Fumar já não é mais “cool”
Pesquisa da Universidade de Zurique traz resultados surpreendentes sobre o consumo do tabaco. Uma delas é de que os jovens suíços já admiram as pessoas que não fumam.
Na Suíça, um terço da população é considerada fumante. A metade deles gostaria, porém, de parar.
“O número de fumantes estagnou-se num nível elevado”, afirma Philippe Valat, diretor do Programa Nacional de Prevenção do Tabagismo.
Mais de 32% dos suíços são considerados dependentes do cigarro, segundo um estudo apresentado terça-feira pelo Departamento Federal de Saúde Pública (OFSP).
Essa pesquisa foi realizada no período entre 2001 e 2002 pela Universidade de Zurique, através de entrevistas com 20 mil pessoas de idades variando entre os 14 e 65 anos.
Os não-fumantes têm cartaz
As pessoas que não fumam passaram a ter uma imagem atraente para os jovens suíços. Essa é a constatação mais surpreendente da pesquisa.
As pessoas que se abstém de fumar são consideradas mais “cool” e “atraentes” que os fumantes, que são vistos, ao mesmo tempo, como “mais nervosos”, “menos satisfeitos”, e “menos seguros de si próprio”.
No cigarro os jovens vêem apenas um único ponto positivo: o fumante teria mais facilidade de contato social.
“Os resultados da pesquisa contradizem a imagem de liberdade e de prazer transmitida na publicidade”, ressalta Vallat. Isso demonstra que as campanhas de prevenção do fumo já começam a dar seus primeiros frutos.
Jovens de 19 a 20 anos fumam mais que os adultos
Mais de 40 mil fumantes na Suíça têm menos de 18 anos. Aumentando a abrangência da pesquisa, descobre-se que 30% dos suíços entre 14 e 20 anos fumam regularmente e 17% cotidianamente.
É a partir dos 15 anos que a proporção de fumantes aumenta drasticamente, chegando a 40% entre os jovens de 19 a 20 anos (contra 6% entre os de 14 anos).
Essas estatísticas chocam também porque apenas um jovem entre vinte consegue parar de fumar ainda na juventude.
O exemplo dos pais e de grupos próximos (irmãos e escola) é também determinante. As chances de começar a fumar quadruplicam e triplicam, respectivamente, quando pessoas nesses grupos são fumantes.
Medidas concretas
A pesquisa da Universidade de Zurique descobriu também que um terço dos jovens com menos de 17 anos possui um objeto ou brinde publicitário, dado por fabricantes de cigarro.
Esse dado contradiz a afirmação dos produtores, de que sua publicidade visa somente atingir o público adulto.
“Nós podemos constatar que as estritas regras de auto-regulação não estão sendo aplicadas”, lembra Vallat.
A partir do trabalho, o Departamento Federal de Saúde Pública irá propor no parlamento medidas concretas para reformar a lei sobre o tabaco. O órgão irá pedir limitações mais estritas à publicidade e também um aumento drástico do preço de produtos do tabaco.
Essas são consideradas as medidas mais eficazes pelos especialistas no combate ao vício do fumo.
Está provado que o aumento do preço do cigarro tem efeito sobre o consumo. Se para o público adulto o valor do produto têm pouca importância, para jovens o custo do cigarro é importante.
Na pesquisa, 72% dos não-fumantes afirmaram ser o preço um dos fatores fundamentais para não adquirir o hábito.
Mulheres têm mais dificuldade para parar de fumar
Entre os homens, a proporção de ex-fumantes aumenta de acordo com a idade, para chegar em 39% no grupo entre 55 e 65 anos.
Em contrapartida, entre as mulheres, essa proporção fica estagnada em 20% no grupo de pessoas a partir dos 35 anos.
O medo do aumento de peso e estresse no trabalho e na família explicam a maior dificuldade das mulheres de abandonar o cigarro. Possivelmente no futuro, haverão mais mulheres fumantes do que homens. Entre os jovens, elas já estão em maioria.
Muitos querem parar, mas como?
O estudo revela ainda que mais da metade dos fumantes gostariam de perder esse vício (52%). Isso mostra que os fumantes conhecem bem os riscos do consumo do tabaco, apesar de admitirem a dificuldade de acabar com o hábito. Apenas 19% dos fumantes conseguiram parar num período de longa duração.
Essas pessoas dão duas razões para justificar sua decisão: elas recusam o vício e também querem evitar as doenças causadas pelo hábito de fumar. Por esse motivo, a OFSP pretende expandir o trabalho de prevenção e sensibilização.
swissinfo, Anne Rubin
tradução de Alexander Thoele
– De acordo com o Departamento Federal de Saúde Pública, cada ano morrem 8.300 pessoas devido a problemas causados pelo hábito de fumar.
– O fumo prejudica também a saúde de 40% da população de fumantes “passivos”.
– Mais de 4 mil substâncias, sendo que 40 delas comprovadamente cangerígenas, foram identificadas na fumaça do cigarro.
– Quarenta países-membros da Organização Mundial da Saúde e a União Européia assinaram a convenção mundial anti-tabagista, adotada em 21 de maio.
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