Suíça quer um papel de liderança na reconstrução da Ucrânia
A Suíça realiza no início de julho uma grande conferência internacional voltada à reconstrução da Ucrânia. Enquanto agenda e lista de participantes se concretizam, os esforços se concentram em torno da coordenação internacional do encontro.
A cooperação com a Ucrânia ocorreu através de encontros regulares organizados muito antes da guerra. O objetivo inicial era ter mais uma reunião em Lugano em julho. Porém Ignazio Cassis, ministro suíço das Relações Exteriores (EDA, na sigla em alemão) e atual presidente da Confederação Helvética, teve a ideia de transformá-la em uma conferência internacional para reconstrução do país em guerra.
Selenski, Macron, Johnson, UNO
Segundo Cassis, a Suíça convidou 41 países e 19 organizações internacionais, incluindo o Banco Mundial e a ONU. O ministro fala em uma “conferência importante com participantes de nível ministerial, ou seja, ministros, primeiros-ministros ou presidentes”. O presidente ucraniano Volodimir Selensky e o primeiro-ministro Denys Shmyhal já teriam aceito participar – fisicamente ou virtualmente – como explicou o chefe do EDA ao canal público de televisão SRF.
Cassim também convidou pessoalmente Boris Johnson. O primeiro-ministro britânico não confirmou se viria pessoalmente ou enviaria uma delegação para representá-lo. Segundo a mídia, o presidente francês Emmanuel Macron também foi convidado.
“Os desafios da reconstrução são enormes”, declara o presidente suíço. De fato, a reconstrução da Ucrânia não precisa apenas de recursos imensuráveis. Porém muitos países não apoiam a ideia de utilizar o dinheiro confiscado de oligarcas e do Estado russo.
Relações tensas
Alguns analistas consideram que a conferência poderia perturbar as relações entre a Suíça e a União Europeia (UE). Com sua ideia, o país alpino entra na seara que a UE reivindica para si própria. No Fórum Econômico Mundial (WEF) em Davos, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deixou claro sua opinião acerca os diferentes papeis. “A UE tem um interesse estratégico em assumir a liderança na reconstrução da Ucrânia”, disse ela.
Por isso ainda não fica claro até que ponto a iniciativa da Cassis está sendo coordenada com a UE. Para o presidente da Confederação, trata-se apenas de uma proposta que serve de “pontapé inicial de um plano de reconstrução para a Ucrânia”.
Quem participa
Assim como a Suíça, também a Comissão Europeia quer oferecer uma plataforma para a reconstrução da Ucrânia. Instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou o Banco Mundial também devem participar do encontro proposto por ela. Todavia, são as mesmas organizações convidadas por Cassis para vir à Lugano. “Temos que decidir quem se sentará ao lado da Ucrânia”, afirmou Cassis à SRF.
Questão do financiamento
Embora já haja debates concretos na UE sobre os doadores, Cassis evita levantar a questão do financiamento. Por enquanto as somas são só simbólicas. “Quanto a Suíça vai pagar”, perguntou a o jornalista a Ignazio Cassis. Sua resposta: “Não se trata de dinheiro, mas sim de estabelecer um processo”.
Já o site da conferência de reconstrução da Ucrânia traz uma mensagem clara: “Suíça e Ucrânia solicitam a mobilização de fundos para a implementação do programa de reconstrução”.
“Todos os países podem prometer dar algo, mas será um gesto simbólico”, diz o chefe do EDA, deixando em aberto as somas concretas que a Suíça estaria disposta a ceder. “O maior cheque que entregamos é a organização desta conferência”.
O financiamento se tornará uma questão inevitável e entrará na agenda dos debates. Afinal, o primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmygal, já avalia em 600 bilhões de dólares as necessidades financeiras do país. Outros, segundo Cassis, chegam a casa do trilhão.
O próprio Selenski também é o primeiro a mencionar a questão. “Precisamos de um plano estratégico de apoio internacional, uma versão moderna do Plano Marshall, ou seja, dinheiro, tecnologia, especialistas e oportunidades de crescimento”, declarou no início de maio.
A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, também falou de uma necessidade “comparável ao plano econômico que ajudou reconstruir a Europa após II Guerra Mundial”.
Não há consenso em confisco
Também é provável voltar à ideias já discutidas. Selenski apresentou um modelo pelo qual países, cidades ou empresas assumiriam individualmente o patrocínio de cidades ou indústrias na Ucrânia. O presidente ucraniano também sugeriu utilizar ativos russos congelados para este fim como centenas de bilhões de reservas de divisas confiscadas e ativos bloqueados dos oligarcas russos.
Um plano controverso do ponto de vista político. Para o presidente americano Joe Biden e Ursula von der Leyen, presidente da UE, defendem, mas estão cientes das armadilhas legais que tais expropriações acarretariam. Cassis foi perguntado por jornalistas no WEF em Davos sobre a posição da Suíça sobre o assunto, mas foi vago na resposta: “Esta é uma pergunta global. A Suíça dará sua resposta no momento apropriado.”
Adaptação: Alexander Thoele
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