Demissão de treinadores faz parte do jogo
A mudança quase frenética de técnicos de futebol na maioria dos clubes também ocorre na Suíça. No FC Sion, um dos clubes mais conhecidos fora da Suíça, três técnicos já foram demitidos em menos de um ano.
Em entrevista a swissinfo, o psicólogo do esporte Mattia Piffaretti, analisa o impacto da troca de treinadores sobre plantel e afirma que essa tendência reflete uma mudança profunda no futebol.
Na Suíça, como em outros países em que clubes não dispõem de estrutura administrativa profissional, o futebol sobrevive graças ao mecenato, inclusive na primeira divisão profissional, chamada na Suíça de Super Liga.
É também o caso do FC Sion, um dos clubes mais conhecidos fora da Suíça. O arquiteto e promotor imobiliário Christian Constantin preside atualmente o clube pela segunda vez e reina em patrão absoluto. Personagem controvertido mas incontornável, seus detratatores o chamam de “orgulhoso”, “arrivista” e “pouco escrupuloso”.
Para seus admiradores, ele é uma raposa esperta e um homem apaixonado pelo futebol e pelo clube; mas é fato que, nos negócios como no futebol, o homem é ambicioso e faz tudo para ganhar, a qualquer preço.
Quando retomou o clube no final de 2003, o FC Sion estava na Segunda Divisão (Challenge League). Depois disso, ganhou a Copa da Suíça e subiu para a Super Liga.
Para a presente temporara, o objetivo era terminar o campeonato entre os primeiros e tentar uma classificação para uma das duas Copas da Europa: Liga de Campeões ou UEFA. Mas as coisas começaram a dar mais errado do que que gostaria o presidente.
E a história se repete: como não dá para mudar de time, muda-se o técnico quando os resultados são ruins.
Depois do argentino Neston Clausen, dos suíços Marco Schällibaum e Gabet Chapuisat, que dirige a equipe atualmente o italiano Alberto Bigon. Todos em menos de um ano!
Em entrevista a swissinfo, o fenômeno é analisado por Mattia Piffaretti. Psicólogo do esporte, ele é conselheiro de vários esportistas de alto nível e leciona psicologia do esporte na Faculdade de Medicina da Universidade de Genebra.
swissinfo: Mattia Piffareti, O que acha das mudanças constantes dos técnicos de futebol?
Mattia Piffaretti: Acho que o primeiro elemento é que a realidade do futebol profissional mudou. Não estamos mais na época em que os mecenas davam carta branca aos treinadores. Hoje vigora o “futebol-empresa” em que o aspecto econômico é central. O dirigente moderno quer ver o resultado de seu dinheiro. É um verdadeiro empresário, na acepção econômica do termo.
As mudanças rápidas de técnico não existem somente no Sion. É o reflexo de uma mudança no sistema geral do futebol.
swissinfo: Uma mudança de técnico deveria provocar um «choque psicológico». Isso é sempre benéfico?
M.P.: O «choque psiscológico» é o efeito esperado na mudança de treinador quando se julga que o atual não tem mais impacto sobre os jogadores.
O objetivo é fazer com o time obtenha melhores resultados, já que a questão, no esporte moderno, é encontrar uma maneira de atingir o melhor desempenho possível.
Então, no futebol como em outros esportes, a posição do treinador é frágil e suas possibilidades são limitadas. Os clubes consomem os técnicos cada vez mais rapidamente para conseguir o tal “choque psicológico”.
swissinfo: E isso pode ocorrer, apesar das mudanças repetidas?
M.P.: Hoje, todo treinadore precisar ser capaz de exprimir três tipos de competência: técnicas, estratégicas e psicológicas.
Significa que, além de suas competências em futebol, ele deve trabalhar no curto prazo e ser um motivador incansável. Precisa ainda saber gerir seu estresse e o estresse dos jogadores. Nessa nova perspectiva, o aspecto mental tornou-se central.
Quando essas competências existem, o técnico pode, por exemplo, agir sobre diferentes aspectos que terão um impacto para mudar uma equipe. As correções -como titularizar um reserva ou colocar um titular no banco – podem permitir que os jogadores se questionem, mudando a dinâmica do grupo.
Mas também é possível trabalhar variando os treinos e criando um ambiente de mais prazer entre os jogadores e fixando objetivos mais fáceis de ser atingidos. Nessas condições, o choque psicológico pode ser positivo.
swissinfo: A onipotência de um presidente – que contrata jogadores e gosta de falar nos vestiários – não pressiona muito os jogadores e o técnico?
M.P.: Não quero falar do caso específico do FC Sion porque não conheço internamente o clube. Vendo de fora, parece um problema da relação de confiança que deve existir entre a direção do clube e o treinador.
De um ladao, existe a necessidade de colaborar e de acompanhar o trabalho de um técnico; de outro, a necessidade de delegar essa tarefa e de confiar e ter uma confiança total. Nisso, a cultura de cada clube e do FC Sion é muito particular.
O problema da delegação é um ponto de interrogação que depende das pessoas que exercem certas funções. Cabe ao técnico e ao presidente discutir até onde vai a independência do treinador. Mas é claro que uma personalidade muito forte do presidente terá uma influência em todo o clube.
No caso atual do FC Sion, é preciso considerar que o presidente Constantin e o técnico italiano Bigon já trabalharam juntos no clube nos anos 1990 e, portanto, se conhecem.
Entrevista swissinfo, Mathias Froidevaux
Arquiteto e promotor imobiliário, Christian Constantin presidente o FC Sion desde 2003, pela segunda vez. O primeiro período foi entre 1992 e 1997.
Desde que retomou o clube, nove técnicos já foram contratados e demitidos: Charly Rössli (2003), Didier Tholot (2003), Admir Smajic (2004), Gilbert Gress (2004), Gianni Dellacasa (2005), Christophe Moulin (2005), Nestor Clausen (2006), Marco Schällibaum (2006) e Gabet Chapuisat (2006)
O técnico atual (até quando?), o italiano Alberto Bigon, já havia trabalhado no FC Sion em 1996.
Duas vezes campeão suíço: 1992 e 1997.
Ganhou dez vezes a Copa da Suíça: 1965, 1974, 1980, 1982, 1986, 1991, 1995, 1996, 1997, 2006.
Quando ganhou a Copa no ano passado, o FC Sion estava na Segunda Divisão (Challenge League), caso único no futebol suíço.
Havia sido rebaixado em 2002 por razões financeiras. Subiu para a Super Liga no ano passado, derrotando o Neuchâtel Xamax em partida decisiva.
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