Ecologia também é problema econômico
Centros de pesquisas especializados cooperam entre si através da universidades de Berna, Suíça e do Instituto de Estudos de Conseqüências Climáticas de Potsdam, Alemanha.
No seu último seminário, a discussão girou das dificuldades políticas em tomar decisões concretas para a prevenção de catástrofes climáticas futuras.
A primeira conferência climática mundial ocorreu em Genebra, em 1979. Desde então existe o debate público sobre a influência humana nas mudanças no clima mundial.
Especialistas suíços e alemães das áreas de ciência, economia e política reuniram-se recentemente na Universidade de Humboldt, em Berlim, para falar sobre o assunto.
Pesquisas suíças com gelo da Antártica e Groelândia
Relatos de pesquisas da Universidade de Berna, feitos pelo Dr. Thomas Stocker, revelam que desde 1955 até os dias de hoje o aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera tem sido permanente e crescente.
O exame do gelo extraído da Groelândia e da Antártica, através da estação suíça Concórdia – um projeto realizado pela universidade de Berna juntamente com outros dez países e a União Européia – tem possibilitado um estudo mais aprofundado a respeito de mudanças na atmosfera.
O gelo extraído da Groelândia data de até 120 mil anos e o da Antártica de até 860 mil anos. O gelo constitui um arquivo das condições climáticas ao longo dos séculos, visto que são armazenadas partículas de ar que possibilitam analisar a composição química da atmosfera em diferentes épocas. Segundo Dr. Stocker os resultados dos estudos, ainda que no princípio das análises, mostram claramente que a interferência humana modificou a composição química da atmosfera.
Partido Social-Democrata alemão e ecologia
Ulrike Mehl, porta voz da política para o meio ambiente do SPD, Partido Social-Democrata, no parlamento alemão, falou sobre as dificuldades políticas de se tomar medidas preventivas de problemas que não afetam a população no presente.
“A questão ecológica também é um problema econômico”, confessa. Ele explica que a Alemanha criou impostos ecológicos que comprometem principalmente o setor de transportes, um ponto sensível na vida diária do eleitor que sente as conseqüências do aumento de preços.
Segundo Mehl, as estatísticas constatam que 60% da mobilidade acontece no tempo livre dos cidadãos. O eleitor insatisfeito não costuma reeleger políticos para um novo mandato que tenham diminuído seu poder de compra, ainda que por uma justificativa plausível. “O fato torna difícil a intervenção através de uma política perene no setor, sem falar sobre os lobbyes”, completa.
Contudo a Alemanha foi capaz de criar leis que incentivam as pesquisas em tecnologias em energias renováveis. A meta é de, até o ano de 2020, diminuir a produção de gás carbônico em 20%.
Ainda segundo Mehl, o governo alemão está consciente da necessidade da adaptação da economia a medidas que protejam o sistema climático, mas esse processo de desenvolvimento envolve muito dinheiro.
“A discussão de problemas futuros é sempre problemática pois questões presentes e urgentes têm prioridade na discussão política. Na atual conjuntura mundial é difícil para qualquer economia propor medidas imediatas para a redução da produção de gás carbônico que resultem na diminuição do número de empregos. As mudanças são bem-vindas somente se as novas tecnologias garantirem empregos”, analisa.
Filme desperta interesse ecológico na população
Segundo o Doutor Stefan Rahmstorf, do Instituto de Estudos de Conseqüências Climáticas de Potsdam, instituição mundialmente reconhecida, a apresentação do filme americano, “O dia depois de amanhã”, do diretor alemão Roland Emmerich, causou uma súbita e passageira avalanche de interesse da imprensa sobre as mudanças climáticas, que o obrigou a dar ao menos 40 entrevistas sobre o assunto.
“Eu não sou a favor de filmes sensacionalistas, mas se eles incentivam a opinião pública a se preocupar com o tema, acho que é um começo”, relata. “A história do filme é fictícia, mas caso houvesse uma catástrofe climática os EUA não seriam afetados pelo gelo como é mostrado no filme. Haveria sim o resfriamento do Atlântico Norte e inundações, mas não ocorreria congelamento”, calcula o cientista.
“Por outro lado, ainda que as taxas de produção de gás carbônico se estabilizassem hoje, nossos estudos prevêem que a temperatura média do globo aumentará em três graus nos próximos 300 anos. Isso corresponde a um aumento do nível do mar em três a cinco metros”, completa.
Tratado de Kioto
De acordo com o Dr. Gunter Stephan, vice-reitor do Instituto de Economia da Universidade de Bern, a conferência de Kioto, ocorrida em 1995, representa um consenso mundial inovador e progressista no que diz respeito à redução das taxas de dióxido de carbono.
Contudo, afirma que existem erros de elaboração nas considerações entre economia e diminuição da produção de gás carbônico. “Naturalmente o Tratado de Kioto é uma esperança, mas ninguém sabe realmente se ele será realmente cumprido por todos os países signatários”.
Como a questão financeira é sempre presente, têm-se então que calcular o quanto custaria se o nível do mar subisse. É possível criar-se mecanismos econômicos que recompensem empresas interessadas em diminuir as taxas de dióxido de carbono.
“Também não se deve perder de vista o fato de que o conhecimento humano sobre o assunto ainda é insuficiente para poder fazer negociações e não se deve subestimar a capacidade criativa da humanidade para a resolução de problemas,” conclui o economista.
swissinfo, Gleice Mere, Berlim
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