poderia marcar o início de uma nova guerra clãs dentro do partido”.
“O pior foi evitado, o choque fracassou. A extrema-direita xenófoba e raivosa não chegou à presidência da França, nação de cultura e potência econômica”, afirma o ‘Blick’ de Zurique. Mas se a derrota de Marine Le Pen é “um alívio para a Europa, o nacionalismo extremo, autoritário, mesmo sob uma aparência feminina, resta forte”, adverte o jornal popular de Zurique.
O ‘St. Galler Tagblatt‘ também saúda a derrota do populismo de direita “que fracassa na França como havia fracassado na presidencial austríaca e nas legislativas da Holanda.”. Para o diário da Suíça Oriental, é preciso agora esperar que na Alemanha o AfD “será ele também derrotado nas legislativas do outono próximo”. E aqui, “a receita é simples: é preciso que todos os que defendem uma sociedade aberta e um Estado de direito democrático façam ouvir suas vozes até dentro das urnas”.
Adaptação: Claudinê Gonçalves
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