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Pesquisadores descobrem textos inéditos

O professor Jacques Schamp (sentado) e seu assistente Eugenio Amato. Université de Fribourg

Dois estudiosos da língua e civilização da antiga Grécia na Universidade de Friburgo descobrem textos literários inéditos. Fato tem repercussão internacional, sobretudo na imprensa especializada.

Os textos falam de uma época que até os dias de hoje não recebeu a devida atenção dos pesquisadores: a “Antigüidade Tardia”.

A descoberta foi feita pelo professor Jacques Schamp, responsável da cadeira de filologia clássica da Universidade de Friburgo e seu assistente, o Dr. Eugenio Amato.

Os textos mais antigos datam do século V e VI e são uma compilação de cartas trocadas entre o sofista e mestre em retórica cristão Procópio de Gaza (465-529 d.C) e seu aluno, o jovem advogado Mégéthios, personagem até hoje desconhecido.

Nas bibliotecas

O grupo de estudo recebeu recursos do Fundo Nacional de Pesquisa Científica e da Universidade de Friburgo para estudar e traduzir textos de Procópio de Gaza. Para realizar o trabalho, eles efetuaram inicialmente uma investigação sobre os manuscritos relativos ao autor.

Elas terminaram por possibilitar a descoberta de textos inéditos encontrados na Biblioteca Marciana em Veneza e na Biblioteca Nacional da França, algo que muitos consideram como espetacular.

– Atualmente é muito raro ainda encontrar textos gregos inéditos, sobretudo os literários – explica Eugenio Amato e completa – as últimas descobertas datam de 1810 e 1812.

Mesmo sendo raras, as descobertas ainda são possíveis. De fato, o período histórico classificado como “Antigüidade tardia” ainda não foi minuciosamente estudado.

– Até o presente, a comunidade científica considerava o período tardio como uma época da Idade Média e tinha uma visão depreciativa dela, não demonstrando ao mesmo tempo interesse em pesquisá-la” – revela Amato.

Por essa razão, os pesquisadores suíços acreditam na existência de outros documentos de interesse científico.

Novas questões são lançadas

A tarefa agora é descobrir de que maneira os textos, antigos de 1.500 anos de idade, podem ser importantes para os helenistas. De um ponto de vista lingüistico, eles trazem novos conhecimentos sobre palavras e contextos próprios da língua grega utilizada na época da Antigüidade tardia.

Do ponto de vista histórico, a descoberta permite de saber um pouco mais sobre Procópio de Gaza, chefe de uma importante escola de retórica de Gaza. Grande conhecedor da literatura de Homero, esse personagem teve uma papel importante na transmissão do corpo bíblico, em particular o Antigo Testamento.

De qualquer maneira, a troca de cartas entre Procópio de Gaza e Mégéthios constitui um caso único.

– Aqui nós vemos um verdadeiro intercâmbio entre o mestre e seu aluno. Trata-se de um caso único na Antigüidade, pois essa correspondência ocorria apenas num sentido único, onde não há respostas – analisa Jacques Schamp.

A descoberta é considerada também uma abertura no horizonte de estudos do grego.

– Trabalhamos num conjunto de textos relativamente fechados, onde cruzamos o tempo todo com os mesmos assuntos e, consequentemente, os mesmo problemas – explica Schamp e conclui – Como estamos estudando um material nunca examinado, acredito que iremos expandir nossos conhecimentos sobre a época e até levantar novas questões.

Rede internacional

Descobrir textos inéditos não é tudo. Agora é importante realizar o complexo trabalho de traduzir e interpretar o material.

O assistente Eugenio Amato já começou a realizá-lo no início de março. Para isso ele conta também com a ajuda de uma rede internacional de pesquisadores, sobretudo os da Universidade de Göttingen (Alemanha), Milão (Itália) e de Nova Iorque (EUA).

Amato pretende publicar brevemente os resultados da sua pesquisa, traduzidos e comentados, na Revista Bizantina.

swissinfo, Olivier Pauchard
traduzido por Alexander Thoele

– Procópio de Gaza viveu no século VI.

– Mestre em retórica e sofista, ele viveu quase toda a sua vida em Gaza.

– Ele escreveu inúmeros comentários sobre o Antigo Testamento e tratados contra a filosofia neo-platônica.

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