Novos estudos comprovam mudanças climáticas
A concentração de CO2 na atmosfera terrestre nunca foi tão alta nos últimos 650 mil anos. A afirmação é de um pesquisador da Universidade de Berna.
Ao furar camadas de gelo na Antártida até 3.200 m (um recorde), a equipe européia dirigida por Thomas Stocker concluiu que esse aumento do CO2 nada tem de natural.
Há um ano de meio, o projeto europeu EPICA já estava na capa da prestigiosa revista científica britânica Nature. O semana passada, o destaque foi dado pela equivalente americana Science de enfatizar a importância dos trabalhos desses sábios do extremo.
Realizadas no meio de nevascas e com temperatura média de -54° C, as perfurações atingiram profundidades recordes de até 3.200 m. Com isso foram trazidos até a superfície tubos de gelo produzidos pela acumulação de neve caida no continente antártico há 650 mil anos, muito antes da existência do homem moderno.
A análise das bolhas de ar presas no gelo permite medir a concentração de gases atmosféricos que provocam o efeito estufa como o dióxido de carbono (CO2) e o metano, ao longo do tempo.
O culpado é o homem
Esses resultados são incontestáveis. “A concentração de CO2 é atualmente 27% mais elevada do que o nível mais alto registrado nos últimos 650 mil anos”, sublinha o professor Thomas Stocker, do Instituto de Física da Universidade de Berna, que dirige os estudos.
A análise demonstra que as quantidades de CO2 ficaram relativamente estáveis até o início do século XIX. Ora, “a alta que conhecemos hoje é de aproximadamente 200 vezes mais rápida do que qualquer outra alta constatada em nossas amostras”, prossegue o professor bernês.
Os níveis de gás carbônico na atmosfera começaram a aumentar com a revolução industrial e o uso em grande escala do carvão como fonte de energia. Nas últimas décadas, o rítmo se acelerou com a industrialização galopante e a explosão do número de automóveis.
A pesquisa demente a hipótese divulgada por certos meios, que atribui o aumento dos gases de efeito estufa a um ciclo natural. “Esta pesquisa fornece novas informações mostrando que o período em que os humanos modificaram a composição da atmosfera é muito curta, comparado aos ciclos naturais de mudanças climáticas”, afirma Thomas Stocker.
O ano mais quente
Quando à ligação entre os gases que provocam o efeito estufa e o aquecimento climático, ele ainda é contestado pelos argumentos de que, ao longo de sua história, a Terra teve alternância entre fases quentes e frias. De fato, o último período glaciário terminou há apenas 11 mil anos.
No entanto, nos últimos anos, os cientistas acumularam uma série de indícios confirmando a realidade do fenômeno e que 2005 poderá ter sido globalmente o ano mais quente de toda a história.
Nível dos oceanos sobe
O mesmo número da revista Science publica um outro estudo com indícios suplementares, mostrando que os oceanos sobem mais rapidamente do que nos séculos precedentes. Segundo o autor, uma parte dessa alta das águas é ligada ao aquecimento global do clima, atribuido ao homem.
O nível dos oceanos sobe duas vezes mais rapidamente nos últimos 150 anos do que nos cinco milênios precedentes. Em média, o nível está subindo 2 mm por ano atualmente, enquanto subia de 1 mm nos cinco milênios anteriores, precisam os pesquisadores, depois de 15 anos de trabalhos sob a direção do geólogo estadunidense Kenneth Miller.
“Metade da alta atual teria ocorrido de qualquer maneira. Mas isso significa que a outra metade do fenômeno não é devida à evolução normal mas provocada pelo homem”, afirma o professor Miller.
Os pesquisadores analisaram cinco amostras extraídas a 500 m de profundidade para estudar fósseis, sedimentos e diversas variações na composição química da superfície terrestre, o que lhes forneceu dados dos últimos 100 milhões de anos.
Efetuaram também diversas medidas das marés captadas por satélite.
Esses trabalhos também permitiram concluir que o nível do mar na época dos dinossauros era inferior às estimativas até agora aceitas. A equipe de Kenneth Miller acha que o nível do mar era então de 100 m superior ao nível atual e não de 250 m, como se imaginava.
swissinfo com agências
– EPICA (European Project for Coring in Antarctica) é um programa europeu de perfuração das geleiras da Antártida.
– Participam Suíça, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, França, Itália, Grã-Bretanha, Holanda, Noruega e Suécia.
– O objetivo principal é estudar a atmosfera e o clima nas eras passadas da Terra pela extração de amostras de gelo em profundidade.
– A equipe EPICA é dirigida por Thomas Stocker, professor de física climática e ambiental na Universidade de Berna.
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