Ecstasy é utilizado para tratar pós-trauma
A MDMA (metilenedioxi-metamfetamina), principio químico também conhecido como "ecstasy", está sendo aplicado em pacientes sofrendo da síndrome traumática pós-estresse, como parte de um estudo clínico realizado na Suíça.
Essa é a primeira vez que a droga ilegal, cujo uso já teria provocado a morte de muitos usuários, foi aprovada para a pesquisa em um grupo limitado de pacientes pelas autoridades helvéticas.
Uma dúzia de vítimas de traumas devem participar do estudo, que foi iniciado em outubro de 2006 e deve ser concluído em 2008.
Um dos pacientes concluiu o tratamento. Dois outros foram convocados e devem receber em breve psicotrópicos à base de MDMA assistidos por equipes médicas.
A bateria de testes realizada na Suíça ocorre paralelamente a outro estudo feito por pesquisadores americanos.
“Eles já tiveram resultados positivos no tratamento da síndrome traumática pós-estresse. Eu espero ter uma resposta similar aos nossos testes”, declara Peter Oehen, o psiquiatra e psicoterapeuta que coordena o estudo na Suíça.
Oehen necessitou mais de um ano para obter a autorizacao da Swissmedic, o orgao suico de controle de medicamentos, e do Ministério da Saúde. Ela veio apenas em agosto de 2006. Oehen explica que o processo foi lento e teve vários atrasos.
Candidatos elegíveis
As pessoas aptas a participar dos testes precisam ter mais de 18 anos e ter o diagnóstico positivo para a da síndrome traumática pós-estresse. Além disso eles não podem ter utilizado ecstasy por mais de cinco vezes ou nos últimos seis meses. Os participantes também precisam falar alemão.
Oito dos participantes irão receber uma dose completa de ecstasy – 125 gramas com um reforço de 62,5 miligramas depois de duas horas e meia. Quatro irão receber doses menores durante as três sessões experimentais, por qual passam todos os pacientes. O efeito da droga pode durar várias horas.
“A dose completa irá provocar uma mudança da percepção, uma sensação de bem-estar, redução do medo e irá ajudá-los a encarar e lidar com os vários sentimentos associados ao trauma, como a ansiedade”, explica Oehen.
A bateria de testes é patrocinada pela Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos (MAPS) e irá custar pouco mais de 150 mil dólares (190 mil francos suicos).
Em cinco anos, a organização americana sem fins lucrativos quer transformar o ecstasy em um medicamento de prescrição médica obrigatória para o tratamento de síndrome traumática pós-estresse
Má imagem
Oehen admite que os pesquisadores que participam da pesquisa têm dificuldade de convencer a opinião pública e ganhar respeitabilidade para o ecstasy depois de tantas manchetes negativas nas últimas duas décadas.
Muitos especialistas levantaram questões sobre os efeitos do ecstasy no sistema nervoso e se a droga danifica as funções cognitivas dos usuários “pesados”.
Oehen afirma que é difícil investigar os efeitos devido ao grande número de fatores capazes de levar a confusão: usuários “pesados” costumam combinar o uso do ecstasy com outras drogas e tem estilos de vida muito irregulares como privação de sono e de líquidos.
“Existe um número reduzido de estudos cuidadosos, onde se verifica que a utilização de ecstasy provavelmente não causa danos cognitivos em pesquisas clínicas”, afirma.
“Na Suíça nós tivemos um período entre 1989 e 1993 onde muitos psiquiatras de consultórios privados receberam a licença de utilizar ecstasy e LSD em terapias. Em grande parte os resultados foram muito positivos, mas elas não ocorreram dentro do contexto de uma pesquisa científica.
swissinfo, Adam Beaumont
Os pesquisadores utilizam ecstasy fornecido por uma empresa farmacêutica suíça e é aplicada no consultório de Oehen no cantão de Solothurn, norte da Suíça.
Os participantes são avaliados antes dos testes e depois da aplicação de ecstasy para verificar quais regiões do cérebro são afetadas pela síndrome traumática pós-estresse e se a terapia trouxe benefícios para as funções cerebrais.
O próximo passo, quando os testes estiverem concluídos na Suíça e nos EUA, será um estudo global com 500 pacientes.
O MDMA (metilenedioxi-metamfetamina), mais conhecido por ecstasy, é uma droga moderna sintetizada, neurotóxica, muito popular entre os jovens, cujo efeito na fisiologia humana é o bloqueio da reabsorção da serotonina, dopamina e noradrenalina no cérebro, causando euforia, sensação de bem-estar, alterações da percepção sensorial do consumidor e grande perda de líquidos. As alterações ao nível do tacto promovem o contacto físico, embora não tenha propriedades afrodisíacas, como se pensa.
É vendido sob a forma de comprimidos e ocasionalmente em cápsulas. Embora estudos mostrem que a neurotoxicidade do ecstasy não cause danos permanentes em doses recreativas, ainda suspeita-se que o consumo de ecstasy cause tais danos a cada dose, e perigo de desenvolvimento de doenças psicóticas (e.g. esquizofrenia). Os estudos a respeito do ecstasy em humanos são pouco difundidos por questões legais que proibem ministrar doses de MDMA para humanos.
O registo da patente do MDMA foi pedido a 24 de Dezembro de 1912 pela empresa farmacêutica Merck, após ter sido sintetizada para a empresa, pelo químico alemão Anton Köllisch em Darmstadt nesse mesmo ano. [1][2] A patente foi aceita em 1914, e quando Anton Köllisch morreu em 1916, este ainda não sabia do impacto que o MDMA teria.
O MDMA foi sintetizado com a finalidade de ser usado como um redutor do apetite, mas nunca foi usado com essa finalidade. Em 1960, foi redescoberto, sendo indicado como elevador do estado de ânimo e complemento nas psicoterapias. O uso recreativo surgiu em 1970 nos EUA. Em 1977, foi proibido no Reino Unido e em 1985 nos EUA. O uso do ecstasy concentra-se nas boates, casas noturnas e em festas Rave. (fonte: Wikipédia em português)
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