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COP21 Paris: onde está o dinheiro?

Um dos primeiros projetos que receberão financiamento do Fundo Verde do Clima servirá para o controle de inundações na bacia amazônica peruana. AFP

Encontrar soluções para as mudanças climáticas não dependerá só das negociações políticas durante a conferência da ONU sobre o aquecimento global em Paris (COP21), mas também do dinheiro para apoiar as tecnologias necessárias na luta para manter as temperaturas globais sob controle. 

A captação de recursos para projetos na área do clima se tornou um ponto crucial nas negociações coordenadas pelas Nações Unidas. Diplomatas procuram formas de chegar ao objetivo de um orçamento anual de 100 bilhões de dólares antes do início da COP21 em 30 de novembro.

Eles chegaram à metade do caminho. De acordo com as estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), nos últimos dois anos foram prometidos 57 bilhões de dólares. 

Os países em desenvolvimento argumentam que, sem o dinheiro, estarão impossibilitados de investir em novas formas de energia e transporte mais limpas, ou preparar-se para os efeitos devastadores da elevação das temperaturas.

Promessas e a elevação da temperatura

Um relatório publicado em outubro pelo Climate Action Tracker (CAT), uma organização composta por instituições científicas que monitoram o aquecimento global, prevê que, se todas as promessas forem cumpridas, as temperaturas irão, ainda assim, subir em 2,7 graus centígrados. Para o grupo, isso representa uma melhora em comparação com as avaliações das promessas feitas na cúpula do clima no ano passado em Lima. Estas previam um aumento de 3.1°C.

De acordo com o Carbon Brief, um veículo de mídia que cobre assuntos ligados às questões do clima, as promessas climáticas nacionais, também conhecidas no jargão da ONU como INDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida, na sigla em inglês), feitas até agora, mostra que os países mais pobres necessitarão de trilhões de dólares de apoio para alcançar esses objetivos nos próximos quinze anos.

“Gastos inteligentes”

Conseguir promessas nacionais para o Fundo Verde do Clima – para servir como peça central de financiamento de projetos ligados ao clima – são, no entanto, um processo complexo.

Stefan Marco Schwager, consultor do ministério suíço do Meio Ambiente em questões de financiamento para a biodiversidade e clima internacional, declarou à swissinfo.ch que, do seu ponto de vista, o Fundo Verde do Clima não evolui “tão rápido como muitos de nós gostaríamos”.

Desde o ano passado, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, dedicou muitos esforços em converter a promessa inicial de US$ 10,4 bilhões para o fundo em acordos formais.

A Suíça prometeu US$ 100 milhões ao fundo, para ser pago em três parcelas entre 2015 e 2018.

Schwager afirmou que “há dinheiro disponibilizado” e então o foco agora é saber como ele será gasto “não apenas com rapidez, mas de forma inteligente e com impacto”.

O especialista suíço explicou que existe uma necessidade de maior clareza no que constitui o financiamento do clima, uma questão debatida no ano passado durante a conferência em Lima.

Para doadores dos países desenvolvidos, a corrupção no desembolso dos fundos também é um motivo de “preocupação”, de acordo com Schwager. “Sempre que há dinheiro fluindo, existe o risco de corrupção, abuso e ineficiência”.

Setor privado

A grande parte dos fundos que deverá ser investido para combater as alterações climáticas deve vir, entretanto, do setor privado.

Na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima do ano passado, Christiana Figueres, responsável pela área de mudança climática da ONU, espera que US$ 90 bilhões sejam destinados às tecnologias limpas e infraestrutura nos próximos quinze anos, em grande parte oriundos de investimentos do setor privado.

A Agência Internacional de Energia (AIE), também, prevê que US$ 5 trilhões tenham de ser investidos em energias limpas até 2020 para manter a elevação da temperatura dentro dos limites.

Embora esses números posam parecer colossais, alguns líderes empresariais parecem não se incomodar.

Daniel Rüfenacht, vice-presidente de responsabilidade corporativa na empresa de inspeção e verificação SGS, acredita que as empresas estão cumprindo a sua parte na missão. Mas ele afirma que os governos necessitam trabalhar junto com o setor privado. “Os projetos que os países irão implementar dependem da tecnologia e inovação gerada pelas empresas.”

Bertrand Gacon, presidente da Sustainable Finance Geneva – uma associação patrocinada por empresas privadas, incluindo vários bancos e o governo cantonal – considera que os números lançados nos debates sobre o financiamento para o clima devam ser colocados em contexto. “O que gastamos com cigarros é muitos mais do que deveríamos estar gastando para solucionar o problema das mudanças climáticas”. 

swissinfo.ch

“Os números estão fora do alcance. O setor privado já fornece entre dois terços e três quartos dos fundos necessários para combater as mudanças climáticas. Os mercados financeiros já fazem a sua parte do trabalho”, afirmou.

Títulos verdes

Desde o ano passado, o mercado dos chamados títulos verdes, projetos de financiamento de impacto positivo para o meio-ambiente ou o clima, cresceu rapidamente para chegar a mais de U$S 40 bilhões em novas emissões. Os títulos de rendimento fixo financiam essencialmente projetos que vão desde centrais de energias renováveis, melhoras na eficiência energética e tecnologias “verdes” de transporte.

Gacon disse que, enquanto os títulos verdes ainda representam “uma gota no oceano” em comparação com a dimensão global do mercado financeiro, eles “estavam começando a representar uma quantidade significativa de dinheiro” para as mudanças climáticas.

Ele explicou que a sua emissão significa que, “pela primeira vez, temos um produto de impacto…que setores privados e públicos – governos, fundos de pensão possam investir”. Depois do lançamento, com apoio do Banco Mundial, os títulos verdes se tornaram mais sofisticados, permitindo investidores a se concentrar em onde o dinheiro está indo e não apenas conhecer o emitente.

Credit Suisse, o segundo maior banco da Suíça, e a companhia seguradora Zurich, tiveram um papel ativo em impulsionar o mercado de títulos verdes. No ano passado, a Zurich investiu US$ 2 bilhões em títulos verdes. Seu chefe de setor de investimentos responsáveis afirmou não descartar a compra de títulos “verdes” de produtores de combustíveis fósseis, novamente provocando debate sobre como definir no mercado o que são investimentos “verdes”.

Investimento de impacto

A empresa de gestão de gestão de investimentos baseada em Genebra, Quadia, é uma que pertence ao número crescente de companhias na Suíça a focalizar suas operações em outra área das finanças verdes: o investimento de impacto. É um modelo que oferece financiamento a negócios inovadores com dificuldades de encontrar aporte de fundos dos canais tradicionais.

Os empreendimentos, explica Gacon, são bastante atraentes para investidores não apenas por ter um impacto social e ambiental, mas também graças ao desempenho financeiro, com retornos elevados e diversificação dos seus portfólios. Muitas vezes eles investem em países e projetos que não estão cobertos pelos principais atores do mercado financeiro.

Gacon, que também é chefe do setor de investimento de impacto do banco privado genebrino Lombard Odier, afirma que os bancos ainda precisam se adaptar à “mudança cultural” e se tornar mais conscientes de todos os benefícios das finanças sustentáveis.

Pegada carbónica

Ele diz que externalidades – custos ambientais e sociais do uso do carbono – poderiam ser contabilizadas nos investimentos, assim como o desenvolvimento de formas simples de medir a pegada carbônica para ajudar a mudar o comportamento dos investidores.

“Isso necessita ser reforçado se queremos atingir todos os objetivos”.

Rüfenacht, da SGS, acrescenta que muitas empresas de capital aberto percebem que suas reputações dependem cada vez mais de estar “fazendo a coisa certa”, e assegurar que suas operações e investimento respeitam as preocupações do público em questões ligadas aos direitos humanos e clima.

Mas Schwager alerta que “ninguém quer apenas uma rotulagem como negócio verde. É como os detergentes, que têm os mesmos ingredientes, mas você apenas modificou o rótulo”.

O especialista do clima no ministério suíço do Meio Ambiente afirma também ter visto passos positivos no setor privado, impulsionado pela preocupação crescente dos consumidores em relação às mudanças climáticas. Eles querem ver que as mudanças “rápidas e consideráveis”.

“Muitas vezes as discussões e negociações param na contagem de coisas miúdas e você produz então um belo relatório com fotos” de projetos que foram apoiados.

Adaptação: Alexander Thoele

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