Busca de trabalho na Suíça exige conhecimento de idiomas
A taxa de desemprego na Suíça costuma ser baixa em relação a outros países europeus, chegando a 2,3% da população ativa, em junho deste ano, segundo a Secretaria de Estado de Economia, SECO.
Porém os interessados em buscar trabalho no país devem avaliar primeiro as possibilidades e restrições estabelecidas nas leis suíças antes de lançar-se na nova experiência, além de dispor de bons conhecimento de pelo menos algum dos idiomas nacionais.
Cidadãos provenientes da União Européia têm mais chances de conseguir uma oportunidade de trabalho na Suíça porque podem beneficiar-se do acesso facilitado ao mercado de trabalho do país, independente da qualificação, segundo o que está estabelecido no acordo de livre circulação entre a Suíça e países da União Européia, em vigor desde 2004.
Segundo o Departamento Federal de Migrações, BFM (sigla em alemão), estrangeiros nessa situação podem estabelecer-se na Suíça como trabalhadores assalariados ou independentes, como estudantes em uma instituição pública ou privada, inclusive para fins de formação profissional. Também é permitido que cidadãos de países da UE permaneçam na Suíça, caso tenham recursos suficientes para si e para dependentes, desde que contem com seguro contra doenças e acidentes, válido na Suíça.
Europeus podem ainda trabalhar até três meses na Suíça sem autorização, porém o cidadão deve se inscrever na autoridade cantonal correspondente, declarando a natureza do trabalho. Caso o período de atividade seja de mais de três meses é preciso obter uma autorização de estadia, junto à autoridade local de residência do trabalhador.
Profissionais que queiram trabalhar na Suíça de maneira independente ou estejam procurando emprego há mais de três meses, também necessitam autorização.
(Mais informações: http://www.bfm.admin.ch/bfm/fr/home/themen/schweiz_-_eu/aufenthalt_der_eu.html
Último recurso
Para cidadãos não europeus, as restrições são maiores. Apenas profissionais qualificados, com diploma universitário e experiência, são admitidos, em contingentes limitados, ou em casos que justifiquem uma exceção. Por exemplo, quando se busca mão-de-obra especializada, não disponível na Suíça.
Segundo a ordem de prioridade, prevista na Lei dos Estrangeiros em vigor desde o início de 2008, o empregador que contrata um não europeu deve provar que: não encontrou nenhum profissional de nacionalidade suíça, nem estrangeiros em atuação na Suíça, e nenhum cidadão da comunidade européia.
Portanto, a melhor maneira vir para a Suíça para trabalhar é conseguir um contrato de trabalho antes de embarcar, o que permite ao profissional chegar ao país com um visto em mãos. Nesse caso, o empregador suíço deve entrar em contato com o consulado da Suíça na região onde vive o cidadão contratado antes da viagem.
Mais informações: http://www.eda.admin.ch/eda/pt/home/reps/sameri/vbra/cgsao/vissao.html#0026
Onde procurar
Normalmente as ofertas de empregos disponíveis são publicadas nos suplementos de jornais locais e diários oficiais como “Anzeiger” e “Journal Officiel” (grátis). Os grandes jornais regionais como “Tagesanzeiger”, “Le Temps”, “Basler Zeitung”, “Neue Zürcher Zeitung” também publicam suplementos especiais com anúncios de empregos.
Além disso, os sites especializados no assunto podem ajudar quem procura um emprego na Suíça. Alguns oferecem também dicas de como preparar currículos adequados. (ver lista).
Contatos pessoais, anúncios em supermercados oferecendo trabalho, busca em pontos de encontro de cada bairro (“treffs”) e até períodos de trabalho voluntário são estratégias possíveis para conseguir um emprego. Algumas vezes um trabalho temporário ou sem remuneração serve de trampolim para algo melhor, porém nem sempre é possível passar períodos sem remuneração, dependendo da situação pessoal.
Para estrangeiros, outra opção são as organizações internacionais, e a Suíça abriga várias delas. Nos sites de cada uma delas é possível obter informações de vagas disponíveis ou concursos.
Estratégia pessoal
O mexicano Ulises Macías chegou à Suíça sem profissão definida, em 2003. Depois de passar seis meses estudando alemão de forma intensiva conseguiu um emprego por intermédio de pessoas conhecidas.
“Meu primeiro trabalho foi cuidar de crianças em uma escola, no período em que ficavam realizando atividades depois das aulas”, conta ele que é casado com uma cidadã suíça. Logo em seguida ganhou a vida montando cenários para espetáculos até que decidiu entrar para a área da saúde e chegou a mandar currículos para dez hospitais. As respostas vieram de três deles, mostrando interesse.
“Comecei fazendo um estágio de assistente de enfermeiro” conta. “Agora trabalho na sala de cirurgia e faço um curso técnico de assistente para centros cirúrgicos, pago pelo hospital Sonnenhof, onde trabalho”, explica. Segundo Macías, a vantagem do setor hospitalar é que há interesse dos hospitais, sobretudo os privados, em investir na capacitação profissional dos contratados.
Quando os estudos são realizados na Suíça há mais possibilidade de conseguir um trabalho na área de estudo, ou ter os certificados reconhecidos facilmente. Esta foi a estratégia da venezuelana Verónica Vargas, que já completou cinco anos em território helvético.
“Logo que cheguei estudei alemão e depois fiz o curso de biblioteconomia e documentação, em Chur (cantão de Grisões)”, conta. Depois de fazer estágios na área, conseguiu um emprego de tempo integral na “Bern Zentralbibliothek”.
Idiomas
O conhecimento de francês, alemão ou italiano, idiomas oficiais suíços, aumenta as possibilidades de conseguir um trabalho. Quanto mais longe o imigrante estiver no aprendizado do idioma, mais rápida pode ser a integração no mercado de trabalho e na cultura do país.
O cubano José Israel Larrea Luna, hoje dá aulas de espanhol no Migros, mas já havia terminado os estudos em línguas germânicas quando decidiu vir para Suíça. Além disso, mandou o currículo para a escola de idiomas, mas só depois de um ano foi chamado para dar aulas.
Enquanto isso trabalhou em uma livraria, em Berna. Ele conta que até agora nunca teve salários muito altos. “Eu sei viver com pouco dinheiro porque cresci em outra sociedade”, diz. “Talvez eu não tenha as mesmas necessidades de um suíço”, completa Larrea que vive com seu companheiro. Segundo ele, para um imigrante que chega só, a vida é difícil e as condições de trabalho são duras. “Mesmo como professor, o trabalho é muito pouco constante, depende sempre do número de alunos”, explica.
Liberdade ou insegurança
O mercado de trabalho suíço é bastante flexível e permite que alguém assine contratos para trabalhar apenas meio período, ou três dias por semana, conforme seja o acordo entre as partes.
Ao mesmo tempo em que isso significa uma possibilidade para trabalhar um pouco menos e dedicar o resto do tempo a outras atividades, pode resultar também em um acordo de trabalho que não garanta a subsistência de uma família.
As leis da Suíça não prevêm valor de salário mínimo, limite de horas de trabalho ou décimo terceiro salário. A possibilidade de demitir ou contratar alguém é total, porém algumas categorias de trabalhadores são mais bem regulamentadas quando são negociados acordos coletivos de trabalho entre os sindicatos e os empregadores.
“As leis suíças relativas ao trabalho oferecem pouca proteção aos trabalhadores”, diz a portuguesa Margarida Pereira, secretária do sindicato Unia, na área de imigração.
Migrantes
Contratos de trabalho de grande flexibilidade geralmente reduzem os encargos para os empregadores, porém resultam também em desvantagens para os trabalhadores.
A insegurança gerada por este tipo de relação de trabalhista contribui, muitas vezes, para dificuldades de integração no local de trabalho, redução das oportunidades de promoção e instabilidades na vida pessoal e familiar do trabalhador.
Os migrantes são muitas vezes afetados por tais situações. Segundo Margarida Pereira os estrangeiros são os que mais sofrem com o mercado flexível, pois acabam se sujeitando às oportunidades que surgem como os trabalhos temporários e contratos por chamada, entre outros.
“Conheço casos de mulheres que aceitavam contratos para limpeza em hotéis eram pagas pelo número de quartos que limpavam”, diz. “Nas primeiras vezes limpavam muitos quartos e eram razoavelmente bem pagas, mas depois o volume de trabalho diminuía e elas já não podiam viver com o que ganhavam”, conta Margarida.
swissinfo, Heloísa Broggiato
Segundo dados do SECO, em junho de 2008, 91.477 pessoas estavam registradas como desempregadas, sendo 3.689 a menos que o mês precedente.
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) do governo brasileiro produziu uma cartilha com dicas para brasileiros com intenção de trabalhar no exterior:
http://www.mte.gov.br/trab_estrang/Brasileiros_no_Exterior_Cartilha_2008.pdf
O sindicato Unia publicou uma brochura de informações sobre os direitos dos trabalhadores na Suíça, em alemão e francês:
http://www.unia.ch/uploads/media/Broschuere_Abruf_dt_A6.pdf
http://www.unia.ch/uploads/media/Broschuere_Abruf_fr_A6.pdf
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