Transocean, BP e Halliburton se defendem em Washington
Acusados de responsáveis pelo naufrágio da plataforma de petróleo no Golfo do México e da consequente poluição atinge a costa norte-americana, os diretores das três empresas envolvidas trocaram acusações terça-feira (11/5) diante de uma comissão do Senado.
O presidente Barack Obama pede ao Congresso para que o controle seja reforçado.
Enquanto o petróleo continua a vazar de um poço situado a 1500 metros de profundidade no Golfo do México e a poluição avança para o litoral, Transocean – empresa norte americana de perfuração sediada na Suíça – e outras duas das maiores empresas mundiais do setor petroleiro foram acusadas pela catástrofe. Terça-feira (11/5) elas trocaram acusações em Washington.
Transocean, British Petroleum e Halliburton são habituadas ao Congresso, mas não como acusadas.
As três empresas, que estão entre as que dominam o setor petroleiro mundial, frequentam os corredores do Congresso e do governo dos Estados Unidos, onde preferem atuar para influenciar a política petroleira e a regulamentação de suas atividades.
Interrogações duras
Mas Transocean, a companhia norte-americana sediada no estado (cantão) de Zoug, BP e Halliburton tiveram de sair dos corretores terça-feira e responder, sob sermão, ao interrogatório dos membros democratas e republicanos da comissão de energia e recursos naturais do Senado. Como a sessão era pública, tiveram ainda de aceitar a presença de jornalistas e fotógrafos.
Steve Newman, diretor-presidente da Transocean, líder mundial de perfuração em mar, prometeu cooperar nas investigações do Congresso e a um outro inquérito paralelo dos ministérios da Justiça e do Interior. Esses inquéritos visam determinar as causas da explosão da plataforma Deepwater Horizon, propriedade da Transocean, que naufragou dia 20 de abril, provocando vazamento até a superfície de um poço situado a 1500 metros de profundidade.
O PDG da Transocean disse a companhia “respeita e até ultrapassa as exigências de segurança estipuladas pela regulamentação em vigor nos Estados Unidos”.
Rejeição da responsabilidade
No entanto, Steven Newman rejeitou a responsabilidade pela catástrofe, sublinhando que a Transocean tinha alugado a plataforma à BP e terceirizado à Halliburton o trabalho de construir um sistema de proteção dos poços de petróleo e de suas válvulas.
Por sua vez, Lamar McKay, diretor da filial norte-americana da BP, quarta companhia de petróleo do mundo, comprometeu-se a “pagar todos os custos de limpeza da poluição e todos os pedidos legítimos de indenização” das vítimas do desastre.
Mas a empresa britânica atribuiu a responsabilidade da poluição à Transocean “que era encarregada da segurança das operações de perfuração”, disse McKay.
Como não podia deixar de ser, Tim Probert, responsável de questões ambientais da Halliburton, número dois mundial de serviços petroleiros, acusou a BP e a Transocean.
Propostas de Obama
Outras comissões no Senado e na Câmara vão continuar o inquérito parlamentar e ouvir os responsáveis das três empresas envolvidas. Na Casa Branca, Barack Obama ordenou que cientistas independentes trabalhem em conjunto com a BP, a Halliburton e a Transocean, para encontra soluções aos problemas concretos.
O presidente norte-americano também propõe ao Congresso melhorar o controle das plataformas off shore pelo governo, reforçando o órgão público de regulamentação do setor petroleiro, há muito acusado de favorecer as companhias em detrimento da segurança das operações e da proteção ambiental.
Reunião de acionistas em Zoug
Para a Transocean, a catástrofe já provocou uma queda de 28% do valor de suas ações em bolsa, desde a explosão da plataforma. Steve Newmann, que assumiu a direção da empresa em março último, enfrentará pela primeira vez os acionistas na assembleia anual prevista sexta-feira, em Zoug, Suíça.
A reunião pode ser agitada, até porque a Shareholders Foundation, uma ong da Califórnia que defende os interesses dos investidores, lançou ontem um apelo aos acionistas para dar queixa coletiva na justiça. A fundação não respondeu à swissinfo, antes da publicação deste artigo.
Enquanto isso, os poços continuam a vazar 5 mil barris de óleo no Golfo Pérsico e a poluição se espalha lentamente para o litoral e já causou danos a um refúgio natura das ilhas de areia ao largo da Louisiana, adiando a temporada de pesca.
Por enquanto, todas as tentativas de vedar o vazamento não deram certo e dispersar o óleo com detergentes químicos não o impediu de se espalhar.
Marie-Christine Bonzom, Washington, swissinfo.ch
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)
Transocean está sediada no estado de Zoug, na Suíça.
A empresa é dirigida por Steven Newman desdemarço de 2010
Ela foi fundada nos Estados Unidos em 1973
A sede foi trasferida para a Suíça em dezembro de 2008
Antes, a sede era nas ilhas Cayman
A empresa emprega 20 mil pessoas e está presente em 20 países
Em 5 de maio último, Transocean anunciou um faturamento de mais de 2,6 bilhões de dólares no primeiro trimestre de 2010.
O acidente ocorreu dia 20 de abril. A explosão e o incêndio provocaram a morte de 11 trabalhadores. A plataforma Deepwater Horizon, situada a aproximadamente 80 km a sudoeste de Venice (Lousiana) naufragou.
Era uma das maiores e mais sofisticadas plataformas do mundo, explorada pela BP desde setembro de 2007.
Desde o acidente, milhares de barris (as estimativas vão de 1000 a 7000) vazam diariamente no Golfo do México. Segundo especialistas, pode ser a mais grave poluição da história.
Técnicos trabalham para vedar o vazamento, mas as operações poderão levar semanas, senão meses. Do Golfo do México, onde existem cerca de 3.500 poços, são extraídos um terço do petróleo e um quarto do gás consumidos nos Estados Unidos.
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