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Ela trouxe a televisão para a internet

Bea Knecht
Desde os anos 1990, Bea Knecht pensa como seria a televisão do futuro. Em 2005 fundou a firma Zattoo em São Francisco, EUA. zVg

Bea Knecht já previa em 1990 que "computadores rápidos permitiriam ver televisão por internet". A suíça fundou, em 2005, a empresa Zattoo nos Estados Unidos e não parou mais por aí.

A fundadora da firma ZattooLink externo, Bea Knecht, parece descontraída quando a conexão do Skype finalmente funciona. Quando a entrevisto, a encontro em São Francisco, EUA, no momento em que faz uma série de chamadas telefônicas. Na Suíça já é de noite.

A pioneira da TV digital cresceu em Windisch, um vilarejo no cantão de Argóvia, mas vive hoje entre Zurique, São Francisco e Berlim. Aos 17 anos, Knecht gostava de todas as disciplinas, seja história ou física, mas matemática era sua paixão. Contemplando o passado, diz: “A geometria era tão fácil que nem sequer pensava que fosse matéria de escola.”

Na série Pioneiros digitais suíços swissinfo.ch retrata personalidades suíças interessantes no exterior ou com apelo internacional que reconheceram o potencial da Internet em uma fase inicial e a utilizaram com sucesso para suas atividades. A autora, Sarah GennerLink externo, é uma pesquisadora de mídia e especialista em meios digitais. O seu livro ON | OFF foi publicado em 2017. 

Visão do futuro: O supercomputador como TV

Já em sua juventude, problemas com o sistema de contabilidade da empresa de família mostraram a ela que: “A informática iria se tornar importante”. Em 1986, a jovem de 19 anos mudou-se para os EUA, onde foi estudar informatica.

Na Universidade de Berkeley, perto de São Francisco, teve uma ideia brilhante para a sua futura empresa. Com um colega testou os requisitos técnicos do novo padrão de TV HD da Sarnoff Labs, em 1990 (onde foi inventada a televisão em cores). “Se extrapolarmos nossos cálculos, devemos ter um supercomputador capaz de executar TV de alta definição.”

Coincidentemente, àquela altura, já existia um supercomputador, no valor de 25 milhões de dólares, no porão do mesmo edifício em Berkeley. Um serviço similar é oferecido hoje em um aparelho de TV HD por 500 francos suíços. Aplicando a Lei de MooreLink externo, segundo a qual a capacidade de um processador duplica aproximadamente a cada 18 meses, ela calculou que até 2005 o supercomputador correspondente deveria ser acessível para famílias médias. Knecht concluiu então: “Quando a televisão vira computador, então o laptop se torna televisão.”

De fato, em 2005 os chips eram suficientemente rápidos para os planos da Knecht, mas a Internet não. Além disso, o streaming ainda era muito caro na época: “O streaming de um gigabyte custava cinco euros em 2006; três anos depois custava de cinco a dez centavos. Hoje custa apenas entre 0,5 a 2 centavos por gigabyte.”

A pioneira identificou a grande queda nos preços na sequência da crise econômica de 2008: “As grandes empresas de internet perderam clientes e ofereceram preços baixos para reanimar os negócios. Em 2019, Zattoo transmitiu cerca de 30 petabytes por mês, o equivalente a 30 milhões de horas de TV em alta definição.

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De São Francisco a Zurique

Depois de estudar ciências da computação em Berkeley, Knecht passou a ter muito trabalho. Além do know-how técnico, fez um MBA em Lausanne. Ela então se tornou sócia associada da McKinsey em Palo Alto, Califórnia e depois vice-presidente de marketing da Linuxcare, em São Francisco. Nesse período lançou produtos como o UBS OpenLAN, SAP xRPM e Levanta.

Em 2005, chegu a hora de fundar a Zattoo em São Francisco. Junto com seu sócio, Sugih Jamin, professor de informática nos EUA, ela montou o plano de negócios da Zattoo e abriu a empresa. Em 2006 abriu uma filial na Suíça: “Viemos à Suíça, porque aqui era mais rápido obter os direitos de streaming.”

Em 2006 assisti televisão pela primeira vez através da plataforma Zattoo. Na época morava com outros estudantes em um apartamento compartilhado, sem aparelho de TV. Foi uma verdadeira revelação poder acessar inúmeros canais de TV gratuitamente com apenas um clique no meu MacBook.

Dizíamos naquela época “zattuu”, mas a pronúncia correta é “zattoo”. Zattoo é uma palavra japonesa e significa “uma grande multidão de pessoas”. O nome é simbólico, na medida em que Bea Knecht nunca quis criar uma oferta de nicho.

“Muitos disseram que a ideia do negócio seria boa para as emissoras marginais. Mas queria estar no meio da sociedade”, explica. Knecht tinha certeza de que Zattoo daria mais acesso ao conteúdo clássico da TV. “Você assiste às mesmas coisas em momentos semelhantes, em sets diferentes”, diz.

Na Europa, Zattoo tinha basicamente condições mais interessantes. As pessoas geralmente só tinham uma televisão em casa. Já nos EUA eram várias. “Quando a televisão em cores chegou, os americanos disseram: não jogue fora a velha televisão preto e branco; use-a como um segundo aparelho. Na Europa, houve trocas de aparelhos”. A ideia de Knecht era que você gostaria de ver a mesma coisa da TV de sua casa, mas não a mesma coisa ao mesmo tempo. E por isso Zattoo ainda é usado com frequência hoje em dia.

“Construímos quase tudo”

Qual foi o papel dos EUA no desenvolvimento do Zattoo? “As bases tecnológicas foram lançadas pela nossa equipe americana. O desenvolvimento posterior foi feito principalmente pelos nossos escritórios em Zurique e Berlim. Nós mesmos construímos quase tudo. Isto nos dá um bom controle de custos e qualidade”.

Hoje em dia Zattoo alcança entre 2 a 3 milhões de usuários por mês. Ela emprega cerca de 160 pessoas. Até há um ano, Bea Knecht era presidente do conselho administrativo da empresa.

Em 2019, a empresa Tamedia (agora TX Group) assumiu o controle acionário e a presidência do conselho administrativo. Em uma entrevista sobre a aquisição, Knecht forneceu informações sobre várias mudanças de paradigma que a empresa sofreu.

Bea Knecht nos dá insights sobre empreendedorismo, a indústria de TI e as carreiras das mulheres. Até 2012, ela viveu no corpo de um homem. Depois ela fez a mudança de sexo.

Hoje diz: “Vi uma grande mudança na forma como as pessoas me tratam como mulher.” Com uma boa porção do humor típico de TI, Knecht descreve o que sua situação diz sobre o fator gênero no mundo dos negócios: “Eu sou um teste A/B ambulante”.

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Niklaus Wirth: uma lenda viva da computação

Este conteúdo foi publicado em Em sua homepage não se vê um endereço de e-mail, embora o professor emérito de ciência da computação da ETH de Zurique seja provavelmente um dos poucos que, aos 85 anos de idade, tem sua própria homepage. Por outro lado, Niklaus Wirth ainda pode ser encontrado na lista telefônica com um número de telefone fixo.…

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“Cultura de Brogrammer” no Vale do Silício

Knecht confirma o que com frequência se ouve: “O Vale do Silício é a nova Wall Street.” São Francisco se orienta mais para o dinheiro. As startups no setor de tecnologia especulam com dinheiro rápido de capitalistas de risco. A bolsa de valores vive muitas oscilações. As startups têm uma janela de oportunidade estreita para se tornarem bem-sucedidas.

Em relação à situação das mulheres nesse ambiente, a empresária diz: “Neste ambiente, a licença maternidade está sujeita a uma grande pressão econômica. Portanto, nesta situação extrema, o congelamento social é usado como um meio de promover as mulheres”. O congelamento social significa que as mulheres em idade fértil podem ter seus ovos congelados, a fim de adiar o nascimento dos filhos para mais tarde.

Knecht compara a atmosfera reinante nas startups de tecnologia com o alpinismo extremo: “Ter uma criança na face norte do pico Eiger também não é possível”. É uma ferramenta extrema para situações extremas, pensa ela. Ela observa que as mulheres são fortes na comunicação e muitas vezes têm melhor desempenho na escola e na universidade. Já os homens tendem a estar mais dispostos a correrem riscos e a passar mais rapidamente do pensamento à ação.

Knecht descreve a “cultura Brogrammer” no Vale do Silício de forma objetiva e impressionante. “Brogrammer” é uma palavra composta por “programador” e “bro” (irmão no sentido de amigo masculino). Ela diz: “É difícil para as mulheres invadirem esta cultura.”

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Ela diz que isto se deve à falta de vontade de correr riscos e à forma como os homens exigem provas de lealdade uns dos outros, muitas vezes provas idiotas de lealdade. “Muitas mulheres pensam que os homens têm suas redes informais de auxílio mútuo. Isso é verdade, mas eles pagam por isso um preço muito alto.” Knecht vê uma grande oportunidade para ambos os sexos na renegociação dos papéis de gênero. Ela encontra provas disso na realidade da Escandinávia.

A facilidade que Bea Knecht sempre teve com a geometria e as questões técnicas, ela vivencia hoje com os resultados da pesquisa sobre transgêneros. Os transgêneros de homem para mulher têm um sentido espacial superior. Visto sob esta luz, sua capacidade inata pode tê-la ajudado no trabalho técnico. Por outro lado, o background de TI foi útil em seu realinhamento de gênero: “Eu procedi da mesma forma que faria no planejamento de um projeto de TI”.

Financiamento governamental para comentários online?

Questionada sobre a democracia digital na Suíça, Knecht vê no debate online uma grande vantagem para a democracia através do diálogo político e de uma recriação digital do sistema tradicional de associações suíças.

Bea Knecht
Bea Knecht é também uma pioneira das “nuvens”, os servidores à distância. zVg

Ela acha uma pena que muitas empresas de mídia estejam fechando a função de comentários online por razões de recursos: “Se economizarmos em comentários, temos um problema com a troca de opiniões, que é essencial para uma democracia”.

Quando exprimi compreensão pelo fato de que, em meio à crise da mídia, não se pode dar tantos recursos aos comentários menos construtivos feitos por “trolls”, ela responde: “Então o Estado poderia entrar na brecha e apoiar financeiramente a moderação dos debates online. Fico aliviada ao notar que Knecht é membro da Comissão Federal de MídiaLink externo (EMEK), onde ela pode fazer tais sugestões.

Knecht é uma pioneira corajosa em vários aspectos. Tecnicamente, ela é pioneira tanto no digital quanto na TV por estar por trás da primeira televisão gratuita para dispositivos móveis. _Hoje Zattoo é a maior fornecedora de web TV ao vivo na Suíça e na Alemanha.

Ela e seus parceiros de negócios construíram do zero um sistema completo de infraestrutura de cloud antes mesmo que a ideia da cloud se tornasse popular. Anos antes da competição, eles capturavam, decodificavam, recodificavam e transmitiam sinais de TV ao vivo para os usuários finais; sempre no limite das possibilidades da tecnologia moderna e de banda larga.

Knecht conduziu com prudência e sucesso sua empresa de Internet através de várias fases, enquanto muitas outras empresas de TI foram incapazes de sobreviver à rápida mudança.

Por último, mas não menos importante, já que é também uma conquista pioneira, Bea Knecht se manifesta publicamente há anos sobre o papel dos transgêneros e das mulheres na indústria da informática. Ela já ganhou uma série de prêmios, incluindo o Swiss Digital Lifetime Award e o Best of Swiss Web Prize.

Em abril de 2020 receberá uma grande honra: ela e Zattoo serão premiadas com o Emmy Award técnico, o o prêmio mais importante da televisão nos Estados Unidos.

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Adaptação: DvSperling

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