Chanceler do Suriname assume comando da OEA em tempos desafiadores

O ministro das Relações Exteriores do Suriname, Albert Ramdin, liderará a Organização dos Estados Americanos (OEA) pelos próximos cinco anos em meio a turbulências financeiras e políticas, após ser eleito por aclamação nesta segunda-feira (10).
O diplomata de carreira se tornará o primeiro caribenho a comandar a organização criada em 1948 a partir de 25 de maio, quando termina o mandato do uruguaio Luis Almagro.
Como ele era o único candidato após a retirada do paraguaio Ruben Ramirez, Dominica e Peru convocaram os 34 países com direito a voto a eleger Ramdin por aclamação durante uma assembleia geral extraordinária realizada em Washington.
Felicitações e sorrisos deram lugar aos discursos dos países-membros, que mais uma vez revelaram as divisões entre direita e esquerda.
A secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Maria Laura da Rocha, foi implacável em suas críticas.
“No lugar do diálogo, da diplomacia e da negociação, [a organização] optou, em certos casos, pela sanção” contra “aqueles considerados em conflito” com os valores comuns, disse a diplomata.
Afirmou também que em vez de proteger a independência e os canais de comunicação com todas as partes em situações de tensões internas, a OEA tomou “partido em disputas internas”, gerando o efeito oposto ao pretendido, com o qual a OEA “perdeu legitimidade” e a capacidade de encontrar soluções em crises como as da Venezuela e da Nicarágua, argumentou.
O Brasil defende “a busca de compromissos e consensos”, um dos credos repetidos inúmeras vezes nas últimas semanas por Ramdin, um diplomata de carreira de 67 anos que conhece muito bem os meandros da OEA, já que foi secretário-adjunto da organização entre 2005 e 2015.
Ramdin retorna em grande estilo e com o apoio dos Estados Unidos, um dos principais contribuintes financeiros da OEA.
“Estamos confiantes de que ele fará um excelente trabalho”, disse Michael Kozak, funcionário de alto escalão do escritório do Departamento de Estado para as Américas.
– Agenda de Trump –
Kozak deixou claro para seus parceiros as prioridades do presidente Donald Trump, que trava uma cruzada contra a imigração ilegal e os cartéis de drogas.
“Pedimos que priorizem os esforços para garantir a segurança das fronteiras de todos os Estados-membros, promovam a aceitação dos cidadãos repatriados, garantam que os requisitos de visto sejam implementados e melhorem as condições econômicas”, disse ele.
“É de vital importância que ele trabalhe conosco para impedir que organizações criminosas transnacionais aterrorizem nossos países”, acrescentou Kozak, que, como muitos outros membros, elogiou o trabalho de Almagro, considerado por alguns muito alinhado com Washington.
“Nunca devemos fechar os olhos” à “tirania”, ele insistiu. “Os regimes de Venezuela, Cuba e Nicarágua privaram seus povos de direitos básicos, prenderam seus oponentes políticos e conspiraram com adversários estrangeiros para minar a paz e a estabilidade regionais”, disse o funcionário.
Sem citar a China, um observador sem direito a voto cuja sombra paira sobre a OEA, a autoridade criticou “atores antidemocráticos na região, apoiados por adversários extracontinentais malignos que buscam expandir sua influência”.
No entanto, Almagro, igualmente aplaudido e insultado, também foi alvo de críticas cáusticas.
A OEA não está autorizada a “intervir nos assuntos internos dos Estados-membros”, disse a ministra das Relações Exteriores da Bolívia, Celinda Sosa Lunda, cujo país realizará eleições gerais em agosto.
– “Conspiração” –
“Não aceitaremos uma repetição da história deplorável de conspiração e interferência realizada pelo ex-secretário-geral”, alertou a chanceler.
Seu colega equatoriano, o vice-ministro das Relações Exteriores Carlos Játiva, reconheceu que, devido à “mudança de época” que o mundo está vivendo, Ramdin terá que liderar a OEA “em meio a uma tempestade”.
Mas as constantes mudanças nas orientações políticas “não devem impedir a conciliação de posições para o bem comum”, lembrou.
O surinamês liderará a OEA em meio ao turbilhão reformista promovido nos Estados Unidos por Trump, com constantes ameaças de tarifas aos parceiros comerciais.
O magnata republicano também retirou seu país de organizações internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS).
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