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Cada vez mais cogumelos graças às mudanças do clima

O agário-das-moscas ou mata-moscas é um cogumelo venenoso encontrado nos climas temperados Wikimedia Commons

Mudanças climáticas não têm apenas efeitos danosos à vida no planeta, como mostra um estudo recente realizado por pesquisadores suíços.

Cogumelos, uma das iguarias das florestas temperadas, se beneficiam do aumento das temperaturas, como mostra um estudo recente.

As mudanças climáticas parecem beneficiar o crescimento de cogumelos. Em uma reserva florestal do cantão de Friburgo são encontrados atualmente duas vezes mais cogumelos do que nos anos 1970 como demonstra um estudo do Instituto Federal de Pesquisas sobre a Floresta, Neve e Paisagem (WSL, na sigla em alemão).

Os pesquisadores Ulf Büntgen e Simon Egli analisaram controles realizados entre 1975 e 2006 na reserva micológica (n.r.: de micologia, estudo dos fungos) de La Chanéaz, próximo ao vilarejo Montagny (oeste). A cada semana, desde a criação da reserva, especialistas identificam e contam os fungos nas parcelas preservadas de colhedores e de animais selvagens. Os esporocarpos – a frutificação, a parte visível do cogumelo – são marcados para evitar que sejam contados mais de uma vez.

Como escrevem os pesquisadores na revista “Frontiers in Ecology and the Environment” (Fronteiras em Ecologia e Meio Ambiente), trata-se do inventário micológico mais longo já realizado. Em 32 anos, 65.631 cogumelos em micorriza – uma associação mutualística do tipo simbiótico, existente entre certos fungos e raízes de algumas plantas – de 273 diferentes espécies foram identificados.

Aumento considerável 

Praticamente todos os cogumelos comestíveis vivem em simbiose com as árvores. A parte subterrânea, o micélio, fornece à árvore sais minerais e água e recebe em troca hidratos de carbono produzidos pela fotossíntese. Na Suíça existem aproximadamente 1.500 cogumelos que vivem em sistema de micorriza, ressaltou Simon Egli, micólogo no WSL.

O estudo mostrou que, no decorrer dos anos, a quantidade de cogumelos tem aumentado continuamente. De 1975 a 1991, a média era de 1.313 por ano, contra 2.730 de 1991 a 2006. “Esse resultado nos impressionou”, comenta Egli.

Os pesquisadores supõem que as melhores condições de crescimento explicam essa alta considerável. Desde 1975 as temperaturas aumentaram, de fato. Assim a fotossíntese das árvores melhorou e se tornou mais longa durante o ano, o que beneficia a simbiose com os cogumelos.

Frutificação retardada 

O estudo mostrou igualmente que a frutificação dos cogumelos no final do verão se produz, atualmente, dez dias mais tarde do que em 1991. Os verões quentes e secos são a causa principal do fenômeno, explica o climatologista Ulf Büntgen. A maior parte dos cogumelos brota da terra entre agosto e o início do inverno.

“Após a seca de 2003 não houve uma diminuição na quantidade de cogumelos”, explica Büntgen. “Eles simplesmente brotaram. No outono é mais o nível de precipitações pluviais que determina a abundância de cogumelos.”

Segundo os pesquisadores, essas constatações não são necessariamente aplicáveis a outras regiões. Além disso, é possível que a qualidade do ar tenha alguma influência. Por outro lado, não se trata do envelhecimento da floresta, pois as parcelas testadas foram sempre exploradas normalmente.

Melhores colheitas 

Os pesquisadores supõe que o aquecimento global poderá ter diferentes influências positivas sobre os cogumelos: melhores colheitas para os fãs da iguaria, mais alimentos para os animais e, igualmente, mais nutrientes para as árvores através da simbiose em micorriza.

Para Egli é difícil dizer o que acontecerá se a elevação das temperaturas continuar. “De forma geral, tanto que a árvore hospedeira continue a viver, os cogumelos em micorriza também”, avalia o especialista. Se a seca se agrava, haverá menos frutificação, mas os cientistas partem do princípio que os cogumelos, levando-se em conta sua diversidade, podem até certo ponto se adaptar às mudanças climáticas.

Trufas na Suíça 

Elas também poderão modificar a distribuição de alguns tipos de cogumelo. Um exemplo: os pesquisadores do WSL descobriram recentemente, pela primeira vez, trufas nas proximidades do lago de Constança, no sul da Alemanha.

A equipe de Ulf Büntgen apresentou a descoberta na revista “Frontiers in Ecology and the Environment”. A descoberta mais significativa foi de uma trufa de Borgonha de 414 gramas. Os pesquisadores também descavaram outras espécies de trufas em mais de 70 locais na mesma região.

Até então não havia indicações da existência de trufas nas regiões do lago de Constança, ressalta Büntgen. Isso pode significar que a distribuição da conhecida iguaria começa a se expandir. Mas com ressalvas: “Até então ninguém havia procurado sistematicamente trufas na região.”

Porém está claro que o clima se torna cada vez mais seco no espaço mediterrâneo, uma tendência que não foi ainda observada ao norte dos Alpes. Cientistas supõe que a seca é responsável pela queda das colheitas de frutas nas regiões tradicionais de produção como Espanha, França e Itália.

Ao mesmo tempo surgem cada vez mais trufas ao norte dos Alpes. Nesse caso, os cientistas também apostam na ocorrência de uma mudança geográfica, como já foi observado no caso de algumas plantas.

Trufa ou túbera é o nome vulgar dado aos corpos frutíferos subterrâneos das espécies de Tuber, um género de fungos da família Tuberaceae.

Algumas das espécies têm sabor e aroma agradáveis, sendo consumidas pelo homem há mais de três mil anos.

Possuem aspecto de mármore negro e bege.

A colheita é feita recorrendo a porcos ou cães adestrados que as podem localizar por meio do olfato.

A trufa nasce sob a terra, a uma profundidade de 20 a 40 centímetros, próximo à raiz de carvalhos e castanheiras.

As melhores trufas brancas vêm de Alba, pequena cidade italiana entre Turim e Milão.

Já as trufas negras tradicionais são de origem francesa, da região de Périgord.

O trufeiro, especialista em trufas, é quem revolve a terra e retira a trufa do solo sem quebrá-la nem ferir-lhe a superfície.

Ela só terá valor se as suas características originais forem preservadas.

Texto: Wikipédia em português

Adaptação: Alexander Thoele

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