Syngenta assume a presidência da CropLife na AL
Presidente da Syngenta na América Latina, Antônio Carlos Guimarães tomou posse em maio como presidente da CropLife América Latina.
Essa é a entidade que congrega as mais poderosas empresas do setor de biotecnologia do planeta. Uma entrevista swissinfo.ch
Durante cerimônia realizada em Lima (Peru), o brasileiro deu início a um mandato de dois anos à frente de uma das seis regionais da CropLife Internacional, entidade que congrega as mais poderosas empresas do setor de biotecnologia do planeta e está presente em 91 países. Leia a seguir os principais trechos da entrevista exclusiva, concedida através de e-mail por Guimarães à swissinfo.ch:
A CropLife América Latina abrange as principais empresas do setor de biotecnologia e também algumas associações nacionais do setor agrícola nos países onde está representada. Como se dá a relação entre as empresas e essas associações?
Presente em 18 países, a regional latino americana da CropLife tem sede em Costa Rica e unidades regionais na Guatemala, Costa Rica, Colômbia e Argentina. A entidade se consolidou como órgão estratégico do mercado de agronegócio e principal interface para que as indústrias se relacionem com entidades, associações, governo e órgãos reguladores.
swissinfo.ch: Quais os principais objetivos de seu mandato? Como a CropLife pretende atuar nos próximos anos pelo desenvolvimento da agricultura sustentável?
Antônio Guimarães: Os principais desafios dessa gestão que se inicia serão: estimular o desenvolvimento da agricultura sustentável, manter o foco em inovação, difundir práticas para uso correto dos produtos e garantir o respeito à propriedade intelectual. A CropLife América Latina dará continuidade à estratégia global da rede CropLife International de trabalhar pelo aumento da produtividade e rentabilidade agrícola.
swissinfo.ch: Qual a importância do respeito à propriedade intelectual para os associados da CropLife? Em que isso influencia a produção ou o desenvolvimento de novos produtos nas empresas associadas?
A.G.: Como representante das principais indústrias do setor, a CropLife tem entre seus objetivos a defesa da propriedade intelectual. A regional latino-americana trabalha por uma agricultura competitiva e sustentável e defende os direitos nessa área. Essa é uma forma de estimular as inovações tecnológicas e permitir que as empresas que investem em Pesquisa e Desenvolvimento estejam protegidas da concorrência desleal. A CropLife América Latina defende um ambiente favorável ao desenvolvimento da inovação no ambiente agrícola.
swissinfo.ch: Quais são as principais inovações que as empresas associadas pretendem desenvolver durante o seu mandato?
A.G.: A CropLife América Latina reúne as empresas mais importantes dos 18 países representados pela entidade. Elas têm foco em Pesquisa e Desenvolvimento e estão sempre renovando o portfólio de produtos para ofertar soluções mais eficientes ao agricultor. A gestão das empresas, no entanto, não tem relação com a atuação da entidade.
swissinfo.ch: A maioria das empresas associadas à CropLife trabalha com o desenvolvimento de plantas e sementes transgênicas. Essa tecnologia, no entanto, é fortemente criticada em diversos países. Na sua visão, qual o futuro do mercado de transgênicos na América Latina?
A.G.: A percepção da sociedade em relação à tecnologia OGM (Organismo Geneticamente Modificado) está evoluindo à medida que a população tem mais acesso a informações sobre o tema e compreende os benefícios que esse tipo de tecnologia traz, e quão segura ela é. Entre os produtores rurais a adesão às sementes geneticamente modificadas é grande justamente porque eles veem os benefícios, como aumento da produtividade e qualidade da produção na prática.
Na Argentina, por exemplo, a maior parte da produção de soja já é realizada com sementes transgênicas. No Brasil, mais de 80% dessa cultura também já é cultivada com biotecnologia. O avanço do milho geneticamente modificado tem sido proporcionalmente ainda mais rápido do que foi o da soja, já alcançando mais de 50% na próxima safra – mais uma vez, isso acontece porque o produtor percebe os benefícios de usar esse tipo de sementes.
O México, por sua vez, interrompeu uma moratória de 11 anos e aprovou recentemente o cultivo do primeiro milho geneticamente modificado. Portanto, o cenário nos principais mercados da América Latina é bastante propício a esse tipo de tecnologia.
swissinfo.ch: Os países latino-americanos estão situados entre os que mais utilizam agrotóxicos. A CropLife tem alguma política para diminuir (ou melhorar, sob o ponto de vista ambiental) esse grande consumo?
A.G.: Esse é um dado absoluto, que, portanto não reflete a realidade. Para termos uma base de comparação real entre países que têm baixo e alto consumo de produtos agrícolas, é preciso analisar esse critério com base no volume de áreas cultivadas. Alguns países latino-americanos, como o Brasil e Argentina, por exemplo, têm grandes áreas cultivadas e estão entre os maiores produtores de alimentos. Outro fator importante a ser considerado, é que grande parte dessa área possui clima tropical que permite a produção de duas até três safras por ano.
Além disso, o clima Tropical, diferente do clima Temperado, favorece o surgimento de pragas que, não aparecem em países de clima frio, como a lagarta de cartucho, que hoje é a principal praga do milho no Brasil. Considerando esses fatores, é natural que os agricultores na região demandem produtos com um perfil de ação específica e em quantidade adequada para combater as pragas que ameaçam a produção. Por outro lado, a CropLife América Latina tem a Segurança como um dos temas principais da sua agenda e promove regularmente programas para uso correto e seguro de produtos. Essa iniciativa garante que, cada vez mais, as aplicações sejam feitas de forma racional e segura.
swissinfo.ch: Qual o balanço feito pela CropLife sobre a realização do Programa Campo Limpo, voltado à coleta e ao descarte de embalagens de produto agroquímicos? Estão sendo desenvolvidas novas tecnologias de manuseio sustentável desses produtos?
A.G.: A necessidade de um “stewardship” diferenciado, com foco na reciclagem de embalagens, está clara para a indústria. E nesse tema o Brasil tem essa história de sucesso com o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (InpEV). O trabalho realizado é uma referência de gestão eficiente de resíduos sólidos.
Com 95% das embalagens plásticas de defensivos recicladas, o Brasil é destaque mundial e líder no ranking entre os países que reciclam esse tipo de material. O segundo colocado, por exemplo, é o Canadá com 70% das embalagens plásticas de defensivos recicladas. Só no ano de 2009, foram cerca de 29 mil toneladas de embalagens recicladas. Esse volume representa um crescimento de 17,7% em relação ao total reciclado no ano anterior (2008).
swissinfo.ch: A agricultura familiar é muito forte em alguns países da América Latina, sobretudo o Brasil. Qual a relação da CropLife com os pequenos agricultores?
A.G.: As empresas que integram a CropLife desenvolvem produtos para a agricultura, sem distinção entre perfis de clientes.
swissinfo.ch: As principais empresas do setor de biotecnologia sofrem forte resistência política dos movimentos sociais em diversos países, como serve de exemplo a recente “condenação” da Syngenta no Tribunal Internacional dos Povos por “desrespeito aos direitos humanos no Brasil”. Como os associados da CropLife lidam com essa realidade?
A.G.: Existem entidades que se posicionam contra os organismos geneticamente modificados, mesmo que estes estejam sendo comercializados conforme a legislação, após terem passado pelos devidos testes e avaliações que asseguram a sua segurança. Acreditamos que o agricultor deve ter o direito de opção, e que a tecnologia é fundamental para viabilizar o desenvolvimento da agricultura e as necessidades mundiais de alimento, sempre em conformidade com a legislação e a segurança ambiental.
swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro
O brasileiro Antonio Carlos Guimarães, presidente da Syngenta Proteção de Cultivos na América Latina, já fazia parte da diretoria da seção da CropLife Internacional no continente na gestão anterior a que se inicia agora. Na presidência, Guimarães sucede a Antonio Zem, gerente da FMC para a América Latina, que comandou a CropLife nos últimos dois anos.
O poder da CropLife América Latina pode ser medido pelo renome das empresas representadas em sua diretoria. Além da Syngenta e da FMC, fazem parte do grupo outras grandes empresas transnacionais do setor de biotecnologia, como a Monsanto, a Basf, a Bayer, a Dupont, a Arysta LifeScience e a Dow AgroSciences, entre outras.
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