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Especialistas pedem nova política de drogas

Assim como outras drogas, o tabaco também vicia e ataca a saúde. Keystone

Uma comissão federal ligada à questões do consumo de drogas pede ao governo mais pragmatismo e abertura para enfrentar o problema do vício.

Os especialistas reivindicam o relançamento de debate político sobre o tema. Enquanto isso, pesquisadores em Genebra descobrem uma forma de curar o vício da cocaína.

Para os especialistas da Comissão Federal para questões ligadas às drogas (CFLD, na sigla em francês), as políticas atuais de combate ao vício precisam ser corrigidas. Num relatório (www.psychoactiv.ch) publicado no ano passado eles reivindicavam do governo federal a elaboração de novas diretrizes para uma polícia nacional “que leve em conta o conjunto de todas as drogas psicoativas lícitas e ilícitas”.

– Precisamos parar de julgar moralmente as drogas e o comportamento dos viciados e optar pelo pragmatismo. A revisão da lei anti-narcóticos tropeçou na questão da despenalização da maconha no Parlamento federal em julho de 2005, pois a sociedade helvética não é mais consensual – afirma François van der Linde, presidente da Comissão, na época.

Na sua opinião, os diferentes pontos de vista e de valor sobre a questão do consumo de drogas obrigam a uma nova abordagem do problema.

Contradições atuais

Um dos especialistas que apóia as reivindicações da comissão é Geneviève Ziegler, encarregada de toxicomania no governo municipal de Lausanne. Ela estima que a população não compreende mais as contradições atuais: proibir o consumo de maconha e do outro tolerar o de tabaco, álcool ou medicamentos, sem levar em conta as dependências e os riscos que elas causam.

Também Thomas Hansjakob, procurador em St. Gallen, nota que o Estado considera o tabagismo um problema de saúde pública, mas ao mesmo tempo recolhe impostos sobre o consumo de cigarros e ao mesmo tempo subvenciona os produtores de tabaco.

A CFLD defende a aplicação do modelo de quatro pilares, atualmente em vigor em todo o país, não apenas para as drogas ilegais, mas também para outras substâncias psicoativas como o tabaco e o álcool.

A comissão estima também que é necessário harmonizar a legislação para regulamentar o mercado de substâncias psicoativas – do livre-acesso ate a interdição total em função do perigo para os consumidores.

10 recomendações

Os especialistas concluem o relatório com dez recomendações feitas ao governo federal e pedindo sua aplicação até 2015. Pascal Couchepin, ministro do Interior e encarregado pela pasta da saúde, foi o primeiro a ovacionar a iniciativa da comissão.

– A nova abordagem feita pelos autores do estudo é muito importante. É melhor combater as dependências através de uma política global, do que se concentrar apenas na luta contra as drogas, sejam elas ilegais ou as legais como o álcool, tabaco e medicamentos – diz Couchepin.

Também por parte do Instituto Suíço de Prevenção do Alcoolismo e outras Toxicomanias (ISPA, na sigla em francês), a reação foi positiva.

– As propostas são corajosas. Elas visam tratar do consumo dessas substâncias numa só lógica. Essa é uma abordagem que já utilizávamos há muito tempo no nível da prevenção do vício. Além disso, elas quebram um tabu na Suíça: é preciso reconhecer que o álcool e o tabaco também são substâncias psicoativas da mesma forma que a maconha e a cocaína.

Cura do vício da cocaína

Nos últimos anos cada vez mais a cocaína é vista como uma droga da moda. Porém seu consumo cria rapidamente a dependência, cujo combate é até hoje um dos grandes desafios da ciência. Porém uma equipe da Universidade de Genebra afirma ter descoberto um método para quebrar o mecanismo do vício.

Nos dependentes de cocaína, a comunicação entre as células nervosas no cérebro é modificada. Porém esse processo pode ser revertido, como mostraram os testes realizados com ratos pelos pesquisadores Camilla Bellone e Christian Lüscher e publicados na revista científica americana “Nature Neuroscience”. Isso foi possível graças à utilização de uma substância fabricada pela empresa farmacêutica Roche.

Os pesquisadores observaram como o consumo de cocaína influencia a distribuição de receptores de glutamato nas células cerebrais, o que as torna permeável para o cálcio. Essa mudança tem um papel fundamental na primeira etapa da dependência.

Nos ratos a aplicação da substância ativou em poucos minutos outros receptores. Dessa forma foi impedida a permeabilidade das suas células para o cálcio.

Segundo Christian Lüscher, o novo método dá esperanças para o desenvolvimento de um novo medicamento para tratar o vício da cocaína. Possivelmente esse remédio poderia também ser utilizado em outras formas de dependência como a da nicotina, álcool, anfetaminas ou mesmo em pessoas com bulimia ou estresse.

Em todas essas doenças existem paralelos com o vício da cocaína, uma substância que é capaz de criar dependência mais facilmente e rapidamente do que outras. Por essa razão, os pesquisadores decidiram iniciar as pesquisas com o chamado “ouro branco”.

swissinfo com agências

Segundo uma pesquisa realizada em 2002 pelo Instituto Suíço de Prevenção do Alcoolismo e de outras Toxicomanias, cerca de 60 mil pessoas consomem regularmente heroína e/ou cocaína.
36% dos homens e 24% das mulheres com idades de 15 a 24 anos já consumiram pelo menos uma vez maconha.
1/3 da população com mais de 15 anos fuma cigarro.
O número estimado de pessoas dependentes do álcool é de 300 mil.

– A Comissão Federal para questões ligadas às drogas (CFLD, na sigla em francês) classifica as substâncias psicoativas em álcool, anfetaminas, canabinóides, alucinógenos, cocaína, medicamentos de efeitos psicoativos e tabaco.

– Ela propõe que para todas essas substâncias seja aplicado o modelo suíço dos quatro pilares. Eles são: prevenção, terapia, redução de riscos e controle e repressão.

A comissão classifica o comportamento face ao consumo das diferentes substâncias psicoativas de “consumo pouco problemático, uso à risco, uso nocivo e dependência”.

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