The Swiss voice in the world since 1935

Chile busca um Estado com direitos sociais em processo que reacendeu as ruas

Homem vota para eleger os meembros de uma convençõ encarregada de reescrever a Constituição chilena afp_tickers

O Chile começará a repensar seu modelo social com a instalação da Convenção Constitucional em 4 de julho. Tanto o eleitorado quanto os 155 constituintes defendem que o Estado tenha um papel protagonista, conforme garantido pelos direitos sociais que a cidadania exigiu nas ruas.

Frases que alertam o fim do modelo neoliberal que fez do Chile o aluno exemplar da América Latina são mencionadas por líderes políticos de esquerda e direita, e de partidos tradicionais que sofreram uma grande derrota nas urnas. As votações deram sinais coerentes com o que expressou a onda de manifestações que abalou o país em 2019.

Alguns setores temem que o Chile tenha um processo constituinte como os da Venezuela em 1999, da Bolívia em 2006 ou do Equador em 2007, que acabe distorcendo o objetivo principal de mudar a Constituição elaborada durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), que serviu como base para um país desigual que funciona como “uma grande empresa privada”, segundo seus críticos.

“Acredito que uma das grandes diferenças deste processo é que não está sendo empurrado de cima para baixo, por um movimento político ou um líder político que tenha um programa, ou que tenha uma vocação de poder para transformar o país”, disse à AFP Marcela Ríos, representante assistente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Chile.

Em 4 de julho, como anunciou o presidente Sebastián Piñera, 155 cidadãos eleitos em maio se reunirão pela primeira vez e, no prazo de um ano, terão a “grande oportunidade de alcançar acordos amplos e sólidos, que permitam dar origem a uma Constituição que seja reconhecida e respeitada por todos”, disse.

Embora a participação eleitoral chilena na democracia tenha sido baixa desde 1990, em 25 de outubro de 2020 50,1% do eleitorado de quase 14 milhões de pessoas aprovou a elaboração de uma nova Constituição, em um plebiscito que foi comemorado por multidões como o início do fim “da transição”, em referência ao processo democrático que encerrou o regime militar.

– Inclusão –

O atual processo chileno aborda os grandes temas que abalam o mundo: cansaço das elites políticas e econômicas, desconfiança nas instituições e a necessidade de maior amparo em questões sociais, que ficaram ainda mais expostas pela pandemia de coronavírus.

Uma grande parte dos 155 constituintes eleitos são independentes – a maioria de esquerda e centro-, os representantes de direita contam com 37 cadeiras e 27 são da Lista del Pueblo, visto como a ala esquerdista mais radical. Além disso, foram escolhidos com igualdade de gênero: 77 mulheres e 78 homens, além de 17 representantes dos povos indígenas.

O grande desafio desta Convenção será “chegar efetivamente a acordos e consensos”, já que nenhuma força obteve o número necessário para bloquear ou impulsionar sua própria agenda.

Entre os 155 constituintes, 71 são advogados ou especialistas em leis, além de professores, sociólogos e uma grande representação de ativistas ambientais e líderes sociais de áreas com problemas históricos de poluição do ar, da terra ou da água, devido à exploração indiscriminada de matérias-primas.

Mais lidos

Os mais discutidos

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR