Por que o índice de jovens desocupados é tão baixo na Suíça?

Espaço para crescer? Uma aprendiz de jardinagem rega algumas plantas. © Keystone / Christian Beutler

O número de jovens que não trabalham, não estudam nem seguem qualquer formação (NEETs) na Suíça é o mais baixo da Europa. Mas os especialistas alertam que ainda há motivos para preocupação, pois esses jovens lutam para encontrar apoio e aceitação.

NEET é uma sigla internacionalmente utilizada para designar o número de jovens que não estão nem no mercado de trabalho nem em sistemas de  educação ou treinamento (“jovens desconectados”, como se diz nos Estados Unidos). O termo ganhou destaque no final dos anos 2000, quando a crise econômica fez subir os níveis de desemprego entre jovens e cresceram os temores de que alguns fossem permanentemente excluídos do mercado de trabalho.

A proporção de NEETs na população mais jovem varia de país para país. Na Suíça, é de 6,3% dos jovens de 15 a 29 anos (90.000 pessoas), de acordo com as últimas estatísticas do Departamento Federal Suíço de Estatística (FSO)Link externo publicadas em 8 de fevereiro deste ano. A taxa é uma das mais baixas da Europa. A vizinha Itália tem a maior proporção com 23,3% de jovens nesta situação.

Entre as razões pelas quais a Suíça se sai tão bem em comparação com outros países europeus está seu bom sistema de educação pública e a excelente formação profissionalizante – que combina escola e trabalho – a formação sendo escolhida por dois terços dos jovens.

Uma olhada na tabela também confirma baixas taxas de NEET em outros países com fortes sistemas de aprendizagem, como a Áustria e a Alemanha.

Taxa de queda

O número de NEETs na Suíça na verdade vem caindo na última década, disse o FSO: em 2010, era de 8,1% das pessoas com idades entre 15 e 29 anos.

E a diminuição afetou ambos os tipos de NEETs – a Suíça faz uma distinção entre os “desempregados e à procura de emprego” e os “economicamente inativos” que incluem aqueles com funções de cuidado familiar, no serviço militar/civil (ainda obrigatório para homens jovens na Suíça) e em programas de idiomas no exterior.

“A diminuição do NEET é mais visível entre as mulheres, cuja taxa diminuiu de 9,6% para 5,9% [durante esse período], enquanto permaneceu estável entre os homens, sendo em 2010 6,7% e em 2020 cerca de 6,6%”, declarou à SWI swissinfo.ch por e-mail Thierry Murier, do FSO.

“Um movimento que explica esta situação é a diminuição do número de pessoas (principalmente mulheres) que indicam como causa “Responsabilidades familiares e pessoais (1,8% das pessoas com idades compreendidas entre os 15-29 anos em 2010 para 0,6% em 2020, ou seja, 23% respectivamente 10% dos o número total de NEET).”

Fatores NEET

A mudança é significativa porque ser jovem é um fator de risco tradicional para o NEET, como vários estudos internacionaisLink externo e suíçosLink externo demonstram. Outros fatores incluem um nível educacional mais baixo e, como a OCDE apontou em seu relatório Education at a Glance de 2021Link externo sobre a Suíça, ter origem migrante também pesa  – uma diferença de cinco pontos percentuais na taxa NEET entre jovens nascidos no exterior e nascidos no país adultos, uma variação de 10,7% contra 5,9%, de acordo com os números.

Saúde, incluindo questões de saúde mental e problemas familiares, também são um tópico entre os NEETs.

Mas, no geral, não existe um NEET “típico”, explica Claudia Meier Magistretti, professora da Universidade de Ciências Aplicadas e Artes de Lucerna, que lidera um projeto de pesquisa suíço sobre NEETs. Mas o que esse estrato social tem em comum é que todos lutam para encontrar aceitação.

Muitos NEETs acham a escola, com sua ênfase na aprendizagem individual e orientada para a escolha profissional, difícil. “O fator mais importante, no entanto, é que somos um país rico, muitos NEETs ficam em casa e seus pais podem sustentá-los, ajudando-os e tentando conseguir um emprego, em alguns casos por anos”, explicou Magistretti.

“Provavelmente temos um número alto de casos não registrados porque essas pessoas não aparecem nas estatísticas públicas”, aponta.

O número oficial esconde muitas disparidades entre os jovens da Suíça. Os NEETs são muitas vezes pessoas vulneráveis que não conseguem se integrar ao longo de um período de tempo.

“A sociedade sempre é boa em ameaçar seus membros mais fracos e as pessoas não tratam bem os NEETs na Suíça”, disse Magistretti, que publicou recentemente um capítulo de livroLink externo sobre o assunto. “Não é tão fácil para os jovens quando você tem 18-27 anos e não consegue encontrar um lugar na sociedade, quando apesar de querer você se depara com vários obstáculos que não são transponíveis”.

Meier Magistretti aponta que muitos NEETs são de longo prazo. “Essas pessoas têm menos chances de sair dessa situação quanto mais tempo passam sem inserção no mercado formal. Elas também causam custos imensos, pois dependem de benefícios previdenciários, como previdência social e seguro por invalidez”, explicou a professora. “Elas também têm muitos problemas de saúde, às vezes também como consequência de serem NEETs. Isso pode incluir depressão e dependência de drogas e álcool”.  

Apoiar

“O apoio para NEETs existe na Suíça, mas é irregular – muitas vezes depende de qual cantão você mora – e nem sempre funciona”, diz ela.

“As taxas de sucesso de coaches e colocações de emprego, redes de gerenciamento de casos e programas são baixas para essa faixa etária, embora sejam bem-sucedidas para adultos. A razão está em um descompasso entre as muitas mas inadequadas ofertas que são impulsionadas pela lógica econômica e os problemas individuais e heterogêneos dos jovens adultos em situação de NEET”, observou Meier Magistretti.

Em seu capítulo publicado recentemente, a professora e seu colega sugerem que o sistema de apoio suíço funcionaria melhor se tivesse uma maior compreensão dos jovens adultos e de suas situações como um todo, em vez de se concentrar apenas em colocar uma pessoa no mercado de trabalho. O estudo também aponta a existência de um grande desejo por algum tipo de normalidade e inserção entre os NEETs pesquisados.

Efeito Covid?

Mas que efeito a pandemia de Covid pode ter nos números suíços de NEETs dos anos de 2021 e 2022?

A pesquisadora espera uma mudança. “A Covid provavelmente levou a um aumento no número de NEETs devido ao estresse psicológico, especialmente em populações vulneráveis de jovens”, disse ela.

O escritório do EurostatLink externo da União Europeia também indicou que espera que a desaceleração econômica devido à pandemia de Covid gere um número maior de NEETs em todo o continente.

As estatísticas oficiais suíças ainda vão demorar para serem publicadas. O FSO diz que ainda não tem informações suficientes para descrever a situação do período da Covid. Devido à revisão do inquérito sobre o qual são calculados os NEETs, espera-se que os resultados de 2021 sejam divulgados no segundo semestre de 2022.

Adaptação: Clarissa Levy
(Edição: Fernando Hirschy)