Mais energia através do sol e do frio?
Para a Companhia de Energia de Berna, os Alpes suíços são o local ideal para testar novas tecnologias na área de energia solar. No Jungfraujoch, a estação de trem mais elevada da Europa, ela acaba de instalar coletores solares.
A 3.500 metros acima do mar, as células fotovoltaicas seriam até 70% mais efetivas do que na planície.
Mais um típico dia de outono na Suíça. O céu estava encoberto e uma chuva contínua caia sobre Interlaken, a cidade turística na base das grandes montanhas dos Alpes suíços no cantão de Berna.
O trem leva grupos de turistas asiáticos a maior atração do país: Jungfraujoch, o lugar mais conhecido como “Top of Europe”, a estação de trem mais elevada da Europa construída no vinco entre três das maiores montanhas dos Alpes – Jungfrau (4158,2 metros), Mönch (4.107 metros) e Eiger (3.970 metros).
A maior surpresa para muitos dos indianos e japoneses nas pequenas composições é observar como o tempo vai mudando a medida que o trem vai subindo a encosta escarpada das montanhas. Ao chegar na primeira estação, uma caverna escavada na montanha – Eigerwand (2.865 metros) – os turistas já se sentem em cima das nuvens. Na segunda estação – Eismeer (3.160 metros) – as nuvens desapareceram e o sol desponta como num dia de verão.
“Nessa altura o sol costuma sempre aparecer, mesmo se estamos no meio do inverno. Eu acabo de falar com os nossos colegas na no vale e eles estão reclamando da chuva. Muitos até me invejam”, conta orgulhoso Andréas Wyss, responsável técnico na estação Jungfraujoch.
Local de testes
Para a Companhia de Energia de Berna (nome original em alemão: BKW FMB Energie AG) as condições nos Alpes suíços são ideais para testar novas tecnologias de células fotovoltaicas.
A empresa já havia sido pioneira ao instalar cinco mil painéis solares espalhados numa área de 8 mil metros quadrados sobre o prédio do novo estádio de futebol de Wankdorf, inaugurado com pompa e festa em julho de 2005. Os painéis solares fornecem energia para 200 lares no bairro do estádio.
No Jungfraujoch ela trabalha em conjunto com a Companhia de Trens do Jungfrau e a Swisscom, maior empresa de telecomunicações da Suíça, para testar o funcionamento de placas solares em situações extremas, a grandes altitudes, grandes variações de temperatura e muitas vezes tempo instável, com tempestades e vento.
A primeira placa foi instalada na parede da estação de trem, a 3.500 metros de altitude; a segunda na estação de antenas repetidoras da Swisscom, a 3.700 metros acima do nível do mar.
70% de efetividade
“Uma das grandes vantagens de se utilizar células fotovoltaicas nessas altitudes está na intensidade dos raios solares, sua freqüência e as baixas temperaturas”, explica Wyss.
Segundo os engenheiros da Companhia de Energia de Berna, as células fotovoltaicas produzem entre 50 e 70% a mais de energia do que as que foram instaladas no estádio de futebol em Berna.
As placas no Jungfraujoch devem ser testadas até novembro de 2007. O objetivo é verificar como as condições alpinas influenciam a produção de energia solar e se a tecnologia empregada pode ser melhorada.
As duas placas fotovoltaicas devem produzir 1 kilowatt por segundo, energia que será direcionada para o sistema da estação de trem. “Essa não é uma grande quantidade, mas já é capaz de iluminar dez lâmpadas de 100 watts ou cem das econômicas”, detalha Wyss.
Se o teste for bem sucedido, a Companhia de Energia de Berna pensa em instalar outras placas na estação. Porém não existe o plano de substituir o fornecimento atual de energia por tecnologias ecológicas como a energia solar.
“Obviamente essa seria a situação ideal, mas a energia solar será sempre complementar. Para que a estação funcione, sobretudo os aparelhos que consomem bastante energia como os elevadores ou equipamentos de cozinha, precisamos ser suprido através de usinas localizadas no vale”, explica o responsável pela técnica e segurança.
Experiência pode servir para aventureiro
Os testes realizados com as células fotovoltaicas instaladas no Jungfraujoch poderão também ser úteis para um conhecido aventureiro suíço: o balonista Bertrand Piccard, cujos projetos são patrocinados pela Companhia de Energia de Berna.
Piccard e um time de aventureiros e cientistas estão desenvolvendo uma aeronave solar capaz de contornar o mundo. O objetivo de seu novo projeto, batizado de “Impulso Solar” (“Solar Impulse”), é demonstrar o papel da alta tecnologia no desenvolvimento sustentável.
Para tanto, Piccard terá a assistência de Bryan Jones, que foi seu co-piloto no balão “Breiling Orbiter 3” (com o qual deu a volta ao mundo), e André Borschberg, engenheiro e piloto de jato. O EPFL (Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, localizado em Lausanne) será o responsável pelo desenvolvimento científico da aeronave. O EPFL é o mesmo Instituto que conduziu as pesquisas de termodinâmica no apoio do vôo de balão de 1999 de Piccard e Jones.
swissinfo, Alexander Thoele
– Energia solar é a designação dada a qualquer tipo de captação de energia luminosa (e, em certo sentido, da energia térmica) proveniente do Sol, e posterior transformação dessa energia captada em alguma forma utilizável pelo homem, seja diretamente para aquecimento de água ou ainda como energia elétrica ou mecânica.
– No seu movimento de translação ao redor do Sol, a Terra recebe 1 410 W/m2 de energia, medição feita numa superfície normal (em ângulo reto) com o Sol. Disso, aproximadamente 19% é absorvido pela atmosfera e 35% é refletido pelas nuvens. Ao passar pela atmosfera terrestre, a maior parte da energia solar está na forma de luz visível ou luz ultravioleta.
Atualmente apenas um milésimo da eletricidade produzida na Suíça é de origem solar.
No estado atual da tecnologia, seriam necessários oito mil estádios de futebol cobertos de placas solares como o de Wankdorf, em Berna, para chegar a potência da central nuclear de Leibstadt.
Para cobrir a demanda total de eletricidade da Suíça seriam necessários 500 quilômetros quadrados de painéis solares, ou seja, duas vezes a superfície do cantão de Genebra.
O custo da eletricidade solar é atualmente cinco vezes maior do que o produzido por fonte hidráulica ou nuclear.
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