Vacina contra a Covid-19 do futuro poderá ser um spray nasal
A pesquisa sobre o coronavírus continua na Suíça. Os estudos mais promissores estão voltados para o desenvolvimento de vacinas mais eficazes, capazes de bloquear o vírus já no nariz, o primeiro órgão com o qual ele entra em contato.
Fala-se cada vez menos sobre ele, mas o coronavírus não desapareceu. As pesquisas ainda estão sendo feitas? Como a ciência e os desenvolvimentos suíços podem contribuir para acabar com a pandemia?
Marcel Salathé, epidemiologista e diretor do programa de pesquisa Covid-19 do Fundo Nacional Suíço de Pesquisa Científica (FNS), tem a resposta pronta. Em uma entrevista coletiva realizada neste mês, o cientista e um grupo de colegas apresentaram as pesquisas que estão sendo conduzidas na Suíça com financiamento público. Seu apelo é claro: “O coronavírus permanecerá entre nós: a pesquisa deve, portanto, ser mantida com a mais alta prioridade.”
Entre os objetivos mais ambiciosos está o desenvolvimento de novas vacinas mais eficazes, econômicas e fáceis de administrar. Mas também estão sendo realizadas pesquisas sobre a prevenção da Covid longa e sobre os efeitos da pandemia na saúde mental.
Desde abril de 2020, o Programa Nacional de Pesquisa Covid-19 (PNR 78Link externo) do Fundo Nacional Suíço (FNS) financiou 28 projetos de pesquisa envolvendo cerca de 200 cientistas, com um orçamento total de CHF 20 milhões. Os estudos se concentram particularmente no monitoramento da evolução da pandemia, na prevenção e no desenvolvimento de novas vacinas, terapias e técnicas avançadas de diagnóstico do vírus.
Algumas dessas pesquisas já produziram resultados concretos: testes em massa com baixo custo para detectar anticorpos contra a Covid-19 – desenvolvidos pela primeira vez por um grupo de pesquisa da EPFL – e sensores para medir e monitorar traços do SARS-CoV-2 no ar e na água.
Uma vacina nasal mais eficaz a longo prazo
Vários projetos de pesquisa financiados na Suíça têm como objetivo desenvolver novas vacinas. Entre as mais promissoras está uma vacina nasal desenvolvida pelo Instituto de Virologia e Imunologia (IVI) de Berna. A vacina utiliza uma forma enfraquecida do SARS-CoV-2 – chamada “viva atenuada” – que não causa a doença, mas ativa uma resposta imunológica, uma técnica que já foi empregada com sucesso contra outros vírus, como o do sarampo.
A administração nasal possibilita a produção de muitos anticorpos ainda na mucosa nasal, ao contrário das vacinas de RNA mensageiro (mRNA), e o bloqueio da multiplicação do vírus nos estágios iniciais da infecção, já no local em que ele entra no corpo.
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Boletim: Coronavírus na Suíça
“Descobrimos que desencadear a resposta imunológica a partir da mucosa nasal ajuda a minimizar o máximo possível a transmissão do vírus”, diz Volker Thiel, o virologista do IVI que coordena a pesquisa. Seu grupo está trabalhando atualmente com a empresa de biotecnologia RocketVax, sediada na Basiléia, para levar essa nova tecnologia para a fase clínica e depois para o mercado. “Mas é difícil prever quando isso vai acontecer”, afirma o pesquisador.
Vacina de mRNA: boa, mas poderia ser melhor
Na Suíça, as vacinas mais amplamente administradas são as vacinas de mRNA da Moderna (cerca de 60% das doses) e da Pfizer/BioNTech (cerca de 30%). Essas vacinas são seguras e oferecem uma proteção eficaz contra o desenvolvimento grave da doença. Mas dados recentesLink externo mostram que a proteção que elas oferecem contra a infecção sintomática causada pelas variantes Ômicron – as que mais circulam na Suíça – é muito reduzida tanto em indivíduos vacinados quanto em não vacinados, mas recuperados. De acordo com o grupo de pesquisa de Thiel, as vacinas vivas atenuadas, por outro lado, proporcionam uma melhor proteção contra as novas variantes do vírus.
Além disso, as vacinas de mRNA não oferecem uma proteção a longo prazo. Elas exigem doses de reforço constantes: já após dois ou três meses, a eficácia cai de 75 para 45%. “A duração da proteção é importante”, diz Thiel. Vários estudosLink externo já demonstraram que as vacinas nasais permitem o desenvolvimento de uma imunidade mais completa e duradoura em comparação às vacinas intramusculares, principalmente no caso de vírus que atacam o trato respiratório. Essas vacinas também são mais fáceis de transportar e armazenar do que as vacinas de mRNA, que devem ser mantidas numa temperatura entre -90 e -60 graus Celsius.
Um projeto de pesquisa liderado por Steve Pascolo, do Hospital Universitário de Zurique, pode ter encontrado uma solução para o problema do armazenamento. Sua equipe desenvolveu um vetor de vacina mRNA mais estável e facilmente transportável. O cientista também está trabalhando no desenvolvimento de uma vacina mRNA otimizada contra a Covid-19, capaz de induzir uma boa resposta imunológica com quantidades mínimas de mRNA injetado. Isso reduziria o custo e o tempo de produção de tais vacinas.
Os avanços da pesquisa sobre a Covid longa
No que diz respeito à prevenção da Covid longa, Salathé admite que o programa do FNS não financiou nenhum projeto específico. “Algumas pesquisas em andamento podem ser relevantes, mas ainda é muito cedo para saber”, afirma.
Uma dessas pesquisasLink externo forneceu informações sobre causas anteriormente desconhecidas da Covid longa. Acredita-se que ela esteja relacionada a baixos níveis sanguíneos de duas classes específicas de anticorpos, o que desencadeia uma resposta imune enganosa.
Fatores que aumentam o risco de Covid longa também são a idade, um número elevado de sintomas na fase inicial da infecção e asma. A identificação precoce da Covid longa poderia facilitar o desenvolvimento de novas opções de tratamento mais específicas, afirma o epidemiologista.
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O que se descobriu sobre a Covid longa até agora
Saúde mental e o impacto social da Covid
Os estudos não estão focados apenas na saúde física dos pacientes de Covid. Vários grupos estão tentando analisar os efeitos da pandemia em nossa psique e a maneira como o isolamento aumentou os problemas mentais – como a depressão, o abuso de álcool e os distúrbios do sono – na população global.
Um grupo de pesquisaLink externo da Universidade de Berna está tentando criar um “atlas” da saúde mental mundial para determinar a extensão global dos distúrbios mentais ligados à pandemia e a sua relação com a idade, gênero e origem geográfica das pessoas.
Em dezembro de 2022, o FNS lançará um novo programa intitulado “Covid-19 e Sociedade” (PNR 80) para compreender melhor os impactos sociais, econômicos e políticos da pandemia. O programa visa encontrar novas estratégias, mais eficazes, para lidar com as crises sanitárias atuais e futuras. “A pesquisa é crucial para isso, mas só funcionará se pudermos trabalhar com os formuladores de políticas públicas para implementar os resultados”, diz Salathé.
Adaptação: Clarice Dominguez
(Edição: Fernando Hirschy)
Adaptação: Clarice Dominguez
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