Suíça encerra ajuda ao desenvolvimento na Mongólia
Por duas décadas, a Direção para Desenvolvimento e Cooperação (DDCLink externo) trabalhou na Mongólia, promovendo com sucesso a pecuária sustentável e a educação. Mas no final de 2024, a agência vai descontinuar os seus programas no país. Por detrás dessa medida está uma mudança na política externa.
A DDC abriu seu escritório na capital Ulaanbaatar em 2004, três anos depois de ter se tornado ativa naquele país sem litoral do sudeste asiático. O objetivo da organização suíça de desenvolvimento era promover a pecuária sustentável e, portanto, a segurança alimentar.
A pecuária nômade é de grande importância cultural, social e econômica para o país. A Mongólia é quase 38 vezes maior que a Suíça e tem 110 milhões de hectares de pastagens, o que representa 70% da área total. Uma terra de pastagem intacta, também conhecida na Mongólia como ouro verde, é o meio de subsistência mais importante para os nômades.
No entanto, o uso intensivo de pastagens e as mudanças climáticas representam grandes desafios para o país. A população animal, especialmente o número de cabras de caxemira, tem crescido consideravelmente. A crescente demanda por lã de caxemira também contribuiu para isso. No entanto, devido ao uso intensivo e à frequente sobre-exploração das pastagens, a biodiversidade é reduzida e a terra torna-se deserta.
Novos tipos de batatas
Juntamente com os nómades, as autoridades e outros parceiros, a DDC lançou o projeto “Ouro Verde e Saúde Animal” em 2004. Por meio de acordos com governos locais, os nômades se comprometeram a cultivar a terra de forma coletiva e sustentável.
Com base em indicadores como o número e o tipo de plantas, determinou-se quais zonas deveriam ser liberadas para o pastejo e quais teriam que ser poupadas. Hoje, 92 mil famílias nômades participam desse manejo sustentável, que hoje cobre metade da área de pastagem.
“Graças a esses esforços, a Suíça fez uma contribuição significativa para a restauração de mais de 20 milhões de hectares de pastagens em pousio em 15 anos; quase cinco vezes a área da Suíça”, diz Stefanie Burri, chefe do escritório local da DDC e cônsul na Mongólia.
Ao mesmo tempo, a Suíça também contribuiu para conter a desertificação. O projeto já foi concluído. Outro sucesso permaneceu: um sistema digital de rastreamento de produtos de origem animal. Trata-se de garantir informações sobre higiene e segurança alimentar.
Como parte do projeto, 76 cooperativas de nômades foram fundadas em todo o país, que vendem seus produtos da pecuária sustentável sob sua própria marca ” Responsible Nomads”. Do ponto de vista de Burri, o conceito funciona. A internacionalmente renomada banda de rock mongol The Hu, por exemplo, produz seus artigos de couro sob esta marca.
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A marca também foca na inovação, uma vez que o gado iaque é usado apenas como animais de carga na Mongólia e sua pele e couro são considerados inferiores. Como parte do projeto, um pente especial foi desenvolvido para obter lã de iaque de boa qualidade e usá-la para fazer lenços, blusas ou cobertores. E uma nova startup em Ulaanbaatar produz bolas de futebol feitas de couro de iaque à mão.
Com vistas à segurança alimentar, a DDC apoiou um projeto de pesquisa do governo para criar variedades de batata adaptadas ao clima. Em vez de importar batatas da China, a Mongólia agora produz suas necessidades localmente. Graças a melhores sementes, mais cenoura, repolho e beterraba também estão sendo plantados.
Reformas democráticas e bolsas de estudo
Para os anos de 2022 a 2024, a DDC ainda está investindo 8,2 milhões de francos na Mongólia, significativamente menos do que de 2018 a 2021, quando o orçamento foi de 46,4 milhões.
O dinheiro será usado para apoiar projetos sobre governança, mudanças climáticas e meio ambiente e desenvolvimento econômico inclusivo. Por exemplo, a DDC contribuiu para a descentralização e reformas democráticas. Por exemplo, uma mudança na lei aumentou a solidez financeira dos governos locais, canalizando agora 40% das receitas fiscais para os seus orçamentos. Além disso, os cidadãos podem iniciar temas e resoluções que são discutidos pelos conselhos locais.
Desde 2017, a Suíça apoia o Secretariado do Parlamento da Mongólia (Grande Hural) com treinamento e promoção da supervisão parlamentar. A agência presta assessoria em todas as etapas da legislação.
“A cooperação entre o Secretariado do Grande Hural e a DDC deu uma contribuição significativa para fortalecer a democracia parlamentar na Mongólia”, diz Luvsandorj Ulziisaikhan, secretário-geral do Parlamento mongol. Além disso, a participação dos cidadãos no processo democrático aumentou e a governança local melhorou.
A DDC incentivou intercâmbios e visitas recíprocas entre os serviços parlamentares da Mongólia e da Suíça. As visitas, segundo o plano, continuarão após 2024.
Outra área de atuação da DDC é o apoio à formação profissional e à criação de startups. Há anos, ela também trabalha com a organização não governamental mongol Zorig Foundation (ZF), que fornece bolsas de estudo para estudantes desfavorecidos. A DDC financiou quase a metade das mais de 2900 bolsas concedidas, das quais 60% beneficiaram mulheres.
“A alta taxa de emprego dos bolsistas confirma que investir em jovens talentosos que não têm dinheiro para o ensino superior tem um impacto duradouro em suas carreiras profissionais e meios de subsistência”, diz o diretor da fundação, Tsolmon Bayar.
Mudança na política externa suíça
A estratégia da DDC para 2021-2024 prevê dar mais ênfase aos países em contextos frágeis. Como resultado, a Suíça decidiu concluir sua cooperação bilateral para o desenvolvimento com onze de um total de 46 países, incluindo a Mongólia, até o final de 2024.
Os críticos na Suíça veem isso como uma mudança de paradigma da cooperação para o desenvolvimento motivada pela política externa que pretende exercer uma influência sobre os fluxos migratórios.
Na Mongólia, os recursos disponíveis estão sendo gradualmente reduzidos. Enquanto isso, 12 funcionários da DDC ainda estão trabalhando no local, em comparação com 28 há três anos. A organização submete seus projetos a governos nacionais ou locais, bem como a institutos de pesquisa e universidades.
Todos os parceiros estiveram envolvidos nos projetos e contribuíram financeiramente ou forneceram instalações. Isso agora está valendo a pena: os projetos devem ser continuados mesmo após a retirada da DDC. “É importante que leis sejam promulgadas para que os orçamentos estejam disponíveis para os projetos em nível local”, diz Burri.
Necessidade de reforma econômica
A Suíça continuará a ser indiretamente representada na Mongólia e cooperará com o Banco Asiático de Desenvolvimento, o Banco Mundial e com organizações das Nações Unidas, como o Programa de Desenvolvimento (PNUD).
“O maior problema que a Mongólia enfrenta é a mudança climática”, diz Burri. A desertificação do país é cada vez mais visível. Metade dos 3,5 milhões de habitantes do país vive atualmente na capital Ulaanbaatar, o desemprego juvenil é alto com 19% e o país está altamente endividado.
A Mongólia ainda está muito focada na exportação de suas matérias-primas. Ela gera a maior parte de sua renda com a mineração de carvão, cobre, urânio, ouro e, no futuro, terras raras. A Mongólia exporta anualmente um bilhão de francos suíços em ouro para a Suíça.
Atualmente, o governo está promovendo o processamento de produtos. O país também quer expandir a infraestrutura para energia solar e eólica, substituindo o carvão como fonte de energia até 2050.
Relações permanecem
No próximo ano, Suíça e Mongólia celebrarão o 60º aniversário de suas relações diplomáticas. Do ponto de vista de Burri, a cooperação de longa data criou confiança e oferece a oportunidade de novas atividades conjuntas: “Uma etapa está chegando ao fim e novas portas estão se abrindo”.
Por exemplo, o Museu Rietberg, em Zurique, está planejando uma exposição para 2025 com o Ministério da Cultura da Mongólia sobre a urbanização da Mongólia na Idade Média. E o Centro de Política de Segurança de Genebra (CPSG) quer criar um centro regional em Ulaanbaatar para a formação de adidos militares.
Adaptação: DvSperling
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