Cinco coisas que um denunciante tem a dizer sobre os paraísos fiscais
Após a publicação do vazamento de milhões de documentos no domingo dos "Panama Papers", o denunciante público Rudolf Elmer conversou com o jornalista Roger Schawinski, da Televisão Pública Suíça (SRF) sobre sigilo, responsabilidade e ganância.
“O escândalo dos Panama Papers não irá acabar com os paraísos fiscais”
Onze milhões de documentos revelando as atividades bancárias offshore do escritório de advocacia Mossack Fonseca mostram que diversos bancos suíços (Credit Suisse Channel Islands Ltd., HSBC Private Bank Suisse, UBS AG) e advogados suíços têm um papel importante nos negócios.
Elmer: “Os paraísos fiscais não estão certamente morrendo. Essas práticas irão continuar, se tornando até mesmo mais lucrativas”, afirmou Elmer. O ex-banqueiro considera inverossímil o conceito de um padrão universal de transparência, “enquanto os países do G7 ou as Nações Unidas não estiverem por trás dele”.
“Nem todas as empresas offshore são criadas para negócios escusos”
Empresas offshore são utilizadas para a lavagem de dinheiro, transferência de fundos ligados ao terrorismo, proteção de identidade, escapar de sanções e evasão fiscal.
“Eu posso entender que alguém na Rússia queira levar seu dinheiro para a Suíça se existe o risco do seu confisco. Eles querem colocar o dinheiro em qualquer lugar que seja politicamente estável. Esses são motivos legítimos.”
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“A sociedade precisa de informantes”
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O ex-banqueiro suíço falou exclusivamente à swissinfo.ch sobre a organização e o papel desse tipo de site em “um mundo de mídias manipuladas”. Elmer, um ex-banqueiro de 55 anos, foi responsável pelas operações do banco privado suíço Julius Bär nas Ilhas Cayman por oito anos até ser demitido em 2002. Depois se mudou para as…
“Whistleblowers (denunciantes) têm muitas razões para vazar informações”
Rudolf Elmer furtou um disco rígido contendo informações sobre os negócios offshore de sua empresa. Após avaliar os dados, descobriu que continha informações sobre atividades altamente ilegais. Posteriormente publicou um livro e foi tema também de um filme.
Elmer: “Se você está pedindo dinheiro, isso pode ser um motivo. Quando percebi que tipo de clientes criminoso com que lidávamos, eu perdi minha confiança em todo o sistema.”
“A corrupção pode passar despercebida dentro de uma companhia”
Parte do problema é que todo mundo tem apenas uma peça do quebra-cabeça. De acordo com Elmer, ele não tinha consciência do que estava ocorrendo em sua empresa. Ele era encarregado das atividades bancárias, compliance (n.r.:cumprimento das normas legais e regulamentares), mas não dos títulos. As regras da sua empresa “pareciam perfeitas! Porém a realidade era outra.
“Do lado da empresa, eu pensava que a chefia em Zurique ou em Nova Iorque é que tomava as decisões. Neles posso confiar. Confiança? Quando eu estava internado no hospital e avaliei dos dados que confiava – não!”
“Questões de ética são tão importantes como a responsabilidade profissional”
Corrupção existe por todos os lados, afirma Elmer. “Você pode encontrar corruptos na Alemanha ou na Suíça.”
“Em algum ponto você tem responsabilidade social”, diz Elmer. “Como um homem, você tem que assumir e dizer: isso não é bom, e o público necessita saber. Em algum, o interesse do público está acima dos interesses de uma companhia individual.”
Biografia
Rudolf Elmer foi responsável pela filial do banco Julius Baer nas Ilhas Cayman quando foi demitido em 2002. Em 2007 ele passou informações para o site WikiLeaks, acusando seu ex-empregador de práticas ilegais como criação de fundos “trust” ou outras construções bancárias para ajudar os clientes a sonegar impostos através de contas offshore.
Ele foi preso é condenado a pagar uma multa de 45 mil francos suíços e cobrir os custos do processo de 25 mil francos por um tribunal em Zurique em 2015. Os juízes alegaram que Elmer havia ferido as leis de sigilo bancário do país.
Adaptação: Alexander Thoele
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Documentos do Panamá revelam fundos de Putin em Zurique
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O vazamento de milhões de documentos correspondendo a mais de 2,6 terabytes de dados de um escritório de advocacia no Panamá revela uma quantidade impressionante de atividades bancárias suspeitas ao redor do mundo, incluindo também a Suíça.
Das dez maiores instituições que abriram a maior parte das companhias offshore para clientes estrangeiros, quatro são suíças.
O vazamento ocorreu na Mossack Fonseca, um escritório de advocacia, que nasceu no Panamá e se expandiu a mais de 40 países. Os 11,5 milhões de dados, a maioria e-mails e PDFs de contratos, revela construções offshore de 140 políticos e autoridades públicas ao redor do mundo, incluindo os primeiros-ministros da Islândia e Paquistão, o presidente da Ucrânia e o rei da Arábia Saudita. Aproximadamente 215 mil empresas offshore estão relacionadas.
De acordo com o ICIJ, a Suíça está entre os principais países envolvidos, tanto em termos do número e do nível de atividades dos intermediários.
Amigo de Putin
Uma das pessoas envolvidas é Sergei Roldugin, um amigo próximo do presidente russo, Vladimir Putin. Segundo a reportagem do jornal suíço Tages-Anzeiger, Roldugin teria escondido milhões na filial de Zurique do banco russo Gazprombank – fundos que ele dificilmente teria recebido como violoncelista profissional e maestro.
"Os documentos mostram que Roldugin atua atrás dos bastidores em uma rede clandestina operada por pessoas ligadas a Putin. Eles teriam movimentado pelo menos dois bilhões de dólares em diversas contas bancárias e companhias offshore", de acordo com ICIJ através do jornal alemão Süddeutsche Zeitung e outros parceiros na mídia.
Jornalismo investigativo
O vazamento feito no domingo à noite ocorreu através de um trabalho conjunto de investigação coordenado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês). Ele envolveu centenas de jornalistas em 80 países na pesquisa de transações financeiras através de empresas de fachada no Panamá e outros paraísos fiscais. O relatório aponta o dedo para personalidades do mundo político, esportivo e empresarial.
Roldugin está listado como proprietário de empresas offshore que obtiveram pagamentos de outras companhias no valor de dezenas de milhões de dólares.
"Uma companhia ligada ao violoncelista também fez transações com o maior fabricante russo de tratores, responsável por uma grande fatia do bolo publicitário nas televisões russas. É possível que Roldugin, que afirma publicamente não ter atividades empresariais, não seja o verdadeiro beneficiário dos fundos. Em vez disso, as evidências demonstradas nos arquivos mostram que Roldugin está agindo como testa-de-ferro para uma rede de pessoas ligadas a Putin."
Futebol suspeito
Um membro do Comitê Independente de Ética da Fifa também está sob suspeita. Arquivos confidenciais que vazaram da firma de advocacia panamenha Mossack Fonseca revelam acordos entre os 3 homens e Juan Pedro Damiani, integrante do Comitê Independente de Ética da Fifa, que tem tomado decisões a respeito de uma série de expulsões de altos executivos da organização, segundo o Panama Papers.
Damiani e seu escritório de advocacia trabalharam para pelo menos 7 companhias offshores ligadas a Eugenio Figueredo, ex-vice-presidente da Fifa, que está na mira das autoridades norte-americanas.
Damiani declarou à agência de notícias Reuters em Montevideo, no domingo, que rompeu as ligações com Figueredo quando este foi acusado posteriormente de corrupção.
O escândalo da Fifa veio à tona em 2015, quando o Departamento de Justiça dos Estados Unidos apontou que empresários de TV e de marketing pagavam propinas para obter os direitos de transmissão para jogos. Dentre os nomes nos arquivos aparece ainda Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa de 2007 até setembro de 2015, quando foi banido por acusações de corrupção.
O escândalo da Fifa veio à tona em 2015, quando o Departamento de Justiça dos Estados Unidos apontou que empresários de TV e de marketing pagavam propinas para obter os direitos de transmissão para jogos. Desde então seu comitê de ética investigou e baniu um número de importantes dirigentes, dentre eles o ex-presidente da Fifa, Sepp Blatter, e o ex-presidente Uefa, Michel Platini.
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