Capital embaixo d’água
Cidades e regiões da Suíça estão inundadas ou isoladas do resto do país. Um dos locais mais atingidos foi a capital helvética, cuja cidade baixa vive uma situação sem precedentes.
O rio Aare transbordou e fez das ruas da cidade baixa o seu leito. As águas carregam tudo no caminho como troncos, lixo e até mesmo contêineres.
As pontes de Berna se transformaram em mirantes. Centenas de turistas e moradores se espremem para observar um espetáculo da natureza que, na realidade, também tem um lado trágico para a capital suíça.
As chuvas diluvianas que caíram durante o fim-de-semana passado fizeram transbordar os lagos das regiões centrais do país e seus rios. O rio Aare, que atravessa Berna, chegou a níveis recordes de vazão. Suas águas subiram e ocuparam as duas margens, inundando caminhos, piscinas, casas, bairros inteiros e destruindo tudo no seu caminho.
A cidade baixa de Berna, um dos bairros mais típicos com suas casas antigas de pedra e colunas de madeira, foi completamente inundada. Por estar localizada quase ao nível do rio, suas águas subiram pela murada e ocuparam todas as ruas, submergindo porões, casas e um número incontável de veículos.
Salvamento por helicóptero
Grande parte dos 1.100 moradores do bairro, mais conhecido como “Matte”, foi evacuada pelas equipes de salvamento e do exército. Porém na tarde de terça-feira, quinze pessoas, dois cães e quatro gatos chegaram a ser retirados de helicóptero.
O salvamento por ar foi necessário devido à forte correnteza das águas que ainda corre pelas ruas e atravessa janelas dos apartamentos abandonados. Nem a polícia sabe quantas pessoas ainda se encontram no local e qual a razão que as leva permanecer no bairro, cujo fornecimento de energia elétrica foi cortado.
– Algumas pessoas são meio orgulhosas e dizem que são nativos e ficam de qualquer jeito no Matte, custe o que custar – conta Barbara Hayoz, chefe de polícia.
Os desabrigados foram hospedados por familiares ou amigos. A prefeitura de Berna também disponibilizou abrigos de emergência.
“Pior que 1999”
Franca Gianella foi a última a abandonar o prédio que vive no centro do Matte. O primeiro andar está embaixo d’água. Como ela vive no último piso, não chegou a correr risco de vida. “O único incômodo foi no momento em que a luz foi cortada, pois passei então a noite completamente no escuro”, conta.
Ela e seus dois cachorros foram resgatados ontem por um barco da defesa civil. Gianella não sabe quando vai poder retornar ao seu apartamento. Seu único medo é que outras inundações possam ocorrer no futuro, afinal, essa não é a primeira vez que o Aare transborda.
Em 1999, chuvas fortes provocaram uma grande inundação no bairro e em outros locais de Berna. Porém como confirmam muitos moradores, a situação não foi tão dramática como agora. “A diferença é que a água havia apenas subido, mas agora é o próprio rio que colocou sua correnteza nas nossas ruas”, explica.
“Autoridades não tomam providências”
Para alguns habitantes de Berna, um dos culpados pela situação dramática vivida é a prefeitura de Berna. As autoridades não teriam aprendido a lição durante as inundações de 1999 e tomado as medidas necessárias.
– O governo deveria ter melhorado as condições nas barragens, para que ela não fosse entupida pela enorme quantidade de madeira flutuante que poder descer depois de um temporal. Além disso, eles também não dragaram o rio como foi prometido – afirma Franca Gianella.
Não muito distante, no elevador que transporta os moradores da cidade baixa para a parte alta, um condutor tenta explicar porque tem tanta madeira no rio depois ds chuvas do fim-de-semana.
– Antigamente existiam pessoas que cuidavam das florestas cortando as árvores e aproveitando-as no aquecimento das casas. Hoje em dia, o que cai no chão fica com a desculpa de que se trata de adubo para a terra. Além disso, nenhuma residência na cidade utiliza mais o aquecimento à base de madeira.
Desânimo
Durante o dia alguns habitantes de Berna decidiram caminhar pela cidade e ver como seus locais preferidos foram atingidos pela água.
Lorrainebad, uma piscina natural alimentada pelas águas do Aare e muito freqüentada por famílias e jovens, desapareceu nas águas. Os caminhos à margem do rio também estão cobertos de água, como diversas casas e prédios localizados no mesmo nível.
Jeanette Pignolet e Jörg Leuenberger, dois moradores do Matte, contam que não dormem há três dias. “Estávamos fazendo um churrasco na segunda-feira à noite, quando percebemos que as águas do rio não paravam de subir”, conta.
Ela e seu marido abandonaram a residência e carregam consigo o gato Speedy. A dúvida é saber se um dia o bairro que vivem irá viver mais uma outra catástrofe.
– Na última inundação, há seis anos atrás, nos disseram que se tratava de um fenômeno secular. Será que agora esse tempo maluco não vai provocar mais outras catástrofes parecidas?
swissinfo, Alexander Thoele
A inundação em Berna já está sob controle, como anunciam as autoridades. Porém se continuar a chover, a situação pode piorar.
Desde a manhã de terça-feira as equipes de salvamento foram reforçadas pela chegada de 150 soldados das tropas de engenharia.
Três barcos estão sendo utilizados para evacuar os poucos habitantes da cidade baixa que ainda estão nas suas residências.
Às 6 horas da manhã da terça-feira (23.08), o rio Aare chegou a vazar 603 metros cúbicos de água por segundo, um recorde histórico.
Os prejuízos provocados pela inundação ainda não foram calculados, mas devem passar de algumas centenas de milhões de francos.
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