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Escavações de túneis revelam tesouros

Uma amostra de calcita transparente é o atual orgulho do Museu de História Natural de Sion. Keystone

As pedras não são diamantes, mas elas valem como tal: escavações de túneis como as obras do maciço de Lötschberg trazem raros cristais do interior das montanhas.

As pedras não têm apenas valor monetário, mas contam também a história geológica do planeta nos últimos milhões de anos.

A construção da Linha Férrea Transversal dos Alpes (AlpTransit), que irá encurtar as distâncias entre a Alemanha e a Itália, faz a alegria dos geólogos suíços.

A dois mil metros de profundidade, o canteiro de obras nas entranhas do maciço de montanhas do Lötschberg acaba de revelar minerais de grande importância científica.

As pedras descobertas são consideradas raras por especialistas. Duas dentre elas estão entre as maiores já encontradas no país. O cantão do Valais não perdeu tempo e já as colocou em exposição no Museu Histórico de Sion.

Cristais

“Mesmo se a quantidade de minerais descobertos ainda é relativamente modesta, a riqueza e a variedade das cristalizações é marcante”, define o geólogo André Henzen.

Uma das pedras é um cristal de pirotita (pyrrhotit) de 12,7 centímetros. A outra é um cristal de fluorapofilito (fluorapophyllit) de 3,7 centímetros. Ao mesmo tempo, foram descobertos também dois cristais de calcita, excepcionais pelo seu tamanho – mais de 30 centímetros – e por sua pouca espessura – 1 centímetro.

Os geólogos se consideram surpresos pela qualidade do material coletado. Até hoje já foram descobertos 22 tipos diferentes de minerais, que incluem desde variedades de quartzo comum até peças mais raras como a monazita.

A construção do túnel permitiu mesmo a descoberta da “Amstegita”, um mineral batizado com o nome de “Amsteg”, a localidade no cantão de Uri onde está localizado o acesso do novo túnel.

Descobertas em outras obras: Gotthard

Não só as escavações no maciço do Lötschberg são importantes para os geólogos. Também as atuais obras no maciço do Gotthard, no cantão de Uri, têm revelado um número surpreendente de exemplares raros.

“Até agora nós fizemos algumas descobertas, porém nada de especial”, explica Marco Antognini, o geólogo encarregado pelo cantão do Tessin de analisar as pedras que são retiradas pela imensa broca e, ao mesmo tempo, responsável pelo departamento de mineralogia do Museu de História Natural do cantão do Tessin, em Lugano.

“No momento nós já identificamos dezessete tipos de minerais, porém considerados comuns. Quanto mais nós escavamos no interior do Gotthard, maiores serão também as surpresas”.

Experiências do passado mostram que as montanhas escondem tesouros. Os túneis já do Gotthard já presentearam vários museus no mundo com pedras raras.

A ciência avança graças às pedras

Afora o valor monetário das espécies raras, as rochas retiradas do interior das montanhas também “falam” sobre o passado. Através da análise de amostras retiradas do Gotthard é possível, por exemplo, descobrir como eram os Alpes nos últimos milhões de anos.

“O importante é que essas amostras, retiradas de grandes profundidades nas montanhas, não se alteraram durante todo esse período”, revela Antognini.

A construção do mais longo túnel ferroviário do mundo, com 57 quilômetros, representa uma ocasião única para recolher informações científicas sobre a geologia da cadeia de montanhas que forma os Alpes.

“É verdade que essa é uma excelente oportunidade científica para nós. Não é todo dia que podemos ver estruturas geológicas como fendas repletas de cristais no interior de uma rocha”.

Um patrimônio a ser preservado

Os minerais extraídos de túneis são muito procurados por colecionadores e podem atingir preços elevados no mercado. Algumas peças chegam a valer mais de oito mil dólares.

Os cristais, pedras e metais retirados dos túneis pertencem a governo do território onde as obras são realizadas. Porém é impossível impedir que os operários deixem de melhorar seus salários com a venda das peças no mercado negro.

Para evitar que exemplares raros desapareçam nos armários dos colecionadores, os cantões suíços resolveram premiar os trabalhadores que encontram tesouros geológicos.

O cantão do Valai é um exemplo de que essa política se justifica: apesar de rico em minerais raros, seus museus são pobres em amostras raras. Na verdade elas já estão há muito tempo enfeitando as vitrines de colecionadores e museus internacionais.

swissinfo, Maddalena Guareschi em Lugano
tradução de Alexander Thoele

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