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Braços estrangeiros, um sustentáculo do país

Os trabalhadores italianos - aqui durante um trajeto de trem no final dos anos 40 - chegaram maciçamente na Suíça. Keystone

Afetada pela reticência da xenofobia, mas com uma grande necessidade de mão-de-obra externa, a economia suíça recebe grande contribuição estrangeira.

Um salto na história permite compreender como a pequena nação, no centro da Europa, se tornou um ponto de convergência de numerosas etnias.

Há muito considerada uma terra de emigrantes, a Suíça se tornou no século XX um pais da imigração.

Etienne Piguet, professor de Geografia Humana, na Universidade de Neuchâtel, oeste, escreveu no seu último livro, A imigração na Suíça, que um terço da população helvética se origina do fluxo migratório, ocorrido desde a Segunda Guerra Mundial. Um quarto, porém, nasceu fora das fronteiras nacionais.

“Comparada a nações classicamente tidas como terra de imigrantes, como Estados Unidos, Canadá ou Austrália, os números relativos à Suíça são notáveis”, como Piguet conta a swissinfo.

A necessidade da força de trabalho

Um dos motivos que faz da Suíça uma meta dos migrantes é a sua peculiar situação topo-geográfica. “Quanto mais a superfície do país é pequena, mais a proporção dos residentes vindos do exterior é elevada”, explica Piguet, lembrando ao mesmo tempo a localização da Suíça no centro da Europa.

Mas a causa principal dos grandes fluxos migratórios do passado é outra. “A razão dominante, pelo menos nos últimos 50 anos, é a grande necessidade de mão-de-obra”, realça o professor.

Para confirmar essa tese, basta dizer que em 1950 havia 271.000 estrangeiros trabalhando na Suíça (5.1% da população total) contra 476.000 (9.1%) em 1960.

Coesão nacional graças aos estrangeiros

A história da imigração em solo helvético começou há muito tempo. Já nos séculos XVI e XVII, os cantões suíços de religião reformada acolheram refugiados protestantes que fugiram da França.

Mas é com a criação do estado federal (em 1848) que se assiste a uma verdadeira e efetiva abertura, em favor dos estrangeiros. A nova Confederação assenta de fato a sua identidade no princípio da livre circulação de bens e pessoas e seus valores multiculturais.

Nesse contexto, a missão humanitária da Suíça (acolhimento dos refugiados e vítimas de guerra) é considerada um elemento que consolida a nação.

Paralelamente, o desenvolvimento industrial da segunda metade do século aumenta a necessidade de mão-de-obra externa, em particular nos ramos têxtil, construção civil e metalúrgico.

“No final do século, a industrialização, a urbanização e a construção da rede ferroviária dão origem ao primeiro grande afluxo de italianos, que com os alemães e franceses, constituem a nacionalidade mais representada entre os imigrantes, até a Primeira Guerra Mundial”, diz o historiador Giovanni Casagrande, do Fórum suíço para o Estudo da Migrações.

A inversão nos rumos do governo

No período de 30 anos – do final do século XIX e começo do século XX – parte crescente das autoridades e da sociedade suíças considera uma “invasão” o rápido aumento de estrangeiros, cujos números explodem, passando de 211.000, em 1880, a 552.000 de 1910.

Significativos são os tumultos que eclodem em Berna em 1893 e em Zurique em 1896, quando ocorre violenta revolta popular contra os trabalhadores italianos.

Com a deflagração da Primeira Guerra, os trabalhadores estrangeiros foram rotulados de “indesejáveis”. Foi nesse período que se difundiu o conceito de Ueberfremdung, palavra alemã para designar a excessiva penetração estrangeira no país.

Pegando a onda desse marcante nacionalismo, o Governo decide romper com as disposições liberais sobre imigração e cria, em 1917, a Secretaria Central de Polícia dos Estrangeiros. A Suíça passa de uma política liberal de acolhimento e assimilação dos imigrantes a um controle de seus movimentos.
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Braço estrangeiro sustenta a economia

Os fluxos migratórios recomeçam depois da Segunda Guerra Mundial, graças aos impulsos proporcionados pela necessidade de mão-de-obra pouco qualificada.

Berna recruta seus trabalhadores estrangeiros, inicialmente na Itália (acordo de 1948), depois na Espanha e, em seguida, Turquia, em Portugal e na Iugoslávia.

No fim dos anos 60, afloram novamente os movimentos xenófobos. Em menos de dez anos, cinco iniciativas populares – todas rejeitadas – pedem medidas legais para limitar a população estrangeira.

Seguindo o esquema de flutuação, que caracterizou toda sua evolução, a imigração intensifica-se novamente nos anos 80. E mais uma vez, as necessidades do mundo econômico deixam em segundo plano as contestações xenófobas suíças.

O impacto sobre a economia

O afluxo de estrangeiros continuou progredindo no terceiro milênio e hoje seu efetivo aproxima-se do milhão e meio. “Além da necessidade da força de trabalho, surgiram outros motivos, como o asilo e o reagrupamento familiar”, observa Etienne Piguet.

Desejando proceder a uma primeira análise das conseqüências econômicas da imigração na Suíça, verifica-se que o balanço é moderado.

“De um lado, pode-se afirmar que a mão-de-obra estrangeira permitiu o desenvolvimento da economia. De outro lado, porém, o afluxo de trabalhadores pouco qualificados gerou problemas de integração e diminiu o ajustamento da economia helvética no contexto internacional”, conclui o professor de Neuchâtel.

swissinfo, Luigi Jorio
Tradução de J.Gabriel Barbosa

– Este artigo marca o início de nossa série de aprofundamento sobre a grande problemática relativa à imigração.

– A imigração na Suíça tem sido precedida e é sempre acompanhada por um fenômeno inverso: a emigração.

– Entre 1815 e 1914, meio milhão de cidadãos helvéticos deixam a mãe-pátria em busca de vida melhor em terras de além-mar.

– Motivo principal de tal fluxo é o empobrecimento de uma importante parte da população, particularmente os agricultores.

No fim de 2004, os estrangeiros residentes na Suíça eram 1.495.000 ou 20,2% da população helvética.
O total de estrangeiros tem aumentado 1,6% ao ano.
A principal comunidade estrangeira é representada pelos italianos com 300.214 pessoas.
Seguem-se os sérvios-montenegrinos (199.150), portugueses (159.737), alemães (144.864) e turcos (76.631).

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