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A nanotecnologia também revoluciona a medicina

A nanotecnologia também significa imprimir circuitos eletrônicos cada vez mais finos em placas de material semicondutor. Keystone

O progresso prometido pela nanotecnologia afeta todas as áreas. Na medicina, ele deve revolucionar o diagnóstico e o tratamento.

É o que explica o pesquisador Patrick Hunziker, no âmbito da “Swiss Nano Convention 2011”.

“Vitrine” para a ciência da nanotecnologia suíça, segundo as palavras de Pierangelo Gröning, presidente do comitê organizador, a “Swiss Nano Convention 2011” reuniu em Baden (centro-norte) cerca de 250 pessoas, entre especialistas e interessados pelo progresso a ser alcançado pela ciência do infinitamente pequeno.

Das telecomunicações à alimentação, da energia à invenção de novos materiais, a nanotecnologia está presente em todos os laboratórios de pesquisa. Na Suíça, das 350 patentes relacionadas à nanotecnologia, a maior parte (22%) diz respeito a componentes químicos, enquanto que apenas 6% a medicina.

Pode parecer pouco, mas o pesquisador Patrick Hunziker, professor de cardiologia e terapia intensiva do Hospital Universitário de Basileia e presidente fundador da Sociedade Europeia de Nanomedicina, explica que o valor esconde uma grande quantidade de descobertas.

Ele e sua equipe, por exemplo, estão desenvolvendo atualmente “nanocontainers” capazes de atingir células cancerosas, liberando nelas o produto terapêutico sem afetar as células e os tecidos saudáveis.

swissinfo.ch: Seis por cento das patentes de nanotecnologia na área médica, na Suíça, parece pouco. A medicina se interessa menos pela nanotecnologia do que as outras áreas?

Patrick Hunziker: São registradas tantas patentes, em todas as áreas possíveis, da construção de carros a computadores, até a soprador de vidro, que apenas 6% já representam um número absoluto enorme.

Nos últimos vinte anos, percebemos que a estrutura básica da célula é composta por nanoelementos. Sabemos agora que muitas doenças, como a arteriosclerose ou as doenças virais, começam em um nível nano. Foi preciso essa compreensão inicial para entender o alcance da nanotecnologia no campo da saúde. O que estamos tentando fazer é agir contra a doença nesta fase “nano”, tanto no diagnóstico como na terapia.

swissinfo.ch: Quer dizer que a intervenção é feita antes da manifestação da doença?

PH: As duas possibilidades existem. Por exemplo, para a aterosclerose, a doença é visível ao microscópio, mas o processo da doença acontece primeiro em uma escala nanométrica. É importante diagnosticar a doença o mais cedo possível. Mas a possibilidade de intervenção quando a doença é visível também existe na nanomedicina.

swissinfo.ch: Será que isso implica que seremos todos controlados sem estarmos doentes?

PH: As doenças mais importantes, em termos de prevalência, são as doenças cardiovasculares, o câncer e as infecções. São elas que causam mais mortes. A arteriosclerose, por exemplo, se desenvolve em 20 a 30 anos, o câncer também, antes de se manifestar clinicamente. Com os métodos baseados na nanotecnologia, podemos diagnosticá-los e tratá-los muito, muito mais rápido.

swissinfo.ch: Em que ponto está sua pesquisa?

PH: Estamos no momento do diagnóstico experimental da aterosclerose, do câncer e das doenças infecciosas. Procuramos criar uma estrutura altamente biocompatível para os nossos “containers”. É uma questão primordial. Queremos chegar a um objeto que seja 100% não tóxico e que não cause nenhuma doença. Testamos modelando os efeitos incontáveis das inúmeras variações causadas pela alteração de um único elemento. Eles têm que encontrar as células doentes, tratá-las com uma terapia muito forte e não danificar as células e tecidos saudáveis. Mas o caminho até uma experiência clínica ainda é longo.

Internacionalmente, muitos grupos de pesquisa obtiveram resultados encorajadores, sobretudo para os tumores cerebrais e o câncer do fígado. Sabemos que é possível. Minha esperança para daqui a 20 anos é que não precisaremos mais de unidades de terapia intensiva nos hospitais, porque seremos capazes de tratar os pacientes em uma fase bem precoce.

Estou convencido de que a ciência da nanotecnologia e a nanomedicina serão para a medicina do século XXI o mesmo que a farmacologia foi para a medicina do século XX. Além disso, a nanomedicina é uma tecnologia “verde”. O efeito terapêutico é 100 vezes mais forte do que o de uma substância tradicional. Isto significa que para o mesma efeito, precisamos de 100 vezes menos materiais, e sem os efeitos indesejáveis.

Ao eliminar os efeitos colaterais, a nanomedicina também eliminará os tratamentos que duram anos. Os custos não serão necessariamente mais elevados, o que permitirá a aplicação dessas descobertas nos países mais pobres também.

swissinfo.ch: A Suíça está bem cotada na pesquisa em nanotecnologia?

PH: Temos certamente um bom ambiente, que permite a excelência individual. Mas os sistemas são lentos. E muitos países como a Alemanha, a Grã-Bretanha, os EUA, o Japão, por exemplo, investem muito em pesquisa. Há um risco de perdermos nossa posição.

Segundo um estudo realizado por pesquisadores da Escola Politécnica Federal ( Assessing the Swiss Nanotechnology Landscape, Andrew McGibbon, Christian Soltmann e Roman Boutellier – estudo citado no jornal de Zurique Tages Anzeiger, de 17 maio de 2011), cerca de 140 institutos, empresas e particulares registraram, na Suíça, 350 patentes de invenções baseadas em nanotecnologia.

A maioria dessas patentes (22%) são da área química, seguido pela indústria farmacêutica (20%), instrumentos de medição (17%) e eletrônicos (17%). As aplicações médicas são responsáveis por 6% das patentes, a informática 3%.  

Mais de mil materiais nanotecnológicos são usados no mundo.

Professor de Cardiologia e Terapia Intensiva, Patrick Hunziker dirige a Clínica de Terapia Intensiva do Hospital Universitário de Basileia. Trabalhou e desenvolveu pesquisas nos Estados Unidos, Congo e China.

De acordo com a Swiss Nano Convenção de 2011, é um pioneiro da nanomedicina, na Suíça. Ele lidera uma equipe de oito pessoas que buscam a “fabricação” de “containers” capazes de tratar células doentes com um produto terapêutico sem afetar as células e tecidos saudáveis.

Ele também ajudou a criar a Fundação Europeia de Nanomedicina Clínica (CLINAM), que pretende pensar, além do mundo acadêmico, nas implicações das nanociências de um ponto de vista ético e suas aplicações nos países em desenvolvimento.

A IV Conferência Europeia CLINAM acontece em Basileia entre os dias 23 e 25 de maio.

Adaptação: Fernando Hirschy

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