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Flores usam pólen contra abelhas gananciosas

Osmia bicornis, uma das abelhas usadas no estudo Albert Krebs

Apesar da coleta do pólen ser uma tarefa muito importante para as abelhas, os pesquisadores suíços desenvolveram uma maneira, através da química, de ajudar as plantas a não perder tanto pólen .

Uma equipe de ecologistas da Escola Politécnica de Zurique (ETH) demonstrou pela primeira vez que as abelhas precisam se adaptar fisiologicamente para digerir os diferentes tipos de pólen.




















O zumbido da pesquisa suíça chegou aos ouvidos da revista científica British Ecological Society’s Functional Ecology que chamou o resultado de “inovador”.

Sabe-se que muitas plantas produzem substâncias químicas em suas folhas para se proteger contra insetos herbívoros e que muitas plantas com flores desenvolveram estruturas na flor que impedem os polinizadores de retirar muito pólen. Mas o que dizer do pólen em si?

“Nossa ideia básica era que talvez as plantas protegessem seu pólen quimicamente contra as abelhas”, disse à swissinfo.ch Cláudio Sedivy, da Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH). “Mas é difícil provar isso diretamente, pois a estrutura química do pólen é muito diversificada e complexa”.

Para isso, ele e sua equipe desenvolveram uma experiência astuta. Utilizaram abelhas selecionadas alimentadas com uma de quatro espécies de plantas específicas: ranúnculo, tanásia, mostarda selvagem e Echium vulgare.

Os pesquisadores então alimentaram de pólen as larvas de duas espécies estreitamente relacionadas de abelhas, Osmia bicornis e Osmia cornuta.

Na natureza, estas larvas iriam desfrutar de uma dieta de pólen de 13 a 18 espécies de plantas. No experimento, as larvas foram divididas em grupos com apenas um dos quatro tipos de pólen. Os resultados foram então comparados.

Principais diferenças

Sedivy disse que a equipe se surpreendeu com as grandes diferenças no desempenho das larvas.

“Embora as larvas de Osmia cornuta fossem capazes de se desenvolver com o pólen Echium vulgare, mais de 90% morreram em alguns dias com o pólen de ranúnculo. Surpreendentemente, a situação era exatamente inversa com as larvas de Osmia bicornis”, explicou o doutorando em entomologia aplicada.

Ambas as espécies de abelhas tiveram bom desempenho com o pólen de mostarda selvagem e não conseguiram se desenvolver com o pólen de tanásia, acrescentou Sedivy.

“Até onde sabemos, este é o primeiro estudo que fornece evidências claras de que as abelhas necessitam de adaptações fisiológicas para lidar com as propriedades químicas desfavoráveis de certos pólens”.

“Os resultados oferecem uma outra peça importante no quebra-cabeça do entendimento das relações flores-abelhas”, disse.

A próxima etapa é descobrir por que um tipo determinado de pólen é inadequado para abelhas não especializadas.

O Echium vulgare é conhecido, por exemplo, por concentrar altas taxas de alcalóides pirrolizidínicos diferentes – compostos tóxicos utilizados pelas plantas como mecanismos de defesa. Mas ainda não tinha sido estudado até que ponto estas substâncias eram prejudiciais para o desenvolvimento das larvas de abelhas.

Ladras de pólen

As plantas têm uma boa razão para se proteger, já que as abelhas necessitam de quantidades enormes de pólen para alimentar suas larvas – pólen que poderia ser usado pelas plantas na polinização, dizem os pesquisadores.

O pólen de várias centenas de flores é usado em apenas uma larva de abelha, que muitas vezes toma cerca de 80% do pólen de uma flor em uma visita.

As abelhas – 20 a 30 mil espécies no planeta – armazenam o pólen em seu intestino ou escovas especiais, não perdendo quase nada.

“Abelhas e plantas têm interesses opostos quando se trata de pólen”, diz Sedivy. “Enquanto a maioria das plantas oferece néctar como isca para os insetos, que em uma visita transportam o pólen de flor em flor, as abelhas são hábeis em coletar o pólen para si mesmas”.

“Por isso as plantas desenvolveram uma grande variedade de adaptações morfológicas para impedir que as abelhas esgotem todo o pólen. O estudo fornece fortes evidências de que a estrutura química do pólen pode ser pelo menos tão importante quanto a morfologia floral na limitação da perda de pólen para as abelhas”.

Na Suíça, as abelhas são mantidas de várias formas. Há cerca de 19 mil apicultores, com 170 mil colmeias. A apicultura migratória é rara.

As plantas mais importantes para a produção do mel são: dente de leão, árvores de frutos, colza, acácia, castanheiro, bem como várias árvores seivosas, principalmente as coníferas e folhosas. A colheita média de mel é de cerca de 10 kg por colmeia.

A Suíça tem uma densidade de 4,5 colmeias por quilômetro quadrado, uma das mais altas do mundo.

Fonte: Agroscope

Adaptação: Fernando Hirschy

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