Politécnicas suíças salivam pelos bilhões da UE
A União Europeia pretende investir 2 bilhões de euros em dois projetos científicos extraordinários, em 2012 .
Os nomes dos seis finalistas foram anunciados na quarta-feira (4/5) na Hungria, país que assume a presidência rotativa da UE. Três selecionados estão na Suíça.
O resultado dessa primeira seleção, que compreendia nada menos do que 21 projetos, foi anunciado pela nata europeia da ciência e da tecnologia que se reúne durante três dias em Budapeste para o salão FET 2011 (ver ao lado).
“Science Beyond Fiction” (A Ciência além da Ficção) é o lema do encontro e já dá o tom do que poderá ser visto pelos corredores das salas de conferências, onde, em dezenas de estandes, professores e alunos apresentam seus últimos inventos engenhosos. Muitos robôs, que se aproximam cada vez mais das formas humanoides sugeridas pelo imaginário da ficção científica. Mas por trás da aparência de brinquedo dessas máquinas, se escondem descobertas incríveis.
É essa criatividade que a Europa quer incentivar com a escolha de dois “flagship” (ver ao lado). Cada um receberá o total de um bilhão de euros em dez anos. Mas a decisão final só sai no ano que vem. Até lá, a cidade cortada pelo Danúbio foi o local escolhido para anunciar os seis finalistas, que receberão, cada um, um milhão e meio de euros para aperfeiçoar seus projetos até a decisão final.
“Os finalistas anunciados hoje plantarão as sementes da inovação de amanhã. A Europa é o lar de alguns dos principais pesquisadores da fascinante e altamente inspiradora área das tecnologias emergentes e do futuro”, declarou a Comissária da UE, Neelie Kroes, em seu discurso inicial.
E uma surpresa agradável: três dos seis finalistas são suíços. Se é que o conceito de nacionalidade ainda significa alguma coisa em um país onde a metade do corpo docente e dos estudantes de doutorado são estrangeiros.
Em todo o caso, os nomeados da Suíça são:
The Human Brain Project (EPFL)
Esse projeto foi batizado de “o CERN do cérebro” e alguns comparam sua importância à decodificação do genoma humano. Henry Markram, da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), quer construir um computador capaz de simular o funcionamento do cérebro humano. Por enquanto, sua equipe conseguiu criar um modelo da coluna neocortical dos ratos feita de 10 mil neurônios que tecem entre si até 30 milhões de conexões (sinapses). E há apenas 100 bilhões de neurônios no cérebro humano…
Mas para Henry Markram, a tarefa é simplesmente indispensável. “Estamos vivendo mais, a medicina mantém nosso corpo, mas não temos soluções para as doenças cerebrais que afetam cerca de dois bilhões de pessoas na Terra. Se quisermos encontrar uma solução, teremos que compreender o cérebro”, explica.
Para o cientista, não há dúvida: o the Human Brain Project (Projeto Cérebro Humano) é um flagship (porta-estandarte). O projeto já foi até citado nos documentos internos da Comissão Europeia como exemplo do que esses programas deveriam ser. “Eu acho que a maioria das pessoas reconhecem que o interesse pelo cérebro humano é um assunto urgente. E é um desafio acadêmico. Isso não é algo que a indústria vai resolver por nós”, acrescentou Henry Markram.
Guardian Angels (EPFL)
Adrian Ionescu também está convencido que terá sua chance, embora admita que os seis projetos “estão entre os melhores do continente e praticamente em pé de igualdade”.
Seus “anjos da guarda” constituem uma nova geração de chips do futuro. Eles vão monitorar as funções vitais do corpo, tratando dos dados e comunicando-os, para minimizar os riscos de saúde, mas também o de dirigir ébrio ou os erros fatais devidos ao estresse… Uma forma, segundo Adrian Ionescu, de “transformar a ciência e a tecnologia em algo útil, que tenha um impacto em nossas vidas de todos os dias.”
Detalhe importante: os novos chips funcionarão sem consumir nada, nenhuma energia externa, alimentando-se da temperatura do corpo, do movimento ou do sol. O projeto tem o apoio de várias empresas e também marca uma forte colaboração entre as Politécnicas de Lausanne e de Zurique.
FuturICT (University College of London, EPFZ)
A Politécnica de Zurique também dirige um outro projeto com a colaboração da prestigiada universidade britânica. FuturICT é um projeto futurista que une sociologia e tecnologia da informação. “É como assistir ao nascimento de uma nova ciência”, entusiasma-se o londrino Stephen Bishop.
Com FuturICT, o pesquisador e seus colegas pretendem criar ferramentas capazes de analisar a maioria dos dados disponíveis em todo o mundo, incluindo aqueles que ninguém usa. O objetivo é compreender o funcionamento das sociedades e, eventualmente, prever crises como a de 2008, que custou caro à economia mundial.
FET para “Tecnologias futuras e emergentes” (Future and Emerging Technologies), é um programa europeu de apoio à pesquisa nas áreas das tecnologias da informação e da comunicação. Financiou 526 projetos em 22 anos, com orçamentos que aumentam de forma constante (370 milhões de euros no período 2007-2011). O objetivo é apoiar a pesquisa “de longo prazo e de alto risco que tem o potencial de transformar radicalmente a sociedade científica e tecnológica de amanhã”.
Flagships para “porta-estandartes”. São os dois projetos que a Comissão Europeia vai atribuir no próximo ano, 1 bilhão de euros para cada um, ou pelo menos 100 milhões por ano durante dez anos. Eles devem ser de grande escala, visionários, fundamentados cientificamente, apoiados politicamente e financeiramente sólidos e ter “o potencial de fornecer soluções para alguns dos maiores desafios da sociedade.”
Adaptação: Fernando Hirschy
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