Dinheiro traz felicidade (II)

Apartamentos modernos em Herrliberg podem custar até três milhões de francos suíços. swissinfo.ch

O político e milionário Christoph Blocher, com uma fortuna estimada em 2,2 bilhões de francos suíços, queria economizar 300 mil francos com a redução de impostos em Herrliberg.

Uma cidade sem moradores de rua, sem criminalidade e onde é proibido pousar de helicóptero sem autorização da polícia.

O jornal “Tagesanzeiger”, de novembro de 2002, conta como os cidadãos de Herrliberg se reuniram na pequena prefeitura, para discutir se haveriam ainda mais reduções de impostos na cidade.

Seu habitante mais famoso, Christoph Blocher, o empresário e político da União Democrática do Centro (UDC), propôs uma redução da taxa de 70% para 60%, o que colocaria Herrliberg no topo dos paraísos fiscais na Europa. Para convencer os eleitores da cidade, ele até chegou a enviar pessoalmente cartas a cada um deles.

Com uma fortuna estimada em 2,2 bilhões de francos suíços (US$ 1,6 bilhões), o milionário Blocher paga anualmente entre 10 a 15 milhões de francos suíços à cidade. Uma nova redução dos impostos significaria para ele uma economia de até 300 mil francos (US$ 219 mil). Porém seus concidadãos não aceitaram o argumento de que seria possível dilapidar ainda mais os cofres abarrotados de dinheiro de Herrliberg . A proposta de nova redução terminou rechaçada pela maioria dos 600 moradores presentes na votação pública.

Construir casa para trazer pessoas “normais”

A outra forma de Herrliberg em gastar o dinheiro em “excesso” nos cofres é a construção de casas. Como a cidade explica no seu site, a idéia é “aproveitar as reservas de terreno para contribuir a uma boa mistura de população, tentando trazer jovens famílias para a comunidade”. Quatro prédios, com 24 apartamentos de 3 a 5 quartos, serão construídos e alugados pela prefeitura à preços módicos, calculados entre 1.500 e 2.200 dólares. “Queremos assim trazer assalariados normais para a nossa comunidade”, explica o prefeito Rolf Jenny.

Afinal, morar em Herrliberg é caro e praticamente não há ofertas. O aluguel de um apartamento de 3 a 4 quartos não sai por menos de três mil francos suíços (US$ 2.200). Comprar um é mais difícil ainda: os raríssimos apartamentos que são postos à venda são avaliados entre um e três milhões de francos suíços (entre 733 mil e 2,1 milhões de dólares). “Temos casas aqui que valem até 15 milhões de francos (11 milhões de dólares), explica Jenny”.

”Não temos problemas”

Assim, a vida corre solta em Herrliberg. Perguntado sobre os problemas da sua cidade, Jenny não hesita em revelar: – “Em Herrliberg, não temos problemas”. Segundo o prefeito, que não parece conhecer a palavra “estresse”, a única coisa que incomoda é o aumento do tráfego na rua principal da cidade, provocado pela abertura na cidade de uma boate de luxo, localizada às margens do lago: a “Bagno Paradiso”. “Agora aos sábados, Herrliberg recebe alguns baderneiros de Zurique”, se entristece Jenny.

Afora o aumento na circulação de veículos de luxo, Herrliberg vive um dia-a-dia tranqüilo. Furtos? – “Acho que o último ocorreu há mais de seis meses”, lembra Jenny. “Temos apenas um policial, afora a patrulha de Zurique, que vez ou outra aparece por aqui”. Moradores de rua? – “Acho que nunca tivemos algum”.

A ordem é severa nessa pequena cidade da “Costa de Ouro”. Em 8 de julho a prefeitura publicou novas leis, como a “Hundekotaufnahmepflicht”, que pode ser traduzida como “obrigação-de-recolhimento-de-cocô-de-cachorro”, que vale não só para áreas públicas, como também às privadas. Além disso, a utilização de cortadores de grama foi proibida a partir das cinco da tarde dos sábados e também a aterrissagem de helicópteros, sem autorização policial.

Os habitantes de Herrliberg gostam de discrição. Porem, vez ou outra, surge um jornalista para desvendar a vida no curioso lugar. Em junho, o redator Christoph Zürcher, do respeitado jornal “Neue Zürcher Zeitung”, resolveu escrever um portrait também intitulado “Dinheiro traz felicidade”. Com essas palavras ele dá a sua definição sobre a cidade às margens do lago de Zurique:

– “Pequena pausa para a crise: riqueza, tranqüilidade, quase nada de impostos e uma fantástica vista para o lago: uma estadia de descanso em Herrliberg, onde se existir poluição, esta é apenas de…harmonia”.

swissinfo, Alexander Thoele em Herrliberg