Politécnica suíça participa de projeto ambiental no Brasil
Quando o naturalista inglês Charles Darwin esteve no Brasil, em 1832, um dos lugares que mais o impressionou foi Cabo Frio, cidade no litoral do Rio de Janeiro que hoje é muito conhecida por suas inúmeras e belas praias.
A riqueza histórica dessa parte do litoral e seu valor ambiental e geológico, poderá agora ser preservada sob a chancela da Unesco em um projeto que conta com a participação da Escola Politécnica de Zurique (ETH.
O Geoparque Costões e Lagunas do Rio de Janeiro abrangerá 15 municípios litorâneos, de Maricá a São João da Barra, incluindo a Região dos Lagos (onde está Cabo Frio). Em toda sua extensão, a área proposta para o parque contempla os conceitos previstos pela Unesco, com uma concentração de pontos de interesse geológico, histórico, ambiental, arqueológico e cultural. Se obtiver o selo da Unesco, a região será reconhecida internacionalmente como integrante da Rede Global de Geoparques e receberá incentivos para estimular o turismo científico e cultural.
A expectativa pela aprovação do projeto pela Unesco é grande, já que atualmente existem somente 77 geoparques em todo o mundo, e o único na América Latina é o Geoparque de Araripe, criado em 2006 no estado brasileiro do Ceará. Na atual etapa do projeto, estão sendo realizadas com representantes dos municípios envolvidos diversas oficinas para a organização das informações disponíveis sobre turismo, cultura, patrimônio e projetos educacionais.
Também estão sendo realizadas audiências púbicas, em cada município, com membros dos governos locais e empresários dos setores de turismo, hotelaria, alimentação e cultura, além de representantes de ONGs e movimentos sociais. Todas as informações coletadas estarão incluídas no dossiê que será enviado à Unesco.
“Estamos na fase de definição do tipo de gestão que terá o Geoparque. O mesmo foi dividido em sub-áreas para melhorar seu gerenciamento. Em março, fizemos na cidade de Macaé uma convocatória a todos os municípios incluídos, de forma a definir a gestão participativa do Geoparque. Esse tipo de dinâmica é prevista no processo e precisa existir antes que o Geoparque seja aprovado pela Unesco. Quando a comissão vier nos visitar, essa gestão tem que estar funcionando”, afirma Débora Toci, diretora do Serviço Geológico do Estado (DRM).
A visita da comissão de avaliação da Unesco ao Brasil, ainda sem data especificada, deverá acontecer no segundo semestre deste ano. Confiante na aprovação do projeto, o Governo do Rio já acelera alguns procedimentos: “Estamos viabilizando junto ao Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI) a logomarca do Geoparque, que vai ser difundida nos produtos da região e divulgada também. Além disso, estamos finalizando os protótipos dos mascotes do Geoparque (os Geoferas), que serão confeccionados. Enfim, as coisas estão andando agora no sentido de arrumar a casa e tornar o parque sustentável por si só”, diz Débora Toci.
Convênio com Petrobras
Além do GRM, fazem parte do projeto de criação do Geoparque Costões e Lagunas do Rio de Janeiro a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, a Petrobras e a Escola Politécnica Federal de Zurique ETH). A participação suíça começou em 2009, quando o Departamento de Geologia da ETH Zurique assinou com a Petrobras um convênio de cooperação técnico-científica na área de carbonatos microbiais, conhecidos como dolomíticos.
“Um dos principais objetivos deste convênio é estudar ambientes recentes para tentar entender o passado geológico e, com isso, ajudar no entendimento das últimas descobertas de ocorrência de petróleo nos reservatórios do pré-sal”, afirma a geógrafa Gisele Ferolla Vasconcelos, responsável pelo acompanhamento do projeto na ETH Zurique.
A degradação ambiental provocada no litoral do Rio de Janeiro pela ação humana nos últimos dez anos, conta Gisele, fez com que o projeto de criação do Geoparque fosse incorporado ao convênio firmado entre brasileiros e suíços: “Um dos propósitos do Geoparque é ajudar na preservação e estabelecer regras para um desenvolvimento sustentável na região”, diz. Emblematicamente, a futura sede do Geoparque será instalada na Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio, mesmo local onde Charles Darwin ficou hospedado.
Formação científica
Participar de projetos ligados à preservação do meio ambiente em todo o mundo é uma das prioridades da instituição suíça: “A ETH Zurique é considerada uma das melhores universidades do mundo. Para manter esse status, deve permanecer na vanguarda das pesquisas no campo das ciências naturais e ambientais. As pesquisas interdisciplinares desenvolvidas na ETH Zurique podem contribuir para o desenvolvimento sustentável em todo o mundo, isso torna a instituição uma parceira confiável para as economias, políticas e sociedades dos países que possuem cooperações científicas”, avalia Gisele Vasconcelos.
A geógrafa acrescenta que o projeto de criação do Geoparque Costões e Lagunas do Rio de Janeiro também se enquadra no escopo do programa de integração entre sociedade e desenvolvimento sustentável da ETH Zurique: “Essa oportunidade coloca a universidade como um dos principais parceiros no aprimoramento da educação de base e na formação da próxima geração de cientistas, contribuindo assim para os avanços científicos e o desenvolvimento do Brasil”, diz.
O interesse científico da ETH Zurique pelo litoral do Rio de Janeiro já dura vinte anos, tempo em que a universidade suíça vem desenvolvendo estudos na região denominada Costa do Sol, localizada aproximadamente a 100 km da capital: “Nesta área existem lagoas hipersalinas que são consideradas ambientes fósseis, porque nelas se desenvolvem tapetes microbiais que formam os estromatólitos, que são considerados a primeira evidência de vida primitiva no registro geológico.
Além disso, há precipitação nessas lagoas de dolomita, que é um mineral carbonático abundante no Pré-Cambriano. Atualmente, a dolomita é encontrada apenas nos lagos de Coorong, na Austrália, e nas planícies de Sabkha, nos Emirados Árabes”, explica Gisele Ferolla Vasconcelos.
O estudo das particularidades desses ambientes no Rio de Janeiro, conta Gisele, já foi material para a realização de cinco teses de doutorado e dezenas de artigos publicados em revistas científicas conceituadas, incluindo Nature e Science: “Essas pesquisas ajudaram a promover as lagoas fluminenses, tornado-as patrimônio geológico”, diz a geógrafa da ETH Zurique.
Rio de Janeiro
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