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Formação é chave para a desigualdade social

O sistema educativo suíço é um dos mais seletivos. Keystone

A sociedade suíça se parece cada mais com as outras. Persistem as desigualdades salariais entre homens e mulheres e também na formação. São as conclusões do Relatório Social 2008.

Segundo o estudo, divulgado pela Fundação Suíça para as Ciências Sociais (FORS), a Suíça deixou de ser um “caso excepcional” e se situa na média européia.

“A sociedade suíça não se baseia tanto no rendimento individual como muitos pensam, porque a formação tornou-se a chave das desigualdades devido à seletividade nas escolas”. A constatação é de René Levy, um dos seis autores do Relatório Social 2008, em sua terceira edição. O estudo é divulgado de quatro em quatro anos, desde 2000.

Condições de trabalho, nacionalidades, distribuição de tarefas domésticas entre casais, nível de formação, desigualdades sociais, diversidade cultural ou gestão de recursos naturais são alguns dos 75 indicadores analisados.

“Pela primeira vez não medimos somente as mudanças em um certo período, mas também fizemos comparações internacionais”, explica Christian Suter, outro dos autores do estudo da Fundação Suíça pelas Ciências Sociais(FORS), criada com o apoio do governo federal para pesquisar, avaliar e informar.

Suíça já não é um “caso a parte”

Para a edição 2008, o Relatório Social comparou a situação da Suíça com a de outros seis países: França, Alemanha, Inglaterra, Suécia, Espanha e Estados Unidos.

Conclusão: a Suíça está na média européia. “Suécia e Espanha são os extremos”, explica Christian Suter, professor de Sociologia na Universidade de Neuchâtel. “Notamos uma certa convergência entre esses países e a Suíça, que se situa na média entre ambos.

A Suíça cultiva o fato de não pertencer à União Européia (UE), afirma o estudo, porém ao mesmo tempo adotou um grande número de diretivas européias. “Nesse ponto”, resume Suter, “houve nos últimos anos uma convergência européia notável. A Suíça não é um Sonderfall (caso especial) como foi ou como imaginava ser.”

A desigualdade perdura

“Constatamos que a distribuição de renda e as desigualdades salariais entre homens e mulheres ou de formação se mantiveram nos últimos dez anos”, revela por sua vez René Levy, professor de sociologia na Universidade de Lausanne.

As mulheres continuam ganhando menos que os homens com o mesmo nível de formação. Ele faz ainda outra observação surpreendente: as escolas não oferecem igualdade de oportunidades.

Na realidade, os filhos de pais com alto nível de formação têm também mais chances de se formar e ter renda melhor mais tarde. As desigualdades, portanto, se perpetuam de uma geração a outra.

A escola, punto de partida sociocultural

E os alunos estrangeiros? “O nível de formação aumenta quando estão vivendo na Suíça há bastante tempo”, responde René Levy. “Os que vêm de famílias com baixo nível de conhecido do idioma local não têm as melhores oportunidades; as coisas mudam para os que nasceram na Suíça.”

Segundo as estatísticas, a possibilidade de chegar a um nível mais exigente na escola secundária é alcançada por mais de 80% dos alunos suíços de classe média e alta. A porcentagem é de 50% entre os alunos estrangeiros de classes sociais inferiores.

“O sistema educativo suíço é um dos mais seletivos que existem, sobretudo porque essa seleção é feita muito cedo” (só a Alemanha é mais seletiva), afirma René Levy.

De quem é a culpa pela seletividade injusta, as escolas? “Não se pode atribuir a culpa à escola”, responde Levy, mesmo reconhecendo que “a escola é o ponto de partida social e cultural determinante para o êxito posterior e não o rendimento individual.”

O programa internacional de avaliação do rendimento escola PISA, confirma que “os sistemas de ensino seletivos reforçam a influência da origem social sobre o êxito escolar e, quanto mais precoce essa seleção, mais marcada é essa tendência” conclui o professor.

Os estrangeiros e o meio social

Por outro lado, o Relatório Social revela também que a opinião pública suíça sobre a população estrangeira é melhor do que nos demais países comparados. Ursina Kuhn, co-autora e cientista política na Universidade de Neuchâtel, arrisca uma explicação: “a taxa de desemprego na Suíça é baixa e a imigração é um fenômeno recente, a partir da Segunda Guerra Mundial.”

Outra surpresa: apesar de seu sistema de democracia direta muito peculiar, a Suíça não é o país com maior participação política. Ela está atrás da Suécia, que tem uma taxa de participação comparável à dos outros cinco países estudados.

Finalmente, a consciência ecológica dos suíços permanece elevada. “Estão mais pragmáticos”, precisa Christian Suter. “No entanto, as contradições entre economia e ecologia se atenuam e também diminuem entre as regiões de língua alemã e de língua francesa.”

swissinfo, Isabelle Eichenberger

A Fundação Suíça para as Ciências Sociais foi criada com apoio do governo federal com a missão de pesquisar, avaliar e informar.

Entre as publicações da FORS estão o Relatório Social Suíço publicado desde 2000, com a participação do Fundo Nacional Suíço (FNS).

Aborda cinco temas com base em 15 indicadores: distribuição de riqueza, diversidade cultural, integração social, condições políticas e integração ecológica.

O trabalho é co-financiado pela FORS, FNS e pela Universidade de Neuchâtel (UNINE).

Em 2008, o Relatório Social compara a situação na Suíça com a da França, Alemanha, Inglaterra, Suécia, Espanha e Estados Unidos.

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