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Cientistas alertam para disseminação de uma nova variante do coronavírus

Passengers arrive at an airport
Turistas desembarcando no aeroporto de Lanzarote, nas Ilhas Canárias, Espanha. Keystone / Javier Fuentes

Uma variante do coronavírus detectada pela primeira vez entre trabalhadores rurais na Espanha dissemina-se pela Europa desde o verão. Hoje seria responsável pela maioria dos novos casos de COVID-19 em vários países e mais de 80% das infecções no Reino Unido.

Uma equipe internacional de cientistas envolvida no rastreamento do vírus através das suas mutações genéticas, publicou na quinta-feira um artigo científico onde dão razões para a forte propagação de uma variante chamada 20A.EU1.

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FT

O estudo afirma que as pessoas que retornaram de férias da Espanha desempenharam um papel importante na recente transmissão do vírus na Europa, levantando dúvidas se a segunda onda que atingiu o continente teria sido menos intensa se tivesse havido uma melhor detecção de casos em aeroportos, estações ferroviárias ou de ônibus.

Uma vez que cada variante tem sua própria assinatura genética, é possível rastrear o local exato de sua origem. “No caso da propagação de 20A.EU1, parece claro que as medidas preventivas não foram suficientes para deter a propagação das variantes que apareceram no verão”, afirma Emma Hodcroft, geneticista da Universidade da Basiléia e principal autora do estudo publicado na quinta-feira em uma revista especializada.

Pesquisadores na Suíça e na Espanha examinam o comportamento da variante citada para decifrar se é mais mortal ou infecciosa do que outras linhagens do vírus. Hodcroft ressalta que até agora “não há evidências de que a propagação acelerada desta variante do vírus seja devida a uma mutação que aumente o seu potencial de transmissão ou tenha impacto nos resultados clínicos.”

Porém a pesquisadora suíça aponta que o 20A.EU1 não se assemelha a nenhuma versão conhecida anteriormente do SARS-CoV-2, o vírus que causa o VIDOC-19. “Não vejo uma variante com este tipo de dinâmica desde que comecei a analisar as sequências do genoma do coronavírus na Europa”, diz.

Atualmente os cientistas trabalham nos laboratórios de virologia para determinar se o 20A.EU1 teve uma mutação na chamada “proteína spike”, usada pelo vírus para invadir as células humanas, modificando seu funcionamento.

Todos os vírus desenvolvem mutações (mudanças nas letras individuais do código genético) que podem ser agrupadas em novas variantes e cepas. Outra mutação do SARS-CoV-2, a chamada D614G, também foi identificada e se acredita que torna o vírus mais infeccioso.

Joseph Fauver, epidemiologista da Universidade de Yale, não trabalha na pesquisa citada, mas opina. “Precisamos de mais estudos deste tipo para encontrar as mutações que se tornaram mais comuns na população. Devemos analisá-las em detalhes e descobrir se tornam o vírus mais contagioso.”

A nova variante, que tem seis mutações genéticas distintas, surgiu em junho entre trabalhadores agrícolas da Catalunha (nordeste da Espanha) e se espalhou rapidamente entre a população local, de acordo com o estudo.

Tanja Stadler, professora de evolução computacional na Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH, na sigla em alemão), atuante na pesquisa, diz que a análise de amostras virais obtidas em toda a Europa nas últimas semanas mostrou que elas derivam da mesma variante. “Podemos ver que o vírus foi introduzido várias vezes em diferentes países e depois se espalhou entre as populações locais”, acrescenta Stadler.

Iñaki Comas, pesquisador do vírus, diretor do projeto SeqCovid-Spain e um dos autores do estudo, acrescenta: “Uma variante catalisada por um evento inicial de propagação em massa pode se espalhar a grande velocidade.”

Os pesquisadores concluem que o “comportamento de risco dos turistas que viajaram à Espanha, ignorando recomendações do distanciamento social até mesmo mais tarde, nos seus países”, contribuiu para a disseminação da nova variante.

A pesquisa revela que a nova variante do coronavírus explica oito em cada 10 casos no Reino Unido. Na Espanha, 80% das novas infecções ocorreram através dele. Irlanda, 60%, e França e Suíça seria até 40%.

O lockdown imposto na primeira parte do ano ajudou a controlar a disseminação do Covid-19. No verão o número de novos casos caiu consideravelmente. Entretanto o vírus tem se espalhado mais rapidamente na Europa nas últimas semanas. O surto forçou os governos de muitos países no continente a anunciar novas restrições às atividades sociais.

Adaptação: Alexander Thoele

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