Professor suíço pesquisa fusão na Europa
Minh-Quang Tran, professor da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), assume chefia em projeto de pesquisa mundial sobre a fusão termonuclear.
O objetivo é construir um reator experimental em que todos os grandes países participam, inclusive Estados Unidos e Brasil.
“No domínio da fusão nuclear, nossas competências são marcantes e também percebidas por outros países”, se alegrava Charles Kleiber, secretário de Estado para a Ciência, durante a conferência anual de físicos europeus ocorrida em Montreux no verão passado.
Um ano depois, os membros do Acordo Europeu para o Desenvolvimento da Fusão Termonuclear (EFDA) acabam confirmando essa tese ao nomear para sua chefia o professor suíço Minh-Quang Tran.
Originário de Lausanne, mas nascido em Saigon, no Vietnam, Tran dirige desde 1999 o centro de pesquisas em física de plasmas da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL). Essa atividade será mantida pelo acadêmico, apesar das novas ocupações européias ocuparem mais 60% do seu tempo.
”É necessário fazer esse trabalho”
Como novo chefe da EFDA, Minh-Quang Tran será ao mesmo tempo responsável pelas experiências realizadas no “Joint European Torus”, a maior instalação de fusão do mundo, localizada próxima à Universidade de Oxford, na Inglaterra.
“Eu exitei muito antes de me candidatar”, admite o professor Tran. “Sou um pouco confuciano ou estóico, se você preferir. Porém eu coloco o dever e o serviço acima de tudo”. Para assumir suas novas funções européias, Minh-Quang Tran precisa também renunciar às aulas ministradas na Politécnica de Lausanne.
Programa mundial: até o Brasil faz parte
O local onde será construido o futuro reator experimental (ITER) ainda não está definido. Possivelmente a escolha cairá entre a França, Espanha, Japão e Canadá.
Na realidade, o programa europeu já foge da abrangência do “Velho Continente”. No início do ano os Estados Unidos passaram a fazer parte do projeto, acompanhando a China, Coréia, Canadá, Rússia, Índia e o Brasil.
Fonte energética do futuro
O reator experimental não servirá para a produção de energia mas primordialmente para a pesquisa. Segundo um estudo encomendado pelo governo britânico, serão necessários de 30 a 40 anos para começar a comercialização de energia elétrica produzida através da fusão termonuclear.
“Nessas condições nós não podemos pedir que as empresas de geração de energia invistam no nosso projeto”, explica o professor Tran.
Um dos maiores interessados no projeto é a própria indústria. Segundo afirmam vários cientistas, essa nova tecnologia poderá revolucionar a produção de energia na segunda metade do Século XXI.
“A fusão corresponde perfeitamente à perspectiva de desenvolvimento sustentável e durável”, explica Tran.
Com a urbanização crescente do planeta, o número de cidades com mais de um milhão de habitantes aumentará consideravelmente. Centrais elétricas à fusão de um gigawatt, cada uma, poderão satisfazer sem problemas a demanda de energia nessas metrópoles.
O combustível que alimentará as futuras usinas virá da água ou do lithium, um metal encontrado com facilidade e abundância em todo o planeta. Essa é a maior vantagem da nova tecnologia em relação ao uso do petróleo, cuja produção restringe-se a poucos países no mundo, além de ser uma energia não-renovável e poluente.
swissinfo, Marc-André Miserez
tradução de Alexander Thoele
– A fusão termonuclear é a energia de base do universo. Ela é responsável pela luz das estrelas.
– Nas centrais nucleares clássicas, grandes átomos são “quebrados” para produzir energia. Nas centrais de fusão nuclear, átomos leves são “fundidos”.
– O combustível de base para a fusão se encontra em abundância na superfície terrestre. Trata-se do deutérium, tritium e dois isopotos de hidrogênio.
– Para realizar a fusão, os átomos devem ser aquecidos até alcançar a temperatura de 100 milhões de graus. Nessa temperatura, a matéria se apresenta como uma espécie de “sopa” de partículas elementares, denominada “plasma.”
– Para evitar que o calor do plasma não vaporize as paredes do reator, ele é confinado num possante campo magnético.
– A exploração de centrais de fusão termoelétrica não obriga o transporte de material perigoso. A reação não produz dejetos radioativos. Somente as paredes do reator são irradiadas levemente, o que obriga a sua substituição periódica.
– O risco de uma explosão num reator de fusão termoelétrica é nulo. Em caso de escape, a reação se interrompe por si só.
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