Um jovem português veio à Suíça trabalhar como médico de família e hoje ajuda a formar esses profissionais. Junto com outros portugueses, fundou uma plataforma que une todos profissionais lusófonos que trabalham na área de saúde do país. Em entrevista, revela como evitar que pacientes retornem ao hospital.
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Filipe Carvalho
“Enquanto médicos de família devemos ver o indivíduo de forma holística: não é apenas a doença que deve ser considerada, mas também o indivíduo enquanto pessoa, cidadão, profissional.”
Alexandre Gouveia trabalha na UniSantéLink externo, em Lausanne, como médico de família e responsável clínico, acompanhando médicos em formação pós-graduada e estudantes de medicina. Ao longo dos anos tem estado envolvido em projetos de investigação relacionados com a área da saúde na Suíça. Desde 2014, o médico português fez de Lausanne a sua casa e por mais alguns anos irá permanecer na cidade às margens do lago Léman.
Gouveia viveu na ilha de São Miguel, nos Açores, até ingressar na Faculdade de Medicina da Universidade de LisboaLink externo. Entre 2009 e 2014 trabalhou como médico de família em Viana do Castelo e foi professor convidado na Universidade do Minho. Após 20 anos de ter iniciado os estudos de medicina, “o entusiasmo que obtenho cada vez que vejo um doente, que contato com outros médicos, mantem-se”.
O artigo faz parte da série Jovens Pesquisadores Portugueses na Suíça.
As suas funções de médico de família centram-se no acompanhamento regular de doentes. Enquanto responsável adjunto da policlínica de medicina geral exerce também funções de coordenação. Na área da formação realiza a supervisão dos médicos internos em medicina geral naquela instituição e faz o acompanhamento dos estudantes de medicina da Universidade de LausanneLink externo naquela instituição. Alexandre sublinha a importância de uma abordagem holística, onde se tenha em conta o indivíduo nos múltiplos papéis sociais que desempenha e o contexto familiar e educativo.
Devido ao seu conhecimento em cuidados de saúde primários e participação em projetos da UniSanté e do Centro Hospitalar Universitário Vaudois (CHUVLink externo), Alexandre Gouveia foi convidado a participar no projeto TARGET – READLink externo. Segundo os dados, cerca de 12% dos doentes, após alta hospitalar, regressa ao hospital nos primeiros 30 dias. Este ensaio clínico visa, assim, reduzir essas readmissões, focando-se num acompanhamento especializado a distância. A partir de maio de 2020, vão avaliar a eficácia deste programa financiado pela Fundação Nacional Suíça para a Ciência.
Alexandre Gouveia é também co-investigador noutros dois estudos: DIAFERLink externo e DAAP-PRLink externo. O primeiro tem como objetivo analisar o impacto da perfusão de ferro endovenoso no metabolismo glucídico. O segundo tem o intuito de estudar a prevalência de aneurisma da aorta abdominal e da artéria poplítea numa amostragem da população de Lausanne.
Alexandre Gouveia em seu consultório na UniSanté, em Lausanne.
swissinfo.ch
Em 2015, em conjunto com outros profissionais de saúde, criaram a associação LusoSantéLink externo, que agrupa profissionais lusófonos a trabalhar na Suíça francófona. Dessa forma criaram uma plataforma de contato entre os diversos profissionais e pretendem também apoiar na integração dos recém-chegados ao país helvético. Em novembro de 2019 realizaram o Fórum Santé, em Lausanne, dedicado ao sistema de saúde suíço e contou com cerca de 100 inscritos.
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