Entrevista: dono de agência conta como casa suíços
Roger Darmangeat é chefe da E&R Partner, agência de matrimônio criada em 1991, especializada em mulheres búlgaras. Sua empresa já conseguiu juntar 600 pares.
Em entrevista a swissinfo, Darmangeat explica de forma polêmica por que os homens suíços preferem mulheres estrangeiras e como funciona seu trabalho.
Sr. Darmangeat, o que leva um técnico em informática a criar uma agência matrimonial na Suíça?
A razão foi simples: eu casei-me com uma mulher búlgara. Apesar dela ter vindo para a Suíça, tinha no seu país muitas amigas que também estavam procurando maridos. Como eu conhecia outros homens que estavam sozinhos e também sonhavam em ter uma parceira, resolvemos fazer o primeiro contato entre um suíço e uma búlgara, que acabou dando certo. Depois continuamos a unir pessoas. Com o tempo, esse trabalhou começou a nos custar dinheiro. Amigas de amigas da minha esposa começaram a nos ligar e homens, que não conhecíamos, nos contatavam, pedindo ajuda para encontrar uma esposa.
Então vocês decidiram criar uma agência matrimonial, especializada em mulheres búlgaras?
Sim, essa é a nossa especialidade. Eu conheço o país, seu povo e sua mentalidade. Não acredito que uma agência possa trabalhar num país em que não tenha experiência.
Mas com a facilidade que as pessoas têm, hoje em dia, de viajar, o que impede um suíço de ir sozinho à Bulgária, sentar num restaurante e começar a paquerar as mulheres?
Qualquer um pode ir para a Bulgária e tentar conhecer mulheres diretamente por lá. Porém a possibilidade dessa pessoa receber um “não” é grande. Se ela conhecer mulheres nos hotéis, não só na Bulgária mas também na Ucrânia ou Rússia, essa pessoa só irá conhecer prostitutas. Isso é o que todo mundo conta! Porém, quando um cliente procura nossos serviços, nós oferecemos um catálogo com mulheres selecionadas, que falam idiomas e tem, em grande parte, formação universitária. Outro ponto importante é nossa experiência de dez anos nesse país. Nossas candidatas não procuram qualquer pessoa, só para escapar da Bulgária. Elas também procuram um parceiro, alguém para ter um relacionamento sério.
O que é necessário para se abrir uma agência matrimonial? Conhecer mulheres solteiras?
Os maiores custos estão na propaganda. Outro dado muito importante é a contabilidade: uma agência matrimonial é um negócio como os outros, onde um controle é fundamental. Depois é preciso contratar pessoal para trabalhar no país onde a agência se especializa. No nosso caso, temos uma filial na Bulgária onde trabalham quatro pessoas.
E vocês então foram pioneiros nesse país, do antigo bloco comunista?
Sim. Quando abrimos o escritório em Sofia, instalamos inclusive um aparelho de fax, algo que era uma raridade no país em 1991.
Preciso fazer uma pergunta curiosa: o que leva uma moça búlgara a procurar um homem suíço?
O interesse dessas mulheres não é só pela Suíça, mas também pela Alemanha, França ou Inglaterra. Para entender essa vontade, é preciso conhecer a situação econômica na Bulgária, que não mudou nada nesses últimos dez anos, apesar do fim do comunismo. Lá os salários são baixíssimos e a população tem os mesmo problemas do passado. Ao mesmo tempo, quando uma mulher tem uma educação razoável, fala idiomas e já teve um relacionamento fracassado com um homem búlgaro, ela já perdeu a paciência. Muitas pensam então na possibilidade de conhecer um homem de outro país. O que a mulher búlgara quer é apenas ter um parceiro digno desse nome. Na Bulgária os homens têm uma cultura oriental e bater nelas faz parte do cotidiano. Obviamente existem exceções.
Agora a segunda pergunta: e o que leva um homem suíço procurar mulheres no exterior?
As mulheres na Suíça são, hoje em dia, muito emancipadas. O que muitos suíços acabam procurando no exterior são mulheres que também aspiram ter uma família no formato tradicional. Não digo que esses homens querem oprimir suas mulheres, mas estão à procura de uma família, com uma mulher que queira realmente ser uma parceira dele. As mulheres búlgaras também desejam um casamento tradicional, um relacionamento onde o homem dirige os assuntos da família.
Sua agência só oferece mulheres búlgaras ou existem outros países representados no seu catálogo?
Não. Nossos clientes sabem que a agência é especializada em mulheres búlgaras. Temos também algumas candidatas de Odessa, na Ucrânia. Porém, para nós é melhor essa especialização, pois conhecemos bem a mentalidade desse país. Eu nunca iria trabalhar em países orientais como, por exemplo, a Tailândia. A mentalidade dos seus habitantes é tão diferente da nossa, que não acredito que nosso trabalho dê certo por lá. A Bulgária pertence à Europa, está distante apenas duas horas de avião da Suíça. Outra justificativa para a nossa especialização é o fato de que a mulher búlgara combina perfeitamente com o homem suíço.
Qual a razão para isso?
As mulheres búlgaras já escutaram que os homens suíços são pessoas muito corretas e sérias. Em comparação com os homens búlgaros, essa é a verdade. Por outro lado, as mulheres búlgaras são mais femininas e sensíveis do que as suíças. São esses pontos que os homens suíços procuram. Eles não querem mulheres emancipadas, que dizem como a vida deve decorrer e que ditam regras. Por isso os dois combinam muito bem.
Critérios como educação e origem social são utilizados para selecionar as pessoas? É possível juntar uma doutora em medicina com um padeiro?
Nosso trabalho não é apenas trocar endereços, mas também de selecionar as pessoas, para que possamos combiná-las de melhor forma. Obviamente uma pessoa de estudos terá dificuldade para se adaptar a alguém sem formação nenhuma, porém também existem as exceções. Temos casos de homens simples que casaram búlgaras com formação universitária. O relacionamento deu certo, pois a mentalidade delas é diferente. Elas dão mais importância ao relacionamento!
E como a seleção das mulheres é feita?
Na nossa agência em Sofia, nós conhecemos pessoalmente cada uma das candidatas que se apresentaram. Elas conversam conosco por duas horas para explicar que tipo de homem elas procuram. Ao mesmo tempo, elas têm também de preencher um formulário. Assim nós conhecemos sua formação e também checamos seu conhecimento de idiomas.
E que tipo de mulheres são procuradas pelos suíços?
A diferença de idades é, em média, de quinze anos. Muitos homens procuram mulheres mais jovens. Isso é normal. Porém quando tenho um cliente com 50 anos, que faz o pedido de encontrar uma mulher de 25, sou obrigado a explicá-lo que esse relacionamento não daria certo. Eu perguntaria a ele: que tipo de relacionamento você quer? Como seria o seu relacionamento em dez anos?
Não existem casos de clientes que chegam na agência com pedidos extravagantes, com comportamento machista ou desejos de ter mais uma empregada doméstica, do que uma esposa?
Sim, infelizmente isso ocorre. Nesse caso peço para o cliente abandonar o meu escritório. Depois de tanta experiência nesse negócio, eu já tenho uma certa percepção das pessoas que aparecem aqui procurando uma mulher. Veja essa carta acompanhada de uma foto. Trata-se de um suíço de meia-idade que procura uma mulher. Porém não só sua carta é totalmente ilógica mas também sua foto, tirada de cueca, não contribui para formar uma boa imagem dessa pessoa.
Quando o contato entre o suíço e a mulher suíça é feito, como se encontram os dois pela primeira vez? Existem problemas de comunicação?
Não, isso não ocorre. Normalmente nós só aceitamos candidatas que falem outros idiomas como inglês ou alemão. Nosso serviço não oferece tradutores. Em primeiro lugar, nosso cliente recebe uma primeira oferta contendo fotos e um perfil de quatro ou cinco mulheres búlgaras.
Ele irá escolher então aquelas que lhe agradam. Nós contatamos a filial em Sofia e perguntamos se as mulheres escolhidas também estariam interessadas num encontro com essa pessoa. Obviamente elas recebem também uma foto do candidato e seu pequeno histórico, para poder tomar a decisão. Se a candidata diz que está interessada no homem, nós trocamos os endereços dos dois. Eles podem fazer o contato pessoalmente.
Em geral, depois de cinco ou seis desses contatos, o cliente encontra uma mulher que lhe parece mais simpática. Então ele viaja para Sofia, onde irá conhecer a sua “possível” parceira.
Na agência, nós fazemos um contato “passo-a-passo” tentando juntar duas pessoas. Queremos evitar situações constrangedoras para os dois. Aquela história de que o homem entra num bar com o jornal na mão e a mulher com a rosa, e depois os dois se esbarram, não acontecem conosco! Tudo é bem planejado!
Aonde o encontro ocorre?
Num hotel ou na própria agência em Sofia. O importante é que não se trata de um “blind-date”, que normalmente sempre dá errado. Quando o cliente vai para o encontro, ele já conhece mais ou menos a pessoa que estará lhe esperando.
Porém, apesar dos preparativos, não ocorre que o primeiro encontro acabe sendo um fracasso?
Sim. Isso é possível. Talvez os dois acabem descobrindo que os hobbies e gostos não combinam. Nesse caso a procura continua.
Quando o cliente viaja para Sofia e encontra cinco mulheres, uma delas acaba sendo a “mulher desejada”. Ele fica na cidade por três dias, passeia com sua parceira e tem, dessa forma, oportunidade de conhecê-la melhor. O segundo passo é quando ele convida a mulher para conhecer a Suíça.
E ela fica também num hotel?
Não. Ela fica diretamente na residência do nosso cliente. Nós garantimos nesse caso, caso ocorra algum problema, que um telefonema para a agência seja dado. Então nós enviamos a mulher de volta para Sofia.
Porém, isso só aconteceu uma vez e nós já juntamos 600 casais.
Desse casais, quantos acabaram se divorciando?
Dos 600 casais que formamos em dez anos de trabalho, apenas 2% se divorciaram. Isso é muito pouco. A razão está no fato de conseguirmos juntar pessoas que se combinam realmente.
Outra razão é que juntamos duas mentalidades que funcionam muito bem entre si. Se duas pessoas se combinam bem, então não existe razão para brigas.
Depois que um casal foi formado, vocês ainda têm contato com eles?
Somos constantemente convidados para as festas de casamento dos nossos ex-clientes. Temos aqui vários álbuns de fotos que mostram o sucesso do nosso trabalho. Fundamos também o clube “Suíça-Bulgária” para casais arranjados, onde nós nos encontramos duas ou três vezes por ano.
Ao mesmo tempo, quando uma mulher búlgara casa-se com um dos nossos clientes e nos pede números de contato de outras mulheres búlgaras, nós sempre fornecemos. Assim elas podem manter contato com pessoas que estão numa situação parecida e também falar o búlgaro.
O cliente só paga quando ele encontrar seu par perfeito, ou não?
Não (risos)! Amor não se paga! Nós não podemos dar garantia de sucesso ou devolver o dinheiro, caso uma parceira não tenha sido encontrada. Nossa empresa oferece um serviço, onde registramos pessoas, analisamos seus dados, damos telefonemas e tentamos juntá-las. Tudo isso é trabalho e deve ser pago, ou não?
E quanto custa?
Os preços variam. Por contato nós cobramos 150 francos suíços. O maior valor a ser pago é de 3900 francos suíços, quando o trabalho é mais intensivo. Isso ocorre nos casos dos clientes que são considerados “difíceis”.
E o que é um cliente difícil? Seriam os feios?
Não (risos). Tratam-se de pessoas que tem problemas de relacionamento com outras pessoas. Isso existe tanto para homens quanto para mulheres. Nesse caso, somos obrigados a ajudar nossos clientes.
Existem situações onde eu viajo com os clientes para a Bulgária, pois ele não têm coragem de encontrar a mulher ou mesmo de telefoná-la. Quando descobrimos que o cliente é muito tímido, nós ajudamos essa pessoa.
Esse comportamento é comum para os suíços: a timidez?
Isso depende da pessoa. Mas veja: quando um suíço olha para uma mulher suíça, ela normalmente vira o rosto chateada. Se fosse italiana, ela daria uma risada! Quando isso ocorre muitas vezes, o homem acaba não tendo mais vontade de tomar a iniciativa.
Qual são as estatísticas de sucesso da sua agência?
95% dos nossos clientes encontram uma parceira.
Como é a vida das mulheres búlgaras, depois que elas casam e vem para cá? Elas não têm problemas de adaptação num país tão peculiar como a Suíça?
Na verdade não existem problemas e, se eles existem, são pequenos. A verdade é que quando a mulher vem para a Suíça, ela está subindo de vida. Mesmo que um homem suíço não seja rico, uma mulher búlgara tem aqui uma vida muito melhor do que no seu próprio país.
Na Bulgária muitas pessoas não têm dinheiro para pagar o aquecimento ou precisam esticar seu dinheiro para comprar pão numa padaria. Na Suíça, as pessoas vão para a padaria e compram pão sem problema. Essa é a grande diferença.
Porém alguém que vêm de uma capital como Sofia não deve ser muito fácil casar com um fazendeiro e ir morar numa aldeia, perdida num vale da Suíça alemã?
Se você mora na Bulgária, estar fora de Sofia significa estar verdadeiramente no campo. Lá não há nada. Aqui na Suíça, pelo contrário, se você mora no interior, mesmo que seja um povoado minúsculo, existe sempre uma ligação de ônibus. As distancias são menores. Ao contrário das cidades na Bulgária, na Suíça tudo é ordenado, limpo e disciplinado.
swissinfo, Alexander Thoele
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